Les Doubles Six de Paris e o estilo Vocalese

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O Jazz vocal teve vários momentos, começando com o scat singing, sílabas desconexas ao invés de palavras, indo para o Vocalese, com letras que permitiam a vocalização de arranjos e solos instrumentais. Um dos primeiros e principais artífices deste gênero foi o conjunto vocal Les Doubles Six de Paris, e um dos seus membros viria a fundar o Les Swingle Singers, mesclando Jazz com a música erudita.

 

Em 1959, a pianista e cantora Mimi Perrin fundou o grupo vocal moderno Les Double Six de Paris, tendo se dedicado ao Jazz principalmente. Perrin tinha uma saúde precária na época e eventualmente o grupo acabou se dissolvendo. Mas, um dos seus membros, o americano Ward Swingle, formou um segundo grupo vocal em 1962, que foi chamado “Les Swingle Singers”, este último voltado para a interpretação de música erudita jazzificada. Foi este grupo que eu conheci primeiro, na minha adolescência, com muitos dos seus elepês editados aqui no selo Philips.

As origens da vocalização moderna

Desde tempos imemoriais a música popular foi cantada não com palavras completas, e sim com sílabas desconexas e sem nenhum sentido específico, mas que faziam um efeito vocal que caracterizava um estilo de cantar e/ou um gênero de música. Em tempos modernos este estilo foi rotulado como Scat Singing.

Existe uma lenda que conta que Louis Armstrong teria entrado no estúdio para gravar Heebie Jeebies em 1926 com o seu Hot Five, mas que durante a gravação a partitura teria caído acidentalmente no chão. Como naquela época a gravação era feita com corte direto em disco, ou seja, ela não poderia ser editada em tempo real ou em pós-produção, Louis resolvera continuar a cantar com sílabas desconexas, e deste modo inventando o scat singing jazzístico.

Mesmo que tudo isso não tenha sido verdade, o fato é que o grande Louis fez daquele scat singing improvisado um novo estilo de cantar os seus solos vocais, e foi repetidamente imitado desde então.

Se alguém parar para ouvir o que Louis Armstrong fazia poderá notar que o scat singing do jeito que ele cantava nada mais era do que a vocalização do seu próprio instrumento, o mesmo fraseado e a mesma improvisação.

Este é, creio eu, um detalhe da maior importância, porque a evolução do scat singing jazzístico deu origem a formas mais sofisticadas ainda de interpretar uma música cantando.

Um outro estilo de cantar, com os mesmos princípios do scat singing, vocaliza os arranjos e solos musicais, com a ajuda de uma letra construída para este fim. Este estilo foi chamado de Vocalese.

E é neste estilo que se encaixou o grupo Les Double Six de Paris. O nome improvisado “Double Six” faz referência ao método de gravação chamado de “double-tracking” ou então “overdubbing”. O método consiste em gravar em cima de um material previamente gravado, e neste caso seria acrescentar uma segunda vocalização em cima da primeira, dobrando o efeito de vozes desejado, que é o de “encorpar” mais os arranjos vocais.

 

O Double Six gravou com vários músicos de Jazz, entre eles Dizzy Gillespie, interpretando clássicos do Bebop no estilo Vocalese:

As vocalizações deste disco são ousadas e muito bem estruturadas. Há momentos em que se pode “ouvir” os solos de Charlie Parker, parceiro de Dizzy Gillespie na década de 1940.

Les Swingle Singers

Já em 1962, o americano Ward Swingle ainda fazia parte do Double Six, mas partiu para um projeto ambicioso, que foi o de interpretar a música clássica barroca com a entonação jazzística.

Existiu, em um dado momento do estudo sobre o nascimento do Jazz em Nova Orleans, uma teoria que levava em conta a influência da música erudita quando os primeiros fraseados depois reconhecidos como “Jazz” começaram a surgir.

E dentro desta alegada influência aparece, de forma proeminente, a música composta por Bach. Desta forma, Bach teria sido o precursor da música jazzística, particularmente do lado da improvisação criada posteriormente pelos músicos de Jazz. Não só isso, mas a contínua variação de estilos, como o Be-bop ou o Hard Bop, por exemplo.

Sendo assim, o Vocalese se encaixa perfeitamente, e o scat singing também. Os Swingle Singers cantam as partituras de Bach com scat singing somente. A primeira dessas gravações foi Jazz Sébastian Bach, em 1963, para a Philips:

O álbum com as composições de Bach teve um segundo volume, e o grupo ainda focalizou Mozart e a música barroca em geral. No Swingle Singers aparece em destaque Christiane Legrand, irmã do compositor Michel Legrand:

O disco em elepê lançado no Brasil era Mono, e eu o sempre achei com um som abafado, os vocais parecendo estarem longe dos microfones. A versão em CD, do original estereofônico, incorporou ambos os volumes. Mas, mesmo assim, a captura deixa muito a desejar, e a mixagem idem!

Um detalhe sobre a audição desse disco lá em casa, durante a minha adolescência, foi o meu pai ouvir o disco e me perguntar o que era aquilo, se referindo ao scat singing. E ele não aceitou aquela vocalização de jeito nenhum, provavelmente achava uma aberração. Mas, se algo de bom eu tive dos meus pais foi a liberdade de ouvir o que eu achasse que era melhor para mim, e eu, beneficiado pela visão aberta e educadora dos meus pais, fiz de tudo para preservar a mesma liberdade perante os meus filhos, que assim também decidiram o que era melhor para os ouvidos e para o sentimento deles! Outrolado_

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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