Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

O aumento de vendas dos CDs fez surgir muita gente para explicar que o CD ainda é uma mídia de qualidade. Os mesmos que diziam o contrário.

 

Segundo algumas das últimas estatísticas publicadas na imprensa, os CDs voltaram a vender mais do que o esperado. E possivelmente por causa disso eu tenho visto na Internet uma revisita aos reprodutores de mesa, tanto os mais caros quanto os mais populares, com a indagação se valem ainda vale a pena o investimento.

Mas, em um dos últimos vídeos que eu assisti sobre o assunto o designer Harley Lovegrove, criador da caixa acústica tipo “single driver” batizada de Sibelius, fala retrospectivamente sobre o que ele considera os 20 modelos de players que ele considera “icônicos”.

Em outro vídeo ele explica a criação da Sibelius, para quem não conhece o que é uma caixa “single driver” e quiser ver como é:

 

Para mim, infelizmente, chega a ser engraçado ouvir este discurso todo, porque eu fui adepto precoce do Compact Disc, e tive que aturar todo tipo de desclassificação da mídia como de “alta fidelidade”, usando-se termos anedotários como som “mid-fi”.

O nosso bom Lovegrove ele mesmo se classifica como aqueles que não gostaram do CD quando ele saiu à venda em 1983, mas com o passar do tempo mudou de ideia. Puxa!…

No vídeo em tela (sem trocadilho) ele faz um apanhado sobre o desenvolvimento do CD, assunto este sobejamente conhecido, e que foi a razão mais importante da adoção do CD desde o seu início, malgrado as críticas dos puristas que haviam sido feitas.

É verdade que os primeiros decodificadores da informação digital (DACs) deixaram a desejar, mas nunca ao ponto de deformar a senoide musical ou transientes. E, ao contrário do analógico, no som digital a distorção harmônica é praticamente zero.

Eu confesso que fiquei interessado em ouvir aquela lista, ainda mais porque Lovegrove, apesar do status de designer, não se identifica como conhecedor do assunto, e pede inclusive correções se alguém quiser fazer nos comentários.

Por motivo que eu desconheço, ele não cita uma das principais evoluções dos decodificadores da Philips, lançado em 1993, se a memória não me trai, no player CD950, com o nome de DAC-7 (TDA 1547). O CD950 ainda incorporou o drive CDM9, com braço em curva, considerado um dos melhores já feitos até então. Ambos DAC-7 e CDM9 foram muito usados pelos fabricantes de reprodutores do chamado “high-end”. Eu estava em Cardiff quando a Philips lançou o CD950, então eu me virei para economizar algum e comprar pelo preço promocional de lançamento.

Esta omissão, que provavelmente não foi proposital, é importante, porque, durante anos os decodificadores trabalharam com 14 bits de resolução, e o DAC-7 foi o primeiro deles com 16 bits reais.

Com a evolução dos decodificadores foi possível perceber de pronto que a mídia de 16 bits sempre teve mais qualidade do que se imaginava, e isto é verdadeiro até hoje! O mesmo disco passou a revelar detalhes e definição que não se ouvia claramente antes, desmentindo assim categoricamente os seus detratores ante som digital. Eu cheguei a comentar isso com Jack Renner, diretor técnico e dono da Telarc, por carta naquela época, e ele me respondeu que tinha notado a mesma coisa!

A evolução dos decodificadores e a passagem de sinal por HDMI

O desempenho dos decodificadores para 16 bits reais foi muito importante, mas com o passar dos anos, novos chips e novas tecnologias acrescentaram um aperfeiçoamento do sinal por interpolação de dados, fazendo a resolução final subir para 20, 24 ou 32 bits. Já há algum tempo, o meu receiver Denon usa o AL32, cujo design faz exatamente isso, e o resultado tem sido excepcional, não só do CD, mas também de outras mídias com menor resolução e com compressão de sinal.

O advento da conexão por HDMI foi uma pedra no sapato em termos de confiabilidade de transmissão de sinal, mas, por outro lado, permitiu a passagem do sinal de áudio com um bitrate bem mais elevado.

Anos atrás, eu fiz a seguinte experiência: conectei um DVD player antigo e já colocado de lado no meu receiver e fiquei estupefato com a qualidade do som. A explicação é muito simples: o drive do player lê o disco e joga o sinal direto na saída HDMI, isto é, sem decodificação alguma. Quando o drive tem boa estabilidade e eletrônica, isto já basta para o que o sinal chegue no seu destino sem adulteração do conteúdo. A partir daí, será o decodificador externo (neste caso, o AL32 de 32 bits) quem irá converter o bitstream do disco (1411 kbps) para analógico com altíssima qualidade.

A combinação do DAC com estágios de amplificação adequados é que, em última análise, permite ao audiófilo desfrutar de um som sem as habituais barreiras de reprodução, e neste particular, adivinhem, em uma mídia que não gasta com o tempo!

A preservação das gravações passa por critérios diversos

Eu sempre soube que, antes de condenar o som de um CD, é preciso saber de que forma ele foi autorado. Infelizmente, existem recursos de estúdios obsoletos e viciados, que perduraram anos nas cabeças dos técnicos, e assim muitos CDs soavam mal, até porque o som digital não disfarça defeitos como os elepês faziam, e isto, me desculpem os puristas, é fato!

Outra coisa é a natureza do som gravado, que passa por uma série infindável de variáveis. Até mesmo uma gravação analógica, se bem feita, é satisfatória para todos os ouvidos discriminatórios, ao mesmo tempo que uma gravação digital pode ser realizada com microfones errados, acústica de estúdio inadequada, etc., e soar mal.

Os codecs digitais da atualidade são, a meu ver, excepcionais. O realismo, a dinâmica e a resolução que se obtém com, por exemplo, o DTS-HD MA, deixa no chinelo a concorrência. E, ultimamente, é o Dolby Atmos quem tem me mostrado o melhor som possível de qualquer concerto.

A procura do som perfeito nunca termina

Quem ama música e é admirador da eletrônica que a cerca irá, em algum momento da vida, procurar o melhor som possível dentro de casa. O grande empecilho desta busca é o alto preço cobrado pelo áudio de melhor qualidade, problema esse hoje em dia bem menos drástico do que antigamente, no que tange à relação custo-benefício.

Entretanto, nenhum audiófilo que eu conheci durante longos anos, incluindo aqueles mais abastados, conseguiram atingir os seus objetivos de montar um som perfeito. E existe uma miríade de razões para que tal aconteça.

Primeiro, a música gravada nem sempre traduz com fidelidade o som dos instrumentos ou das vozes. Depois, existem transtornos no armazenamento da música gravada em qualquer tipo de mídia. E terceiro, esta mesma música gravada passa por percalços diversos, que vão desde a reprodução das mídias até a ponta dos alto-falantes.

Quando o audiófilo tem cabeça aberta e entende o que se passa, ele começa a sublimar todos esses problemas, e classifica como “soando bem” ou “soando mal” uma ou outra gravação. Não deixam de ser, por natureza, aproximações do que seria desejável. E uma das formas de minimizar isso é frequentando as salas de concerto sem amplificação e tirando deste ambiente parâmetros que permitam pelo menos identificar onde a reprodução de música deixa a desejar.

Por outro lado, esta busca do som perfeito nunca cessa. Aquele meu grande amigo, cujo falecimento me deixou órfão, foi um audiófilo dedicado, com ouvidos privilegiados e com vários projetos experimentais com resultados excepcionais. Em uma dada época, ele projetou e montou caixas com alto-falantes isodinâmicos que cobriam uma ampla faixa do espectro, e cujo som eu nunca tinha ouvido igual, nem mesmo nas Quad eletrostáticas, cujo som é singular.

Eu tive uma chance de conversar com ele sobre isso, e, é claro, a conversa sempre acabava em alguma anedota, porque este amigo era obcecado por um desafio. Ele me dizia que “se a vida fosse fácil não teria graça”.

Cada design de caixa acústica tem os seus percalços. Os fabulosos eletrostáticos da Quad, por exemplo, que são quase impossíveis de casar com subwoofers e tem, elas próprias, uma reprodução de graves muito limitada.

Aquelas caixas “single driver”, como a Sibelius citada acima, eu não precisaria nem ouvir, porque a acústica obtida na reprodução depende muito do tipo de driver (alto-falante) usado em um dado projeto. E aí se esbarra forçosamente no fato de que um único alto-falante nunca irá ser plano o suficiente para cobrir todo o espectro de reprodução.

A moral desta estória é que tanto o audiófilo quanto o ouvinte casual poderão se dar por satisfeitos quando o som reproduzido é de boa qualidade, não perfeito, mas muito bom.

Eu já tive chance de ouvir um sistema de amplificador e caixas super simples, mas montado em um ambiente muito bem tratado, soar de forma surpreendente!

E os codecs modernos, da classe 3D, com caixas adequadas, irão imergir o ouvinte com grande eficiência, mascarando assim potenciais deficiências de reprodução.

Nada disso, entretanto, irá evitar a procura do som perfeito por muita gente por aí. Acho eu que, salvo melhor juízo, foi a velhice que me fez sossegar e ouvir o que eu posso ter de bom. E isso se aplica àquele meu amigo, que terminou a vida sem sequer instalar Dolby Atmos em casa. Preciso dizer mais?  Outrolado_

. . .

 

O CD mantém a promessa do som perfeito para sempre

A perda de um grande amigo

 

https://webinsider.com.br/alto-falantes-planares-e-isodinamicos/

https://webinsider.com.br/aprenda-a-posicionar-e-ajustar-suas-caixas-de-som/

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *