A fama, a celebridade e o preço que se paga por elas

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A fama e a celebridade têm um preço muitas vezes difícil de pagar. Quem fica exposto na mídia pode perder a privacidade e a identidade.

A fama e a celebridade têm um preço muitas vezes difícil de pagar. Quem fica exposto na mídia, pode ficar famoso, mas também pode perder a privacidade e a identidade, tornando a fama indesejável.

 

Existem muitas profissões que carecem absurdamente do reconhecimento público, e mesmo entre certas atividades, o mesmo acontece, como, por exemplo, no caso dos políticos, que precisam ser vistos constantemente antes das eleições, se quiserem ter alguma chance de serem eleitos.

Nem toda fama ou celebridade são um reconhecimento legítimo das qualidades de alguém. A fama fabricada é realizada nos meios onde circulam grandes somas de dinheiro. Na imprensa, por exemplo, a chamada “matéria paga” faz com que muitos jornais sobrevivam.

O público brasileiro é saturado todo dia com propaganda na forma de reportagens. Os jornais acham uma desculpa esfarrapada qualquer para promover alguém. Fotos são tiradas, em eventos fúteis, à guisa de destacar a importante presença do personagem, tudo mais falso do que nota de três. No caso específico de personagens femininos recorre-se a roupas sumárias ou seminudez, qualquer coisa que possa chamar a atenção, até mesmo do público feminino.

Existe um método sórdido de fazer este tipo de promoção: o do chamado “marketing do escândalo”: um fato socialmente negativo e que poderia depor contra quem é promovido, mas que na realidade faz o oposto. Na década de 1960, o folclórico Carlos Imperial (Jovem Guarda, Pilantragem, etc.), quando se envolvia em algum escândalo, costumava dizer: “falem mal, mas falem de mim…

O Star System da antiga Hollywood

Os magnatas dos grandes estúdios logo perceberam que a venda dos seus produtos (filmes de longa-metragem) era radicalmente dependente da fama conquistada pelos atores. E estes dependiam do carisma que pudesse impressionar o público, quando vistos nas telas dos cinemas!

Com o advento do cinema falado, esta dependência ficou ainda mais restrita, na forma das vozes dos atores. Os estúdios rapidamente se muniram dos conhecidos “dialogue coaches”, que “ensinavam” não só a forma de falar um inglês mais refinado, como também saber impostar a pronúncia das palavras.

Todos os atores que fracassaram no aprendizado da impostação da voz, e/ou não conseguiram se livrar de um sotaque não condizente com os seus personagens da tela, também passaram por dificuldades depois do advento do cinema falado. A maioria deles, mesmo já tendo atingido o status de celebridade na época do cinema mudo, acabou perdendo o seu espaço e paulatinamente desaparecendo.

Justiça seja feita, em alguns casos, a culpa não era só dos atores: os primeiros equipamentos de gravação da voz, incluindo microfones muito limitados, impediam a reprodução correta das vozes. A distorção desses equipamentos envolvia também amplificadores e acústica de má qualidade nas salas de cinema.

O “Star System” foi muito cruel com os atores, que perderam a sua privacidade por conta da publicidade. Por causa disso, os estúdios mantinham todo mundo em constante vigilância, e abafando potenciais escândalos e/ou impedindo que a imagem do ator fosse diferente daquela conquistada nas telas.

O sistema em si era uma fabricação de celebridades. O notório Louis B. Mayer, super poderoso chefão da M.G.M., chegou a dizer algo do tipo “uma estrela de cinema não nasce como tal, ela é fabricada pelo estúdio”.

Mas, tudo isso teve um preço: vidas despedaçadas, tentativas de suicídio, perda de identidade, falta de privacidade, e muitos outros óbices. Ao longo dessa história, muitos atores pularam fora, e sem arrependimento.

Quando o estúdio perdia bilheteria, a culpa sempre caía no ator. Ou quando o ator envelhecia, como foi, por exemplo, o caso de Greta Garbo, uma das mulheres mais lindas do cinema, ele ou ela eram colocados de lado, mesmo ainda com o contrato vigente. Miss Garbo se tornou uma pessoa reclusa, e longe de Hollywood.

A imprensa pode construir ou destruir alguém com muita facilidade

Não é à toa que a imprensa foi um dia chamada de “O Quarto Poder”, tal a sua capacidade de influenciar pessoas, no caso, o público em geral, na forma de campanhas de algum tipo.

Este aspecto da imprensa foi didaticamente mostrado na obra-prima de Orson Welles “Cidadão Kane”: Charles Foster Kane manipula ou inventa as notícias do jeito que quer! O barão da imprensa marrom William Randolph Hearst, no qual Kane se baseia, tinha hábitos tirânicos de destruir quem quisesse e de inventar notícias fictícias, para vender mais jornais. E uma vez Orson Welles tendo sido denunciado pela colunista social e fofoqueira do cinema Louella Parsons, Hearst tentou destruir os negativos do filme e impedir a sua exibição. Como, no final, o filme acabou sendo exibido, ele proibiu qualquer anúncio publicitário nos seus jornais.

Aqui no Brasil, Assis Chateaubriand ganhou fama de fazer uma imprensa tendenciosa e desonesta, e um dos seus maiores artífices foi o jornalista David Nasser, figura que depois foi odiada por aqueles que ele atingiu. Nasser também inventava notícias e prejudicava pessoas, amparado pela estrutura poderosa dos Diários Associados.

A influência da mídia se baseia nas campanhas de massa, arquitetada com grande eficiência no regime nazista que precedeu a segunda guerra mundial. A teoria proposta era de repetir a mesma coisa, até que ela se torne verdade. E deu certo!

A mídia de hoje está na Internet, principalmente no YouTube, onde influenciadores propagam campanhas ou fazem propaganda de algum produto, disfarçadas de análises.

Durante anos, no meu exercício como educador de estudantes da área médica, eu sempre insisti que não deve assimilar qualquer coisa sem antes fazer um juízo, de preferência equilibrado, a respeito. Para conseguir isso, deve-se ler muito, tomar conhecimento do assunto e procurar enxergar os vários ângulos de visão abordados por terceiros, antes de fazer o seu próprio juízo. Isso é radicalmente importante nas investigações científicas. Se erros de juízo foram cometidos, eles podem depois ser retificados! [Webinsider]

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Woooow… Paulo Roberto Elias!
    Seus textos sempre tão pertinentes e informativos nos convidam, por vezes, a embarcar num sonho lindo e outras vezes nos chamam a conscientização do caos e da discrepância a que os valores éticos e artísticos foram tristemente submetidos!
    Obrigada!!!

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