Ao contrário do que propagam os alarmistas, o 5G é uma tecnologia que melhora as condições de uso simultâneo de um número muito maior de dispositivos e a longo prazo vai propiciar que mais pessoas tenham melhor acesso às redes.
Eu passei as últimas semanas debruçado em cima de um assunto com uma quantidade absurda da chamada sopa de letrinhas, produzida por quem quer veicular tecnologia, mas o faz de forma desastrada. Trata-se da Internet móvel 5G e a tecnologia que a acompanha. A seguir, eu pretendo tentar desenrolar o assunto. Espero que dê certo e não volte a cair na mesmice!
Por definição, uma rede móvel criada para telefones celulares é obrigatoriamente uma rede sem fio, e assim qualquer comando de acesso a informações é feita através de um sinal de rádio transmitido e recebido por uma torre de uma operadora. E no caso específico do 5G, a quinta geração deste tipo de comunicação, o sistema é denominado “5G RAN”, ou “5G Radio Access Network”.
As aplicações desta nova tecnologia são inúmeras, indo desde o usuário doméstico até o corporativo. Se completada, ela daria acesso à rede com uma velocidade de até 10 Gbps, ultrapassando assim a banda larga convencional normalmente oferecida pelas operadoras.
O problema é que, até recentemente, as redes para telefones celulares estavam na quarta geração (4G), que chegou a evoluir e ficou bem melhor (por exemplo, 4G LTE), mas se mostrou incapaz de ser mais aprimorada do que foi. E a consequência natural desta incapacidade se torna evidente no limite da velocidade de trânsito de dados nos telefones até então disponíveis. Porém, por causa da maciça presença de telefones 4G em uso, a mudança operacional não poderia ser repentina.
Primeiro, seria preciso implantar a nova rede 5G mantendo a anterior (4G e suas variantes aprimoradas) intacta. A transição teve que ser feita por etapas. Na primeira delas, a tecnologia usada foi a do 5G DSS (DSS = Dynamic Spectrum Sharing, ou Compartilhamento Dinâmico do Espectro – de frequências de rádio). Na prática, DSS significa manter as redes 4G e 5G funcionando com compartilhamento de sinal. A existência deste compartilhamento terá reflexo na limitação da velocidade de acesso às redes das operadoras.
Na segunda etapa, e ainda mantendo a rede 4G, o sinal 5G passa a ser transmitido com a infraestrutura da rede 4G, mas acrescentando novos componentes exclusivos da rede 5G, o que torna a velocidade de operação bem próxima do 5G puro. Pelo fato de ainda usar componentes da rede 4G, este modo de operação é batizado de 5G NSA (Non-StandAlone), ou 5G não separado.
O 5G NSA já é um modo de operação 5G real, com ampla velocidade de acesso. A sua limitação operacional, através do seu vínculo com a rede 4G, fica restrita à latência, menos eficiente do que a do sinal em trânsito 5G puro. Como latência, entenda-se a velocidade entre o envio de um sinal e a sua resposta. O conceito é exatamente o mesmo aplicado para a classificação da memória RAM. Quanto menor for a latência, mais rápida será a resposta a um comando ou sinal.
Por outro lado, todo e qualquer aparelho de telefone celular 5G precisa incluir a tecnologia NSA, para evitar a incompatibilidade de recepção de sinal entre uma torre e outra das operadoras. O fato do 5G NSA ainda usar parte da tecnologia 4G, o usuário pode continuar usando mesmo cartão SIM do sinal 4G. O celular 5G reconhece automaticamente a rede 5G uma vez o SIM 4G instalado, e, em princípio, nada da conta do usuário se altera.
A terceira e última etapa está na implantação da tecnologia sem compartilhamento com o 4G, por isso chamada de 5G SA (StandAlone), ou seja, 5G sozinho! Por enquanto, algumas operadoras irão ou não cobrar a mais na conta para o uso desta tecnologia, mas como a diferença entre os 5G NSA e 5G SA não é tão gigantesca assim, o usuário que não precisa tanto da rede móvel 5G-5G pode ficar confortável usando apenas o 5G NSA, pelo menos até que as operadoras ofereçam o sinal 5G SA sem custo nas contas.
Ambos os sinais 5G NSA e 5G SA usam uma faixa de frequência exclusiva, chamada de 5G NR (NR = New Radio) o que permite que um telefone celular possa receber as duas tecnologias. Fica a critério da operadora trocar ou não o cartão SIM para o 5G SA.
Para chegar ao 5G SA uma série de modificações na rede precisa ser feita, como por exemplo, programar e usar um núcleo (“core”) com completa dedicação ao trânsito de dados 5G. Geralmente, o núcleo é implantado na nuvem, quer dizer, em um servidor separado. A operacionalidade é separada em rede, o link chamado de 5G RAN (Radio Access Network, ou Rede de Acesso por Rádio). A tecnologia 5G é complexa, e não será objeto deste artigo. Os interessados podem, entretanto, achar muita informação de engenharia 5G na Internet.
Em resumo, pode-se arbitrariamente dividir os tipos de rede móvel atualmente em uso, de acordo com a tecnologia operacional:
Rede Móvel | Tecnologia de Transmissão |
4G/4G LTE | 4G |
5G DSS | 4G + 5G compartilhadas |
5G NSA | 4G/5G separadas |
5G SA | 5G |
O uso do 5G na prática
Durante a minha pesquisa inicial do 5G, prévia à uma aquisição de um telefone celular novo, eu esbarrei em uma quantidade absurda de desinformação, algumas delas inclusive defasadas e restritas ao andamento ainda incompleto da implantação do 5G no ano passado, e que não se aplicam mais ao estágio atual de operação das novas torres. Neste aspecto, é recomendável recorrer ao site da operadora para conferir a abrangência da cobertura em qualquer das modalidades de transmissão.
Pior ainda, creio eu, é sugerir que as operadoras estão mentindo para o usuário, chegando ao ponto de se afirmar que o 5G oferecido aqui é fictício! Com base na descrição das várias etapas da tecnologia 5G descrita acima, eu me sinto confiante em afirmar que este alarmismo é fruto de observações equivocadas de uma pessoa que não se informa direito ou está exagerando propositalmente comentários desqualificantes e com intenções obscuras.
Eu li e vi dezenas de textos e vídeos falando todo tipo de informação que não leva a lugar algum e que acaba confundindo quem precisa se informar a respeito da tecnologia 5G. E acabei fazendo, mesmo com muita confusão a respeito do assunto, o que o bom senso me ditou e o que eu sugiro ao leitor fazer também: ao trocar de celular, comprar um modelo com todas as tecnologias disponíveis: 4G, 5G DSS, 5G NSA e 5G SA. Assim, a qualquer momento, ele ou ela podem se servir do sinal que estiver mais próximo, em qualquer momento do futuro.
Outro aspecto importante na escolha de um celular novo, em termos de tecnologia móvel, é o seu adaptador Wi-Fi. Atualmente, a melhor tecnologia Wi-Fi disponível é a 6, e se o roteador de casa usa esta tecnologia, consegue-se obter o melhor sinal possível na rede doméstica local. Abaixo se pode ver uma captura com a medição de sinal do meu celular novo, que suporta até Wi-Fi 6/6e:
Andando em uma das ruas da vizinhança, e medindo rapidamente a mesma coisa em trânsito, eu anotei o resultado com o sinal em torno de 1 Gbps. O celular detectou a rede 5G, porém não era possível saber a distância entre a torre de transmissão da operadora e o local onde eu estava. De qualquer forma, 1 Gbps é mais do que suficiente para demonstrar a capacidade da rede 5G.
A operadora não mais especifica que classe de 5G está sendo transmitida, se NSA ou SA, talvez porque, na prática e com a proximidade dos valores medidos, a diferença móvel pode se tornar irrelevante. E, da mesma forma, o celular, pelo menos no modelo que eu escolhi, sinaliza “5G” na tela, sem especificar se o sinal é 5G NSA ou não. Como eu não troquei o chip da operadora, fica entendido que o sinal medido na rua é o capturado da tecnologia 5G NSA.
Acho eu até agora que eu gostaria de fazer uso de uma tecnologia deste porte sabendo onde eu estou pisando, e acredito que com o usuário que não se interessa por detalhes da nova modalidade de rede por rádio esta confusão poderia passar transparente no momento de decidir se continua com o mesmo plano ou contrata um novo na sua operadora.
O uso extenso de telefonia celular para acesso à Internet pode ser feito em uma rede Wi-Fi local construída dentro de casa pela operadora ou pelo usuário. A tecnologia móvel, 4G e/ou 5G, será preferencialmente usada fora de casa. Os telefones celulares normalmente acessam primeiro a rede local e somente mudam para o acesso remoto, quando o sinal desta rede fica fora de alcance. O processo de mudança em si passa transparente para o usuário.
Portanto, na hora de contratar um plano é prudente antever onde a linha telefônica móvel será mais usada. As operadoras se sentem no direito de bloquear o acesso à sua rede móvel, caso o consumo de dados seja esgotado.
Por outro lado, o consumo de dados depende muito do aplicativo usado, e, neste caso, é o usuário que tem que ter cautela quando roda um aplicativo demandante fora de casa. O fato do 5G estar em operação apenas significa que os dados chegam mais rápido, nada tendo, em princípio, a ver com um consumo de dados aumentado.
Mas, ao contrário do que propagam os alarmistas, o 5G é uma tecnologia que melhora as condições de uso simultâneo de um número muito maior de dispositivos. A longo prazo o 5G vai propiciar que mais pessoas tenham melhor acesso às redes, e com mais chances de aproveitar o sinal disponível. Espera-se que com um custo menor na conta!
Post script:
Atualizando em 28/04/2023:
Este texto foi elaborado em fevereiro deste ano, mas precisou ser acrescentado de algumas informações a respeito do 5G, as quais julgo serem úteis a qualquer usuário que esteja enfrentando as mesmas dificuldades que eu.
Eu passei vários anos do passado recente usando um celular Motorola modelo One Fusion +, dotado de bateria com 5000 mAh de capacidade, capaz de fazer o celular rodar cerca de 3 dias sem precisar ser recarregado, levando em conta o relativo pouco uso do aparelho durante o dia.
Em fevereiro deste ano eu aposentei o One Fusion +, e parti para o modelo Edge 30 Fusion, mais moderno e sofisticado. Com este celular, eu não tive nenhum problema em achar o sinal 5G da operadora, espalhado na minha região.
O Edge 30 é montado com uma bateria de 4400 mAh, ainda assim com capacidade suficiente para permanecer carregada por um bom período de tempo. Mas, não foi o que aconteceu: desde o início ela permaneceu carregada por, no máximo, 24 horas, na maioria das vezes menos do que isso, apagando totalmente logo a seguir.
Nada em aplicativos instalados tinha sido alterado. Na inicialização de um celular novo, a simples conexão por cabo USB entre o modelo novo e o antigo permite que o novo instale tudo o que o antigo já tinha, facilitando assim a vida do usuário.
A drenagem da bateria havia se tornado inexplicável. Existem, pela Internet, pilhas de receitas de como economizar a bateria dos celulares, nenhuma delas resolveu a descarga precipitada do meu aparelho.
Antes de seguir, um adendo: todo smartphone roda um sistema operacional, podendo assim consumir energia a partir de funções no background e quando se roda determinados aplicativos, alguns dos quais podem exigir mais potência da bateria.
Só que, neste caso, os aplicativos e o número de horas em uso não justificavam a diferença de descarregamento, apesar da diferença de capacidade das respectivas baterias.
Sem conseguir uma solução, eu entrei em contato com a oficina autorizada à qual eu já havia recorrido antes, na expectativa de testar corretamente a bateria, para ver se ela tinha vindo com defeito de fábrica.
Depois que eu expliquei o que estava havendo, a atendente me pergunta se o celular era 5G, e depois se o meu chip (SIM Card) era da TIM. A seguir, ela me relata que em casos como o meu, existe um erro operacional nos chips da TIM que, quando operam em 5G, ficam o tempo todo procurando o sinal da torre, e esta procura drena a carga da bateria, tal como descrevi.
A solução? Entrar nas configurações, procurar as opções Rede e Internet, depois Rede Móvel, e Tipo de Rede Preferida. Ali se vai achar a primeira opção como 5G (recomendada, é claro), e logo abaixo 4G, que deve ser agora a rede escolhida. Simples assim!
Depois de feito isso, a carga do celular está cerca de 3 dias com cerca de 60% disponíveis. Existe, é claro, a possibilidade de se instalar aplicativos de poupança de carga adequados, colocar o modo de economia de bateria ativo, etc. Mas, fora dessas providências, quase nada de útil se pode fazer em situações como esta.
Eu sempre tive em alta estima a opinião do técnico, principalmente o chamado técnico de rua, porque ele ou ela enfrentam diariamente problemas e arrumam soluções que nem o pessoal da engenharia tem conhecimento ou sabe resolver!
Aparentemente, esse tipo de descarga anormal e sem controle da bateria está restrito às torres e aos SIM cards da TIM, mas somente um levantamento com as outras operadoras poderia indicar se é o caso. Em algum momento, eu devo entrar em contato com o suporte da TIM, e espero que alguma solução esteja disponível. Se não, eu só usarei 5G debaixo de muita necessidade.
Existe também um outro lado desta estória, o de que a tecnologia 5G parece ainda não ter sido totalmente dominada e/ou sob controle das operadoras. E sendo assim, é de se esperar que modificações extemporâneas sejam feitas em todos os níveis nos próximos anos. Até lá, o usuário vai ter que aturar um provimento de sinal com eventuais transtornos. Outrolado_
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A Internet móvel 5G está chegando e com ela as controvérsias de sempre
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.