O cinema surgiu a partir de observações sobre o funcionamento do olho humano, da persistência da imagem e a sensação do movimento. Desde a sua invenção, passou por várias etapas evolutivas que influenciaram as gerações de cineastas mais jovens. Hollywood foi historicamente o maior centro produtor de filmes, com estúdios capazes de fazer cinema como uma linha de montagem.
Eu fui um adolescente ávido de cultura cinematográfica, depois de muitos anos indo ao cinema ininterruptamente. Em um dado momento, queria saber tudo sobre esta forma de arte. Só que naquela época o acesso à informação não estava prontamente disponível como nós o temos hoje.
Uma das soluções que eu encontrei foi me matricular em um curso básico de cinema, que fora montado pelo Cineclube Nelson Pompeia, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Este foi, inclusive o último curso que o meu pai me deu, antes de falecer. As aulas aconteceram no auditório do Colégio Sacré Coeur, que fica na Rua Tonelero, no bairro de Copacabana.
Meus professores eram jornalistas, todos com elevada cultura sobre tudo relativo à técnica, roteiros, direção e crítica. As aulas sobre a história do cinema citavam cineastas inovadores como Murnau, Griffith ou Chaplin. E uma das principais recomendações que eu ouvi foi de que se deveria ver de tudo, com o espírito aberto.
Isso tudo acontecia em um momento onde o cinema de arte no Rio de Janeiro teve um enorme impulso, graças principalmente à iniciativa da Companhia Cinematográfica Franco Brasileira, que havia aberto uma sala de arte chamada de Cine Paissandu, espécie de templo de estudantes e cinéfilos, que depois caracterizaram uma plateia denominada de “geração Paissandu”.
Em tempos remotos, a melhor forma de se ensinar assuntos como o cinema, que é uma arte essencialmente audiovisual, era projetar documentários, e assim foi feito pelos meus professores.
Foi pensando nisso que eu resolvi montar um vídeo ultra curto sobre a origem do cinema, e no qual eu tento explicar como surgiu Hollywood, que é até hoje o maior centro produtor do chamado cinema comercial, e local onde a maioria das inovações tecnológicas desta mídia foi criada.
De fato, os estúdios americanos inovaram em formatos como o filme widescreen, Cinerama, bitolas largas como o 70 mm, CinemaScope, VistaVision, etc., além do som estereofônico multicanal de altíssima qualidade.
Nosso mercado exibidor acompanhou a maioria desses avanços, trazendo entretenimento sadio, ao lado do cinema mais contemplativo, disponível nas salas de arte e nas cinematecas dos museus.
Longe de esgotar esse assunto, este meu vídeo procura dar uma ideia de como o cinema surgiu e como Hollywood se tornou o grande centro produtor de cinema:
Mesmo que o cinema tradicional possa parecer estar esteticamente morto, ele continua sendo a base na qual todos os projetos atuais se espelham. Ou seja, tudo aquilo que os cineastas pioneiros fizeram no passado longínquo continua valendo. Eu canso de assistir filmes atuais com fortes evidências na narrativa que demonstram sem dúvida alguma que nada de novo foi alegadamente criado em termos de linguagem e roteiro.
O que, na prática, significa dizer que cinéfilos e estudantes jamais irão perder tempo estudando a história e a evolução do cinema. Até depois que o chamado “studio system” foi desmontado os cineastas mais jovens declararam ter pesquisado a forma como os antigos filmes eram feitos, e nunca, notem bem, negaram ter tido uma profunda influência dos antigos roteiros e métodos de filmagem.
Isto porque foi em plena vigência do studio system que muitos cineastas conseguiram se livrar dos grilhões dos produtores controladores e criaram cinema de alta qualidade, deixando dúzias de exemplos de como é possível se criar arte embaixo do autoritarismo comercial.
É público e notório que muita coisa fabricada durante o studio system ainda continua por aí, para quem quiser ver. Naquela época a vida privada de muitos artistas sob contrato era controlada por executivos dos grandes estúdios, alguns dos quais fizeram um enorme esforço para mitificar celebridades e impedir que qualquer conotação negativa e contrária à presença desses artistas nas telas pudesse manchar as respectivas reputações.
O studio system de hoje chama-se Internet. Todo santo dia centenas de sites espalham fofocas e boatos para construir uma personalidade fictícia de alguém. E, acredito eu, pouca gente se dá conta como se fatura alto através deste tipo de promoção.
E por aí se vê que a história se repete, apenas os métodos mudam. Acho que antigamente a ilusão criada das celebridades era bem mais sutil do que a de hoje, talvez porque, na ânsia de se promover a venda de uma personalidade ou produto, se recorre hoje a todo tipo de baixaria!
Não há, portanto, perda de tempo em se analisar o passado, de maneira a poder enxergar melhor o momento atual. Idealmente, lições do passado deveriam ser aprendidas, mas as mudanças culturais são muito lentas, sem contar na ausência de motivações que pudessem mover as pessoas em aprender mais sobre qualquer assunto. Outrolado_
. . .
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.