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O Cinema Vitória, símbolo do melhor cinema de rua, primeiro cinema com 70 mm do Rio de Janeiro, sofreu todo tipo de depredação e reforma.

O Cinema Vitória, símbolo do melhor cinema de rua, abrigou grandes espetáculos, primeiro cinema com 70 mm do Rio de Janeiro, foi tombado, mas sofreu todo tipo de depredação e reforma, após o que continua com alguma atividade fora da sua origem. O prédio ainda está lá, resistindo ao tempo.

 

Em 1932 foi construído o Edifício Rivoli, na Rua Senador Dantas 45, centro do Rio de Janeiro, onde ficaria localizada a região conhecida como “Cinelândia”, e como já era hábito nesta época, no térreo foi edificado um cinema, como parte do imóvel. Tratava-se de um cinema moderno, que levou o nome de Cinema Vitória. Ele foi inaugurado em agosto de 1942, com a exibição do clássico O Grande Ditador, de Charles Chaplin.

Durante anos, o Vitória solicitava o uso de trajes adequados, para quem fosse assistir um filme. Uma vez, o meu irmão, adolescente, foi impedido de entrar porque ele não usava gravata. Essas exigências, é claro, foram relaxadas ao correr do tempo.

O Vitória acompanhou a modernidade. A tela original, no formato da academia, foi substituída por uma para CinemaScope. Nesta época, os filmes rodados em 70 mm eram distribuídos aqui neste formato. Os meus pais, por exemplo, me levaram lá para assistir A Volta Ao Mundo em 80 Dias, rodado em Todd-AO e apresentado em CinemaScope e som estereofônico no Vitória.

Na década de 1960, o Vitória foi novamente modificado pelo Orion Jardim de Faria, para abrigar a tela de 70 mm, inicialmente com projetores Philips DP-70, posteriormente substituídos pelos Incol 70/35. Esta mudança inaugurou a febre dos filmes projetados em 70 mm na cidade. Abaixo, se pode ver a então nova tela de 70 mm instalada no Vitória, com as cortinas abertas:

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A projeção em 70 mm aproveitou muito bem o espaço do cinema. Ali grandes filmes neste formato foram projetados, antes e depois dos Incol instalados. Quando o formato acabou, foi uma perda sentida.

Declínio e fechamento

Infelizmente, a sala não resistiu ao declínio e fechamento dos bons cinemas. Foi triste, para quem tanto frequentou o espaço, ver o cinema começar a projetar filmes pornográficos, para tentar arrecadar público. Não deu certo! No final, em 1993, ao invés de ser convertido em dois, como aconteceu com outras salas, o Vitória encerrou as suas atividades em definitivo.

Depois disso, o espaço do auditório serviu de abrigo para um estacionamento, uma imagem deplorável:

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Em 2007, o Vitória foi reconhecido como patrimônio público, mas, logo a seguir ele foi ocupado pelo tal Movimento Nacional de Luta Contra a Falta de Moradia:

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Na imagem, capturada pela imprensa, ainda se vê ao fundo parte do proscênio, e o local onde estava instalada a primeira tela no formato da academia, quando o cinema fora inaugurado. O local foi depois restaurado pelos técnicos e engenheiros da Livraria Cultura.

Antes de se instalar no Vitória, a Cultura executou uma obra de vulto, de modo a recuperar boa parte do cinema, tanto a entrada quanto a do interior. O subsolo foi reaproveitado para a construção de uma sala de teatro, com o nome da fundadora da loja Eva Herz.

Eu, por acaso, estive neste teatro, antes do mesmo ser inaugurado. Era uma sala com grande inclinação na plateia, de muito luxo e com capacidade de atender a um público interessado em cultura de qualquer tipo.

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Recuperação do hall de entrada, foto publicitária:

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Na imagem a seguir, mostrando a parte do auditório, onde ainda se pode ver as antigas paredes do cinema nos cantos da imagem, preservadas pelo patrimônio:

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Na parte do balcão do cinema houve continuidade de exposição das vendas. Já a antiga cabine de projeção foi totalmente destruída.

A Livraria Cultura funcionou lá, de 2012 até 2018, mas, segundo consta, as enormes dívidas da empresa a levaram à falência, e com isso novamente o Vitória fechou.

Em 2013, eu nem me lembro mais como, alguém me avisou que a Cultura estava recrutando pessoas que pudessem dar palestras ou seminários. Eu fiz contato com a moça responsável por este tipo de evento, uma conversa ótima, com ela me contando que era cinéfila. Eu então montei uma palestra com o título “Do Cinema Ao Home Theater”, a ser dada lá. Inicialmente, imaginava apresenta-la na nova filial da Senador Dantas, mas na última hora, foi pedido que eu a fizesse no São Conrado Fashion Mall, onde tudo de errado aconteceu, e eu tive que me virar com os funcionários para viabilizar o que eu tinha a dizer.

Para a minha surpresa, a Cultura não anunciou ou fez propaganda da palestra, coisa de um amadorismo inaceitável. Por isso, só de fato apareceram por lá as pessoas conhecidas às quais eu divulguei o evento, mais alguns poucos transeuntes da loja. Uma senhora que estava lá me abordou perguntando se eu prestava serviço de instalação de um home theater, me deixando sem graça, para dizer que o meu papel ali era o de um simples palestrante.

Na imagem abaixo, alguém fotografou e me deu cópia de um desses momentos, e que eu repasso:

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Depois disso, eu desisti da cortesia. E tentei relatar o que tinha havido com a moça que havia me convidado lá no Vitória, mas sem sucesso. Para mim foi uma decepção, mas nunca me lamentei, e na realidade fiquei com pena de ver aquela magnífica loja da Senador Dantas desaparecer, junto com outras tantas da rede. O projeto, evidentemente, visava uma loja de nível igual às do exterior, e que foi por um momento bem sucedido.

A última notícia que eu tive do espaço do Vitória foi a que ele está agora ocupado por uma tal Assist. Trata-se de uma associação de servidores públicos. Pensei em ir lá para ver o que sobrou, mas, sinceramente, não tive coragem. Porque é muito trauma junto em um cinema só, que nos deixou cinéfilos mais órfãos e saudosos! O espaço, bem ou mal, está lá, tombado, espero que nunca desapareça! O Vitória resistiu ao ocaso, mas ninguém mais espera que os cinemas de rua e as suas magias aconteçam de novo. [Webinsider]

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As nossas vidas nas salas de cinema

Cinemas de rua: não há nada que se compare a eles!

No esplendor do 70 mm

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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