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O filme Babilônia, longo e desnecessário, foi indicado ao Oscar em três categorias: melhor trilha sonora, direção de arte e figurino. Ganhou um Globo de Ouro pela trilha sonora e o Critics Choice Award pelo design de produção.

 

A festa do Oscar foi uma invenção do studio system de Hollywood. Na década de 1920 foi criada a Academy of Motion Pictures Arts and Science, e a partir dela Louis B. Mayer, o super poderoso chefão da M-G-M propôs a criação de uma cerimônia de premiação dos melhores filmes de cada ano. O filme premiado receberia uma estatueta criada por Cedric Gibbons, diretor de arte da M-G-M, e esculpida por George Stanley, que levou o nome simbólico de Oscar, termo derivado do inglês antigo Os (Deus) e Gar (lança), em referência à deificação dos realizadores. A Academia foi fundada em 1927 e a primeira cerimônia realizada em 1929.

Até hoje, esta cerimônia de premiação é controvertida, muitas vezes ela é massa de manobra política ou de vendas de filmes, e às vezes repudiada por atores e cineastas. Os que apoiam a cerimônia se vangloriam dela e das estatuetas recebidas. Bons filmes são premiados, mas nem todo filme premiado é de boa qualidade, tirando assim o brilho da festa. Muitos bons atores e cineastas que deveriam receber a estatueta nunca foram alvo deste tipo de homenagem, enquanto que alguns que a receberam se recusaram a ir na festa, mandando alguém lhes representando, como forma de protesto!

Filmes que não agradam a quem assiste, mas que são indicados e premiados assim mesmo

Cinema é uma questão de gosto pessoal e intransferível. Eu já tive uma experiência cômica, quando estudante da faculdade, quando levei a namorada, que era fanática pelos filmes do Buñuel, para assistir Pequenos Assassinatos, dirigido por Alan Arkin:

 

A única pessoa no cinema superlotado que não gostou do filme foi ela! Eu tive um amigo crítico norte-americano de cinema, com quem comentei a ausência deste filme em DVD e, para surpresa minha, ele publicou os meus comentários no site dele. Logo depois, o disco foi lançado lá. É uma comédia social brilhante, e que chama a atenção sobre a violência urbana e a alienação das pessoas que se convencem que não vão mudar nada. Mas, a minha então namorada, que era uma moça muito inteligente, não gostou, fazer o quê?

Agora, a vez de “não gostar” é minha! Assisti ao filme “Babilônia”, indicado ao Oscar em três categorias: melhor trilha sonora, direção de arte e figurino. Ganhou um Globo de Ouro pela trilha sonora e o Critics Choice Award pelo design de produção.

 

O filme dura 3 horas! Eu não tinha me dado conta de que o diretor era o jovem cineasta Damien Chazelle, cujas obras anteriores já tinham me deixado com três pés para trás. Quando vi já era tarde, o filme já tinha terminado.

Eu acho ótimo ver cineastas jovens começar a rodar filmes e fazer sucesso com eles, mas tudo na vida tem um limite. E, neste caso, Chazelle tem dado passos mais largos do que as pernas alcançam, e isso nunca é bom.

O meu interesse por Babilônia foi o tema abordado, o da transição entre o cinema mudo e o falado. O problema é que esta história é bem conhecida, e por causa disso seria preciso ter muita cautela para não chover no molhado ou acrescentar alguma informação que não seja relevante, para quem já pesquisou ou está estudando o assunto.

Quanto um filme com um assunto interessante falha redondamente

O filme Babilônia até começa bem, mas não vai tardar a cair em um mar de problemas. O histórico de Hollywood, com festas de arromba e corrupção na mídia também é conhecido, mas o jovem cineasta vai à luta e encena um bacanal de gente poderosa, com todo tipo de degeneração social em curso.

A exibição de uma orgia daquelas termina em um certo mau gosto visual, mas eu entendi que o objetivo foi mostrar a decadência precoce da comunidade cinematográfica que se instalou em Hollywood. A história desta decadência está muito bem documentada por historiadores e críticos. Escândalos foram seguidamente abafados, com a participação dos chamados “fixers”, que eram funcionários dos estúdios que “consertavam” qualquer coisa, e para tal vigiavam ou mandavam seguir os astros e celebridades que se metiam em algum tipo de problema ou encrenca.

Os grandes estúdios faturavam fortunas com as personas exibidas nas telas pelos seus atores. Nada poderia macular a imagem que eles passavam para o público. Quando o cinema saiu do filme mudo e embarcou no sonoro, o filme falado acabou por revelar atores e atrizes cujas vozes não combinavam com as suas imagens nas telas, e isso foi um problema difícil de ser consertado, até porque os microfones da época eram inadequados e a fidelidade baixa, com ampla distorção da voz capturada. Os técnicos tiveram dificuldade em achar o posicionamento correto dos microfones, e parte do maquinário tinha que ser isolada em uma cabine, para evitar a contaminação de ruídos na trilha sonora.

Cantando na Chuva, musical da M-G-M dirigido por Stanley Donen e Gene Kelly, mostra com perfeição e detalhes todos os percalços que crepitaram na transição do filme mudo para o falado, inclusive este das vozes dos atores.

Não sei por que motivo, Chazelle resolveu copiar a maior parte de Cantando na Chuva, inclusive com cenas do filme anterior onde a música propriamente dita surgiu, ou seja, choveu (sem trocadilho) no molhado.

No filme dele as 3 horas de duração são usadas para escrutinizar a vida de atores e produtores, e um misto de produtor e “fixer”. Irwin Thalberg (M-G-M) é citado diretamente, enquanto que Jack Conrad (Brad Pitt) se assemelha a John Gilbert, cuja voz o deixou imprestável para o cinema falado. É bem possível que Gilbert também seja um desses casos onde a voz do ator era prejudicada pela má qualidade dos microfones.

Eu acho que o maior problema de Babilônia é que a história do cinema que ele apresenta não mostra novidade alguma, a edição desigual salta de um lado para o outro. O filme é longo demais, e tem várias cenas chulas e desnecessárias. A cópia nada sutil de filmes anteriores se torna inaceitável e igualmente desnecessária! Preciso continuar?

Os antigos diziam que “cada um cai do bonde como entende”. Bem, eu saltei do bonde andando (não me refiro a sexo), e, felizmente, nunca me machuquei. Com a idade, a gente se convence que muitos erros e equívocos estarão no caminho que a gente trilha. Porém, para melhorar a nossa qualidade de vida eventualmente é preciso reconhecer os erros e procurar as melhores soluções para eles.

Damien Chazelle aparentemente ainda não aprendeu com os filmes que fez, mas eu entendo que devia! Eu achei First Man (O Primeiro Homem) penoso de assistir. A continuar assim, eu sou um que me afasto ao menor sinal da autoria do filme que eu vou assistir! Mas, isso sou eu, cinema é muito pessoal, e neste caso, quem quiser que se divirta!

Quanto à festa do Oscar, em épocas remotas eu até gostava de assistir, mas já parei de dar atenção aos prêmios há muitos anos, e sem paciência para esperar aquele tempo todo para saber dos resultados, tendo que aturar as gracinhas de apresentadores, com um humor que não nos pertence ou diz respeito, e com um ego maior do que uma tela de 70 mm. Outrolado_

 

. . .

 

First Man: Quando o heroísmo cede lugar à monotonia

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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6 respostas

    1. Oi, Jorge,

      Não foi, mas poderia ter sido. Ultimamente o cinema em geral tem deixado muito a desejar. E não acredito que seja mera coincidência, porque o número de filmes insistindo com super heróis, investidas em personagens jovens de figuras conhecidas, etc., acaba um dia saturando até mesmo os fãs. A prática tem mostrado que não adianta avançar tecnologicamente para fazer cenas antes impossíveis de realizar, se elas não tem objetivo no conjunto de cada roteiro.

      Eu me lembro de anos atrás quando se via gente se queixando da ausência de trama nos roteiros, o que certamente era sinal de involução nos filmes feitos na época. Hoje, parece que a preocupação predominante é o lado visual e técnico dos filmes, deixando de lado um conteúdo que falha a pena ser assistido.

  1. Aparentemente o conhecimento técnico sobre o assunto não tem feito parte dos critérios de escolha de apresentador do Oscar na TV brasileira. Uma pena, pois com todo acesso a informação que há hoje em dia, com certeza temos muita gente capacitada por aqui.

    Sobre os filmes, ainda não vi nenhum deles esse ano, mas a temática do Babilonia me parece bem interessante!

  2. Olá Paulo. É necessário citar que ocorreu outro deslize, pois houve omissão na premiação para uma categoria em especial… A de pior apresentadora da cerimônia de tv. O Oscar vai para: Ana Furtado 🙁
    Eu fui obrigado a buscar um canal no YouTube que estava acompanhando a transmissão, para ouvir a analise dos candidatos a premiação, que conhecem o tema de verdade, pois na TNT Brasil era impossível ouvir as baboseiras da Ana Furtado. Que tremenda falta de conhecimento, fora as inúmeras gafes. Não é atoa que nem o próprio marido dela não conseguiu segura-la na apresentação de programas na Globo. Tomara que no ano que vem a TNT Brasil encontrem pessoas mais qualificadas.

    1. Oi, Rogério,

      Só rindo mesmo. Lembra a época onde os filmes de televisão dublados eram mal traduzidos, como “let´s make a toast” para “vamos fazer uma torrada”…

      Este tipo de transmissão deveria ter sempre um canal de áudio original separado! E assim fica a critério de cada um escolher o que prefere ouvir.

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