Os desenhos recuperados do genial cartunista Tex Avery

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Um grande número de desenhos de Tex Avery sai lançado no volume 3 da série Screwball Classics, infelizmente não editada no Brasil.

A Warner Brothers, na sua série “Archive Collection”, completou agora o terceiro volume das edições “Tex Avery Screwball Classics”. Os volumes 1 e 2 saíram já há algum tempo, mas a continuidade foi prejudicada por uma série de fatores locais. Infelizmente, nenhum disco da Archive Collection foi lançado no Brasil, obrigando o colecionador a fazer um esforço financeiro para importa-los.

Durante muitos anos os lançamentos dos curtas de animação da M-G-M em DVD sofreram incontáveis mutilações, todas em nome da censura imposta pelo “politicamente correto”. Essas mutilações cortaram cenas e sequências onde aparecem paródias raciais ou hábitos contra a saúde, como, por exemplo, o personagem fumando um cigarro.

Ao cortar estes desenhos, a Warner recebeu uma saraivada justificada de protestos de fãs de animação clássica, os chamados “cartoons”, cujo espírito sempre foi o da paródia e da crítica aos costumes daquela época!

Eu me arriscaria a dizer que nenhum cartunista daquela época tinha intenções de discriminações racistas, ao animar paródias, mas sim de constatar a atitude do público norte-americano. E no final, a Warner acabou reconhecendo que isto era verdade. Tanto assim, que pararam com a censura dos cortes, e inseriram um aviso nos discos, onde tentam esclarecer a situação daquela época:

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Mesmo assim, se lermos com atenção o que foi escrito pode-se facilmente achar que os cartunistas de então eram racistas, e não criadores de paródias.

O tipo de cena que ilustra o suposto racismo está no curta “Happy-Go-Nutty”, onde o personagem come uma maçã com uma bomba dentro, e depois que ela explode o seu rosto parece o de um indivíduo negro:

 

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Este tipo de gag aparece diversas vezes nos desenhos da série Tom & Jerry, os quais foram anteriormente cortados na censura politicamente correta da Warner.

O gênio criador

Tex Avery foi para mim, sem sombra de dúvida, um gênio da animação, e que encontrou na M-G-M o seu melhor momento, porque o estúdio lhe deu a estrutura técnica da qual ele fez uso com enorme criatividade, e influenciou animadores como Joseph Barbera e William Hanna, e muitos  outros. Avery deixou marcada a sua passagem por dois outros estúdios distintos, como o da própria Warner, onde criou Bugs Bunny (o Pernalonga), e no de Walter Lantz, onde começou e terminou a sua trajetória mais significativa.

Tudo na M-G-M funcionava como devia, desde a captura fotográfica com brilhante Technicolor, passando pela gravação das trilhas sonoras com a notável criação de Scott Bradley, e com a participação constante dos seus animadores, que sabiam o que ele queria e permitiram a Avery levantar voo naqueles exageros clássicos das expressões corporais dos personagens.

A linguagem de Tex Avery não é só dinâmica, com seu ritmo frenético, ela é principalmente recheada de gags criadas pela sua percepção do ambiente. Essas gags foram profusamente copiadas, e podem servir de referência no que existe até hoje da animação dos cartoons.

A M-G-M chegou na fase do CinemaScope com trilhas estereofônicas Perspecta, mas aparentemente a maioria delas foi perdida. Muitos desenhos foram relançados neste formato, e/ou com ligeiras modificações nos roteiros.

A recuperação desses curtas e lançada pela Warner não é completa, mas reúne um bom catálogo dos melhores desenhos da fase M-G-M. Para mim é difícil escolher quais os melhores feitos por Tex Avery, mas, à guisa de ilustração, eu citaria dois que são fantásticos em termos das gags e das expressões corporais:

Swing Shift Cinderella” – desenho no qual o seu tradicional lobo (paródia dos homens mulherengos) se sente atraído de forma alucinada e persegue Cinderela, mas é perseguido pela “fada madrinha”, que corre atrás dele o filme todo.

Deputy Droopy” – o seu personagem Droopy (no Brasil, “Soneca”) resguarda um saco com muito dinheiro, guardado em um cofre, e que é vítima de dois ladrões que sabem que o dinheiro está lá. O filme tem uma coletânea impagável de gags onde os ladrões, por não quererem fazer barulho e alarde de suas presenças na delegacia, correm para um morro vizinho onde gritam de dor.

O “delegado” Droopy aparece como um herói menosprezado em todos os curtas, uma espécie de vingança de um personagem desacreditado pela sociedade. A criação mostra um personagem sonolento, de baixa estatura perante os seus oponentes, mas que nunca é vencido.

A maioria dos desenhos da M-G-M gira em torno de perseguições, de um personagem forte contra um suposto personagem frágil, mas este raramente sai derrotado. É como se o animador nos dissesse que os poderosos reinam supremos, com arrogância e opressão, mas os seus dias de derrotados e vencidos chegarão! Outrolado_

 

. . .

Tex Avery, o maior gênio do cinema de animação

 

Tom & Jerry e os heróis das matinês

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. Bom dia, Paulo. Lembranças alegres dos matinés do domingo. Curioso quando você cita que alguns desenhos foram exibidos em CinemaScope (16:9) . Por aqui vimos apenas no 1.33:1 conhecido também como tela quadrada. Quando um filme era exibido em Scope(outros gêneros) o pessoal chamava de tela larga e era o formato preferido por muita gente. Quando tiver tempo, fale um pouco dos seriados e me vem a mente “O misteriosol Dr. Satâ” Lembra-se? Que torcida da molecada para que os capítulos chegassem ao final.

    1. Oi, Celso, eu assisti à maioria dos desenhos em CinemaScope no próprio Metro-Tijuca, dependendo do filme em exibição em um dado momento.

      A M-G-M havia embarcado no CinemaScope porque a Fox licenciou o formato. Todos os filmes desta época foram rodados em 2.55:1, sem exceção.

      Os cartunistas refizeram alguns desenhos originalmente no formato da academia migrando-os para o novo formato. Acrescentaram som Perspecta, que o Metro nunca passou, que eu me lembre, embora eles tivessem o decodificador.

      Sobre seriados, eu nunca segui nenhum, nem quando alguns deles passaram na YV, e assim infelizmente não poderia lhe atender, sinto muito, amigo.

  2. Bom dia, Paulo. Lembranças alegres dos matinés do domingo. Curioso quando você cita que alguns desenhos foram exibidos em CinemaScope (16:9) . Por aqui vimos apenas no 1.33:1 conhecido também como tela quadrada. Quando um filme era exibido em Scope(outros gêneros) o pessoal chamava de tela larga e era o formato preferido por muita gente. Quando tiver tempo, fale um pouco dos seriados e me vem a mente “O misteriosol Dr. Satâ” Lembra-se? Que torcida da molecada para que os capítulos chegassem ao final.

    1. Oi, Celso, eu assisti à maioria dos desenhos em CinemaScope no próprio Metro-Tijuca, dependendo do filme em exibição em um dado momento.

      A M-G-M havia embarcado no CinemaScope porque a Fox licenciou o formato. Todos os filmes desta época foram rodados em 2.55:1, sem exceção.

      Os cartunistas refizeram alguns desenhos originalmente no formato da academia migrando-os para o novo formato. Acrescentaram som Perspecta, que o Metro nunca passou, que eu me lembre, embora eles tivessem o decodificador.

      Sobre seriados, eu nunca segui nenhum, nem quando alguns deles passaram na YV, e assim infelizmente não poderia lhe atender, sinto muito, amigo.

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