Documentário sobre Sérgio Mendes revela as mudanças na sua trajetória

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Um documentário exibido nos canais e no streaming da HBO mostra a trajetória de Sergio Mendes, desde os tempos do Bossa Rio até a formação do Brasil 66, que fez imenso sucesso desde o seu lançamento.

 

A HBO apresentou e ainda mantém em seu serviço de streaming o documentário “Sérgio Mendes: No Tom Da Alegria”, onde o pianista conta as principais passagens da sua vida e a sua evolução para um estilo de música, digamos, mais comercial e palatável principalmente para o mercado fonográfico norte-americano, mas que redundou em imenso sucesso no mundo todo!

 

 

Na década de 1960 a Bossa Nova ainda era a grande novidade, e eu entrei como ouvinte deste gênero de música na minha adolescência, me interessando devotamente às músicas do Tom, do Tamba Trio, dos Cariocas, entre outros grandes expoentes do movimento. Mais ou menos pelo meio dessa década eu comprei o elepê da Philips onde estavam Sergio Mendes e o Bossa Rio, e cuja capa eu reproduzo a seguir:

 

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Este disco marcou época. Há uma mistura fina de Bossa Nova e Jazz, com arranjos de Tom e do próprio Sergio Mendes, cercada de músicos que exibiam uma formação diferente de tudo que eu havia ouvido naquela época. Este disco foi lançado também na América com o exótico título The Beat of Brazil, pela Atlantic Records, e com a ordem das faixas diferente do original gravado aqui em 1964. Na época, um amigo meu recebeu o disco americano e a gente pode comparar o som das faixas.

A passagem de Sergio Mendes neste cenário onde a Bossa Nova começava a ter imensa repercussão no exterior é mostrada sucintamente no documentário. Por volta de 1962 a Audio Fidelity importou todo mundo para dar um concerto, cheio de falhas, por sinal, no Carnegie Hall e este acabou sendo o momento onde um monte de músicos de Jazz norte-americanos aguardavam ansiosamente os músicos brasileiros trazendo ao vivo um estilo novo de música que tinha consigo elementos de ritmo e harmonia que certamente os deixou intrigados e provavelmente curiosos de ver pessoalmente!

E não foi sequer por outro motivo que o grande saxofonista Cannonball Adderley chamou rapidamente Sergio e o Bossa Rio para gravar um disco com o título de Cannonball’s Bossa Nova, muito agradável de se ouvir, servindo de mais uma evidência de como músicos daquele quilate estavam descobrindo o novo estilo de música produzido pelos jovens brasileiros.

Vejam que, a despeito do discurso maldoso daquela época, onde se afirmava que a Bossa Nova era um Jazz disfarçado de samba, estas reuniões de músicos de Jazz em Nova York provou exatamente o contrário.

Igualmente, mostrou-se uma fortíssima admiração pelas músicas feitas por Tom Jobim e companhia, que influenciaram de forma imediata e perene o espírito dos grandes músicos de Jazz, com algo novo que trazia uma mistura de sentimentos, tipo lirismo, harmonias, em composições complexas e ao mesmo tempo de simples construção.

Aquela complexidade simples, que foi natural para os compositores brasileiros, deixou os compositores e músicos americanos de boca aberta, isso admitido por vários deles. A batida da Bossa Nova propriamente dita também os deixou desnorteados. Recentemente, os músicos do antológico disco Jazz-Samba, com Stan Getz e Charlie Byrd, declararam que a nova batida foi difícil de ser assimilada quando os músicos brasileiros chegaram por lá.

Sergio Mendes e o Brasil 66

E talvez tenha sido por causa da batida completamente diferente que quando Sergio Mendes resolveu mudar o seu estilo de tocar, mas mantendo bateristas e percussionistas brasileiros, como João Palma ou Dom Um Romão, todas as modificações efetuadas desde então continuaram impressionando os compositores, arranjadores e músicos locais, e tal fato é fartamente ilustrado neste documentário.

Sergio Mendes descobriu a sensualíssima Lani Hall, que foi a solista principal do seu primeiro disco na A&M Records, com o título Herb Alpert Presents Sergio Mendes & Brasil ’66. Este disco, aliás, surgiu por aqui através da Fermata, em prensagem mono, e fez muito sucesso.

Herb Alpert, um dos proprietários da A&M Records, ficou não só encantado com o grupo de Sergio Mendes, a ponto de se colocar no título do disco o seu nome como introdutor do novo estilo de música. Além disso, encantou-se também com Lani Hall (e quem iria culpá-lo?) e acabou se casando com ela. A união dos donos da A&M com Sergio Mendes ainda iria produzir uma dúzia de novas gravações, todas elas dentro do espírito da primeira, algumas até brilhantes como Fool On The Hill.

O Brasil 66 mudou de formação várias vezes, mas sempre mantendo a mesma consistência. Lani Hall foi depois substituída pela versátil Gracinha Leporace, com quem Sergio se casou pela segunda vez. Quem nunca privou da vida pessoal do músico e do homem poderá fazê-lo assistindo ao documentário mostrado pela HBO.

Acho eu que a memória dos músicos que marcam época sempre precisou ser mais detalhada, mas talvez não ao ponto de vasculhar dados da sua vida pessoal, e neste caso foi o próprio Sergio que se determinou a fazê-lo.

Há uma confessa admissão de troca da Bossa Nova inicial para um jeito de tocar bem mais comercial e como outros músicos seus contemporâneos, como por exemplo Marcos Valle, partiu para novas fórmulas de arranjos radicalmente diferentes daquelas nas quais iniciaram suas vidas, particularmente na do movimento bossa novista.

Não deixa de ser uma forma honrada de sobreviver, apesar do risco inevitável de não agradar aos fãs mais antigos, que se habituaram aos estilos originais da música por eles tocada.

Eu, particularmente, não condenaria evolução alguma, porque afinal gosta e ouve quem quiser, mas a minha âncora musical continua a ser o Bossa Rio, grupo que, infelizmente, não teve a repercussão merecida depois do seu tempo!

Sorte nossa de ver preservada todas essas gravações, e não poderia ser diferente, porque a par do seu valor comercial, elas representaram muito bem uma época das mais importantes da repercussão dos feitos brasileiros pós Carmem Miranda e Ary Barroso no exterior! Outrolado_

 

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Afinal, quem criou a Bossa Nova?

 

Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim

 

Resguardando “Chovendo na Roseira”

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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