Ajustes finos para o áudio de um home theater

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket
Veja como fazer ajustes de áudio para o seu home theater

A instalação de um home theater é complexa para os ajustes de áudio, que exigem tempo e paciência para atingir um nível de reprodução de um cinema dentro de casa.

 

A construção ortodoxa de um home theater iria exigir a instalação dos equipamentos de áudio e vídeo em uma sala devidamente preparada. A realidade da grande maioria dos entusiastas, infelizmente, não é essa. Quem quer assistir um filme adequadamente precisa dar um jeito de adaptar o recinto existente para instalar tudo com um mínimo de comprometimento possível.

E aqui se vê duas realidades distintas: a da qualidade da tela ou display, relativamente mais fácil de resolver, e a do áudio, infinitamente mais complicada, em uma sala de estar convencional.

Vejam que esta dificuldade de instalar o áudio dentro de casa foi prevista no design de todos os decodificadores instalados em A/V receivers e pré-amplificadores para a reprodução de trilhas sonoras, desde o advento do Dolby Digital. Se não fosse isso, o usuário dedicado estaria em palpos de aranha.

Os ajustes de áudio contemplam, entre outros aspectos, a instalação física de cada caixa no ambiente, o corte de frequência próximo do ideal para cada tipo de sonofletor, e a integração de todos de modo a se conseguir reproduzir a trilha sonora integralmente.

E como as trilhas modernas incluem um sub-canal (.1) dedicado à sonoplastia de frequências baixas (LFE), o decodificador precisa ainda incluir o chamado “Bass Management”, cujo objetivo é escolher quais as caixas instaladas que irão reproduzir os sons graves da sonoplastia ou se um subwoofer será usado para este fim. Se for este o caso, ainda será preciso estabelecer o corte de frequência (“crossover”) entre as caixas e o subwoofer. Tudo isso é previsto no setup do decodificador.

Os ajustes finos que qualquer um pode fazer

Através das décadas que já se passaram, desde o advento do Dolby Digital, e com a experiência de uso vivenciada e adquirida, eu me permito afirmar que existem dois ajustes importantes, eu diria vitais, para um home theater funcionar como deveria: primeiro, a distância entre todas as caixas acústicas e o ponto de referência da sala (“Sweet Spot”), a partir do qual serão feitas todas as medidas; e segundo, o nível de pressão sonora de cada caixa acústica instalada.

Para fazer estes dois ajustes deve-se lançar mão de uma trena e de um decibelímetro (“sound level meter”):

image001

Uma vez estabelecido o ponto de referência, deve-se medir a distância de cada caixa acústica até este ponto e ajustar essas distâncias no decodificador. Quando os primeiros decodificadores foram introduzidos as medidas foram feitas em pés, e isso tem um sentido: deve-se levar em conta que 1 pé equivale a 1 milissegundo de distância percorrida pelo som. Assim, para uma distância, por exemplo, de 9 pés, o som da caixa acústica levará 9 milissegundos para chegar ao ponto de referência. Embora este ajuste não seja crítico, ainda assim é importante fazer com que o som de todas as caixas chegue ao mesmo tempo no ponto de referência.

Quando todas as distâncias estiverem medidas e ajustadas no setup do decodificador, o som multicanal chegará ao mesmo tempo ao ponto de referência e a reprodução do programa devidamente equilibrada, Como saber se o ajuste está correto? Quando se ouve o som orquestral com a definição da posição de cada instrumento. E aí vai a dica para quem quer fazer este ajuste.

O segundo ajuste, da pressão sonora de cada caixa, é bem mais crítico e deve ser feito com a devida atenção. A mixagem da trilha sonora feita nos estúdios depende deste ajuste!

A medição mais correta deve ser feita com um decibelímetro. Ele deve ser preferencialmente ajustado para a curva ponderada do tipo C, mais indicada para este tipo de aplicação. O decodificador gera um ruído rosa (pink noise), que melhor representa o somatório de frequências que devem ser alvo da medição.

Notem que esta medição é relativa. Dentro de uma sala convencional, o medidor irá mostrar variações no valor da medida, devido às condições acústicas do ambiente. A entrada desses valores no decodificador será em decibéis (dB), geralmente em intervalos de 0.5 dB. Portanto, é admissível uma pequena variação entre um canal e outro. Para diminuir o erro, observa-se no medidor a variação mínima em dB entre uma caixa e outra. Se for necessário, deve-se repetir a medida tantas vezes quantas forem necessárias. Ao final de cada ajuste é recomendável usar uma gravação multicanal de referência, caso haja alguma disponível.

Basicamente, o resumo dos principais ajustes de um decodificador está mostrado na figura abaixo:

image003

N.B.: os decodificadores antigos ofereciam um Bass Management com conceitos errados, classificando as caixas acústicas entre “Large” (grandes) e “Small” (pequenas). A classificação pelo tamanho é irrelevante. O que se deve levar em conta é a menor frequência que uma caixa consegue reproduzir dentro de ± 3 dB. Esta frequência é geralmente indicada pelo fabricante da caixa acústica. Na ausência desta indicação a única saída é testar as menores frequências de corte que permitam obter uma reprodução de graves adequada.

Nos decodificadores mais recentes o ajuste deste corte de frequência é estabelecido por intervalos específicos, por exemplo, 40 Hz, 50 Hz, 60 Hz, 80 Hz, 90 Hz, 100 Hz, e assim por diante; Nas especificações do padrão THX o corte é estabelecido em 80 Hz, mas este ajuste não satisfaz a instalação da maioria das faixas e assim deve ser ignorado.

Depois de tudo ajustado, as irregularidades acústicas do ambiente onde o home theater está instalado tendem a ficar minimizadas. A diferença entre um home theater ajustado e outro sem ajustes chega, em alguns casos, a ser dramática, principalmente agora que o som 3D está prontamente disponível, mas que exige um maior número de caixas acústicas distribuídas no ambiente.

Uma experiência recente e inusitada

Na década de 1990, um colega do laboratório ia frequentemente a Nova York, por conta de um projeto de pesquisa, e em uma dessas idas ele me trouxe um “Sound Level Meter” digital da Radio Shack, loja, aliás, que não mais existe. Este aparelho está mostrado em uma ilustração acima, e foi com ele que eu fiz todas as medições de pressão sonora das minhas caixas ao longo dos anos. Foram inúmeras as vezes em que eu mudei o layout de distribuição das caixas na minha sala, me obrigando a medir tudo de novo.

Lá se vão cerca de 30 anos e consequentemente eu deixei o medidor encostado sem uso, após chegar a uma solução satisfatória no layout das caixas. Mas, ao pegá-lo de volta na semana passada, eu vi logo que ele não estava funcionando, porque, parece piada, as baterias de 9 volts, tão velhas quanto o aparelho, também não tinham mais carga!

Com baterias novas, a descoberta fatal: o display estava danificado, e com isso difícil de ler o valor das medidas. Posteriormente, ao pesquisar modelos de medidor mais novos, eu fiquei surpreso com o baixo custo de revenda, mas me perguntei se valia a pena importar outro neste momento. E isto porque existem vários aplicativos para celular que fazem a mesma coisa.

O meu equipamento vive calibrado, mas eu gosto de conferir se está tudo certo, neste caso, porque eu fiz algumas pequenas mudanças de posição nas caixas frontais. Para avaliar se os ajustes foram satisfatórios, eu usei a reprodução da trilha sonora do filme “Dinosaur” (no Brasil, Dinossauro), edição em Blu-Ray.

O filme é uma produção Disney, contendo filmagens de paisagens e cenários, com a adição de animação por computação gráfica. Na época em que o disco foi lançado, o estúdio tinha hábito de incluir uma trilha sonora em PCM 5.1, que foi a que eu usei para testes.

A trilha sonora de Dinosaur é soberba, escrita por James Newton Howard, talvez um dos seus melhores trabalhos em cinema. A ambiência na gravação é estupenda. A sensação de profundidade e dispersão dos arranjos vocais encanta qualquer um que goste de trilhas sonoras bem feitas.

Em um ambiente equilibrado, a trilha de Dinosaur dá a sensação de “estar lá”, que é um dos principais objetivos de uma trilha deste porte. Existem segmentos da trilha que realçam de forma brilhante as cenas do filme. Se alguém quiser fechar os olhos, vai ter uma sensação profunda da beleza orquestral e vocal da trilha sonora.

Para fazer as medições atuais, eu baixei e testei a versão gratuita do aplicativo Decibel X, que foi instalado em um celular Motorola Edge 30 Fusion. Esta versão tem limitações, como, por exemplo, a medição ser feita com a curva A e não a C, esta última somente disponível na versão paga, mas quebra um galho, porque, mesmo admitindo que a medição tem erro, e possivelmente deve ter mesmo, o que importa neste caso é a variação relativa de pressão sonora entre cada caixa.

image005

Para avaliar os resultados dos ajustes no decodificador, o usuário deve escolher a trilha sonora que melhor lhe aprouver. O som multicanal, cujo formato já foi altamente discriminado para a audição de música, tem méritos inegáveis para aplicações em filmes, e cabe a cada um achar estes méritos.

As trilhas sonoras antigas costumavam ser mixadas com a parte orquestral nos canais laterais da tela, dando a impressão de sequer fazer parte das cenas, apenas um som decorativo. Este tipo de trilha não serve para a avaliação da instalação das caixas em qualquer ambiente, principalmente dentro de casa, onde os ajustes são mais críticos.

Na ausência de uma trilha sonora de filme adequada, pode-se lançar mão de concertos em Blu-Ray, cujo áudio é de altíssima definição, inclusive com a formatação em Dolby Atmos.

O prazer auditivo depende do gosto e do ouvido de cada um. Se ele não for tão importante assim, nem é preciso gastar tempo e dinheiro para montar um bom home theater. Para quem gosta de música, filmes e áudio de boa qualidade, todo esforço de ajustes finos compensará muito o tempo perdido com eles. [Webinsider]

 

. . .

 

LFE, o canal de graves, este ainda ilustre desconhecido

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *