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Existem muitos momentos onde se tentou fazer filmes com tecnologia avançada, mas os recursos da época às vezes provocavam um retrocesso aos métodos antigos. Filmes deste tipo, recuperados, permitem uma visão história clara sobre a evolução da linguagem do cinema. É o caso de Black Hole.

 

Não é incomum filmes que trouxeram grande público aos cinemas desaparecerem sem ninguém notar. Com a onda de restaurações no passado distante e depois com as transcrições para home vídeo, ainda assim alguns filmes nunca viram a luz do dia.

Existe um aspecto preservacionista importante neste aspecto, que consiste em recuperar películas feitas com um critério definido de produção, independente da qualidade final de cada projeto. Para cinéfilos ou estudiosos, esta preservação envolve não só o trabalho de arte dos atores, mas principalmente os métodos de filmagem e/ou de gravação do som.

Pois outro dia mesmo eu desenterrei da minha coleção um antigo DVD do filme “The Black Hole” (no Brasil, literalmente “O Buraco Negro”), filme de ficção científica, que parece ter sido feito para um público mais jovem, mas com um final enigmático, até mesmo para os adultos fãs do gênero.

 

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A antiga edição em DVD americana continua por aí à venda. O filme saiu em Blu-Ray, mas na forma de uma edição exclusiva para quem é membro do Disney Movie Club. Quem não é membro vai ter que recorrer às vendas do tipo Ebay, onde o disco é bem mais caro!

 

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O trailer não oficial é mostrado a seguir:

 

 

A produção é típica dos estúdios Disney. Lá por 1979, Star Wars já tinha tido a repercussão que lhe garantiria ser copiado ou imitado como ficção científica a partir daquela época. Mas, no cinema o que não se cria se copia sem nenhum pudor. The Black Hole capitaliza no público de Star Wars, mas está muito mais afeito a enredos do tipo “20 000 Léguas Submarinas”. Quem viu este filme, entende o que se passa, em termos da chegada de cientistas que depois se maravilham com algo que nunca tinham visto antes.

O filme em si também foi copiado em produções posteriores. Existe uma notória referência aos videogames em várias cenas. E como os filmes do Disney tem sempre que ter um vilão, neste filme o vilão é bem mais moderno, na figura do robô Maximilian.

O orçamento foi generoso, mas faltou a tecnologia no que se pretendia fazer. O estúdio, entretanto, fez um baita esforço para transpor problemas técnicos. Desenvolveram uma câmera acoplada a um computador, para filmar algumas cenas.

O processo fotográfico foi desenvolvido com o formato Technovision, em 35 mm anamórfico, com compressão de 2.0, e relação de aspecto 2.39:1 scope. O filme foi também lançado em 70 mm, com corte para 2.20:1 Panavision. O som, originalmente em Dolby Stereo, de 4 canais, foi masterizado em disco com Dolby Digital 5.1 e mantido neste formato 5.1 no Blu-Ray.

Um conjunto de lentes Technovision pode ser visto na ilustração a seguir. O processo foi usado em uma enorme quantidade de filmes:

 

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A criação complicada dos cenários ficou à cargo do hoje lendário, e antigo colaborador do estúdio, Peter Ellenshaw, cujo filho, Harrison, também trabalhou com ele na elaboração do chamado “matte painting”, que são designs que servem de background, em compósitos que dão a ilusão dos atores estarem em um cenário que não existe fisicamente. Compósitos são usados até hoje, porém em ambiente digital.

Em alguns momentos do filme dá para perceber o halo em torno dos atores, que é fruto de um erro nos compósitos com o matte painting e recursos similares. Embora o estúdio tenha avançado muito neste tipo de técnica (vide Mary Poppins) ainda assim é possível visualizar o halo contendo o erro.

O filme em si

Mais uma vez um diretor de TV, Gary Nelson, com pouca experiência em cinema, foi convocado pela produção da Disney. Curiosamente, nos créditos do início do filme somente a distribuidora (Buena Vista) é mencionada. A produção incluiu uma música de abertura sem imagem, já na época incomum nas salas de cinema. A abertura faz parte do DVD e na edição corrigida em Blu-Ray.

Teria sido o diretor Gary Nelson que foi para Viena com o objetivo de convencer Maximilian Schell a fazer o papel principal do filme, o cientista Dr. Hans Reinhardt. Schell estava dirigindo um filme naquele momento, mas concordou em fazer o papel, desde que Nelson garantisse que ele poderia editar o seu filme, quase pronto, em Hollywood, o que foi feito.

Maximilian Schell, nesta altura da sua vida, havia sido ator consagrado de teatro e cinema, e dirigido vários filmes, um deles, não me lembro qual, eu assisti na antiga cinemateca do MAM-RJ. Ele foi também recipiente de um Oscar, no drama Julgamento em Nuremberg, de 1961.

Hans Reinhardt é um personagem obsessivo com a premissa por ele vislumbrada, de que ao penetrar no buraco negro, ele alcançaria um nível de conhecimento nunca antes atingido. O seu comportamento é próximo de um homem insano, que fará qualquer coisa para atingir os seus objetivos.

A tripulação da nave exploratória Palomino é atraída para a Cygnus, que era considerada perdida. Uma vez dentro da Cygnus eles se dividem entre os mistérios da nave e a fascinação pelos avanços científicos do Dr. Reinhardt.

O robô chamado de V.I.N.CENT se comunica por percepção extra-sensorial, com a Dra. Kate McCrae, e a avisa dos perigos existentes na Cygnus. A voz inconfundível do robô é a do ator Roddy McDowell, cujo nome não aparece nos créditos.

Críticos afirmam que V.I.N.CENT seria uma mistura de R2D2 e C3P0, de Star Wars. As cenas em que o robô se envolve em disputas de tiro ao alvo fazem uma alusão direta aos videogames da época, ainda incipientes tecnicamente.

A pretensão de tornar a produção em um filme para as plateias jovens se perde na construção do roteiro, que mostra um ambiente lúgrube, cheio de mistério, e com aspectos de um filme de terror.

Historiadores dizem que o roteiro deixou o fim do filme em aberto, mencionando apenas que a Cygnus entrou no buraco negro, sem explicar o que aconteceu depois. Mas, o que vê no final do filme foi a inserção de uma trajetória que levaria Hans Reinhardt, que se junta ao seu robô Maximilian, para uma espécie de inferno, onde são vistos no topo de uma montanha. Há neste ambiente um desfile de pessoas caminhando para algum lugar, no meio do fogo.

E nas cenas finais, uma figura esotérica, semelhante a um anjo, voa de costas em um trajeto estranho, aliás visto depois em outros filmes que falam sobre céu e inferno.

 

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A produção, que eu me lembre, nunca explicou este final improvisado, tal como Kubrick nunca explicou o final de 2001. Aquela cena com uma figura voando no espaço do que parece ser uma catedral foi mais ou menos repetida em “What Dreams May Come” (no Brasil, “Amor Além da Vida”), de 1998.

Tal como em “2001”, o final fica a critério da interpretação de cada um. Pode ser que o clima de suspense e terror no desenvolvimento do roteiro seja uma sugestão de que o buraco negro leva quem entra dentro para um lugar sombrio. O que aquelas pessoas estão fazendo lá continua para mim sendo um mistério sem solução.

A propósito: o meu antigo DVD vem com uma tranca DRM CSS muito estranha, e é dotado de um programa de computador, chamado de Interactual Player, cujo objetivo seria permitir a interatividade entre usuário e o conteúdo do disco. Pessoalmente, eu acho uma temeridade instalar programas que são “oferecidos” em qualquer mídia, mesmo que, como parece ser neste caso, inofensivo. Outrolado_

 

. . .

 

Walt Disney em Fantasia inaugurou o som estereofônico multicanal no cinema

 

2001: Uma Odisseia No Espaço, em versão Blu-Ray 4K, Dolby Vision HDR

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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