Scat Singing, Vocalese, e o Jazz Vocal de todos os tempos

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Scat Singing e Vocalese, estilos vocais jazzísticos usados em vários gêneros de música, realçam a criatividade dos vocalistas. Ouça.

Estilos vocais jazzísticos, como o Scat Singing e o Vocalese, foram usados em vários gêneros de música, e realçam a criatividade dos vocalistas e dos solistas em geral. Ouça.

 

Volta e meia eu noto, como ouvinte, que muitos estilos de tocar ou cantar Jazz somem e depois reaparecem, evocados por alguém mais jovem, que provavelmente enxerga valores que julgam que não devem ser esquecidos.

O mesmo se poderia dizer sobre as principais fases da Bossa Nova, mas neste caso porque as primeiras harmonias e arranjos se apresentaram como uma enorme criatividade, frente ao que a música brasileira mostrava até fins da década de 1950. Quando essas ideias musicais pioneiras são ressuscitadas, é sinal de que alguém descobriu como elas foram importantes nas etapas de evolução da moderna música criada por aqui.

É possível, creio eu, que na criação musical, exista uma constante necessidade de mudança, mesmo que de pequena amplitude, mas que traga algo novo para o músico e para o ouvinte. E quando se trata da vocalização de arranjos instrumentais, o Jazz parece ter sido uma das principais fontes de inspiração, a partir da virada do século 19 ou um pouco tempo depois.

Louis Armstrong criou o chamado Scat Singing, supostamente, quando durante uma sessão de gravação, o grande trompetista teria esquecido a letra e começou a improvisar a partitura com sílabas desconexas, mas que fizeram sentido no arranjo. Esta forma de cantar emulando instrumentos musicais, na forma de sílabas ou palavras sem sentido, foi um dos maiores recursos vocais usados por cantoras como Ella Fitzgerald e outras. Aqui no Brasil, foi Leny Andrade quem primou pelo Scat Singing, em muitas músicas que ela interpretou, haja visto “Estamos Aí”, composta por Durval Ferreira.

O Scat Singing deu chance ao vocalista de “instrumentalizar”, digamos assim, ou contribuir com a partitura de uma maneira completamente diferente. Este estilo de cantar espalhou-se no Jazz e na música popular e até na clássica. Na década de 1960, eu fui surpreendido com o aparecimento do grupo vocal francês Les Swingle Singers, criado pelo cantor americano Ward Swingle, lançando o disco Jazz Sebastian Bach, pela Philips, em 1963. Nesta gravação, o grupo tenta provar que Bach fora uma importante fonte de inspiração na criação do Jazz, tese defendida por europeus durante muitos anos:

Ward Swingle já havia formado um grupo similar, chamado Les Double Six de Paris, acompanhando músicos de jazz moderno, como, por exemplo, Dizzy Gillespie. Anos mais tarde, o Swingle Singers, em sua formação mais recente, emprestou o seu estilo vocal para outros gêneros de música:

O modo de cantar as partituras com sílabas foi também para o cinema, em filmes como Butch Cassidy and the Sundance Kid, e é encontrado em grupos vocais “modernos”, como na trilha da comédia italiana “Os Sete Homens de Ouro”:

Como se vê, o Scat Singing deixou de ser um estilo puramente jazzístico para se tornar parte integrante da criação musical de outros gêneros.

No formato musical Vocalese, a intenção é mais ou menos a mesma, mas o objetivo é criar letras ou usar as já existentes, para “tocar” vocalmente muitos instrumentos. Embora existam sinais de que o Vocalese é muito antigo no repertório jazzístico, foi o cantor Eddie Jefferson quem teria tido a ideia de simular arranjos conhecidos com o uso de palavras que se encaixassem na música. Assim, o cantor estaria “cantando” a partitura ou solos específicos. Neste particular, estava embutido um tributo aos solistas.

O Vocalese aparece com força no início da década de 1950, em um período “pós-bebop”, e alcança depois uma expressão ainda maior, na interpretação de grupos como o trio Lambert, Hendrick & Ross, esta última, Annie Ross, uma das principais proponentes do novo estilo.

Mais recentemente, foi o grupo vocal The Manhattan Transfer que se destacou no estilo Vocalese. Em uma de suas turnês no Japão, lançado em Laserdisc PCM estéreo, intitulado “Vocalese Live 1986”, os seus componentes fazem questão de mencionar a origem dos solos que eles iriam vocalizar. Acabou sendo uma apresentação didática para aqueles na plateia que desconheciam a motivação do grupo.

Scat Singing ou Vocalese, ambos fizeram a festa dos grandes grupos vocais. Costuma-se dizer que o músico de Jazz, ao improvisar, “compõe” uma música dentro da outra. Aqui há reformulação de fraseados e solos já criados, mas que marcaram época no Jazz. E não só com vocais, mas com outros instrumentos. Eu citaria novamente o grupo Supersax, que tocou em uníssono os solos de Charlie Parker, gravado pela Capitol, no disco Supersax Plays Bird:

Qualquer que seja o fraseado, ele representa um momento que provavelmente não irá ser repetido, e assim qualquer recordação desse momento não tem preço!  [Webinsider]

. . . .

 

Les Doubles Six de Paris e o estilo Vocalese

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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2 respostas

  1. Meu caro Professor e doutor Paulo, como agradecer essas maravilhas apresentadas com a maestria habitual por você. Recordações e mais recordações, SuperSax, Swingle singers, Les doubles six de Paris etc etc etc. Seu conhecimento , erudição são notáveis e mais sua generosidade em compartilhar fazem de sua coluna um must ! Parabéns e obrigado, muito obrigado.

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