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O chiaroscuro no filme A Menina de Ouro, de Clint Eastwood.

O chiaroscuro é um dos mais importantes  formatos de narrativa da linguagem do cinema. Foi usado por cineastas que marcaram época, para fascínio dos cinéfilos.

 

Um dos aspectos mais impressionantes e eloquentes da linguagem cinematográfica é o do uso de zonas de sombra na captura fotográfica. O contraste, convencionalmente chamado de Chiaroescuro (ou Chiaroscuro, se quiserem), é o resultado da iluminação que combina áreas claras com áreas escuras, resultando em um efeito de luz que dramatiza a cena.

A técnica remonta o período renascentista, principalmente na forma de pinturas dos grandes mestres, e eclodiu no expressionismo alemão, entre outros movimentos do cinema. Este método de narrativa cansou de ser usado, não só por cineastas que abandonaram a Alemanha, os quais, por motivos políticos, se mudaram para Hollywood, mas também por cineastas da era moderna, pós studio system, do próprio cinema americano, desde tempos idos.

Cineastas americanos de renome usaram este tipo de linguagem, mas por motivos que desconheço, o nome do ator/diretor Clint Eastwood eu nunca vi lembrado, e eu vou tentar corrigir isso.

Antes de mais nada, eu gostaria de esclarecer alguma coisa sobre a terminologia usada pelos cineastas americanos. Palavras da língua inglesa usadas nos roteiros têm muitas vezes um significado mais amplo, além do conceito previamente embutido nelas.

Por exemplo, black ou dark não se referem somente à cor da pele, mas sim escuridão ou sombrio, se for o caso. Assim, Clint Eastwood fez opção pelo dark como forma de narrativa, o que pode ser visto em vários dos seus filmes, como, o mais recente Million Dollar Baby (Menina de Ouro).

Recursos do chiaroscuro

O tom dark da fotografia é proposital, e o seu significado mais óbvio é mostrar que a vida do personagem e/ou as cenas têm embutidos nela um tom pouco otimista ou sombrio.

Mas, outros significados dão margem a interpretações diversas, como dizer para quem assiste que nada ali está muito claro, sob o ponto de vista evolutivo da estória.

Imagens com tom escuro são também as preferidas dos filmes de terror ou horror, tanto faz, para pegar quem assiste de surpresa. Nem sempre dá resultado, principalmente quando o cinéfilo já se cansou de assistir este tipo de sequência e já presume o que vai acontecer a seguir!

Em Cidadão Kane, Orson Welles usa zonas de sombra para ocultar o repórter investigador que está à procura de uma resposta para o significado de “Rosebud”, dita por Kane em seu leito de morte. A presença do personagem na sombra o torna uma figura obscura e misteriosa. A plateia não pode saber quem é ele.

Quando o cineasta Gary Graver esteve aqui em um seminário sobre restauração de filmes, ele fez pesadas críticas à edição de Cidadão Kane contida no DVD, que destruiu a linguagem de sombra pretendida por Welles, e esta gafe só foi depois corrigida quando o filme saiu em Blu-Ray.

O ator William Alland, confirmou, em um documentário sobre Orson Welles e Cidadão Kane, que o personagem do repórter (personificado por ele) era mesmo para ser um homem misterioso, ninguém podia saber quem era e porque ele estava à procura do significado de Rosebud.

O chamado Film Noir é outro gênero de cinema que usa zonas de sombra, desta vez em filmes policiais ou de suspense. Na maior parte das vezes, o personagem principal também tem características “dark”, significando, entre outras coisas, isolamento social ou solidão.

O termo “noir” vem do francês, que é literalmente traduzido por “preto”, mas neste caso o significado é mesmo “sombrio” ou “obscuro”.

Um bom exemplo de Film Noir é o thriller de 1949 O Terceiro Homem, The Third Man, clássico do diretor inglês Carol Reed, restaurado recentemente em 4K:

Tornar um filme sem muita clareza tem méritos inegáveis como narrativa, mas, às vezes, confunde quem assiste, ou deixa o filme sem respostas, vide Stanley Kubrick. Esta última prática é o que, em última análise, provoca a reavaliação do filme por cinéfilos ou cineclubistas.

Para mim, nunca foi incomum ouvir depoimentos de atores dizendo eles mesmos não entenderem bem o personagem ou o roteiro. Alguns diretores gostam de deixar por isso mesmo, para evitar uma possível interpretação errada por parte do ator. Em outras circunstâncias, o diretor dá liberdade ao ator para interpretar o personagem do jeito que ele ou ela achar melhor, e geralmente, no final, tudo se encaixa.

As zonas de sombra dão aos filmes uma graça e um apelo à sua revisitação, que, de outra forma, ele não teria antes. A iluminação é uma parte importante do processo de filmagem, e os bons diretores, para sorte de quem ama o cinema, sabem muito bem o que fazer com ela.

A propósito de contraste, iluminação e apreciação de cinema, é sempre bom lembrar que quando se assiste filme em casa, o ideal é ter um display com uma ampla gama na dinâmica de luz e cores da imagem, e neste ponto, a tela que eu ainda acho a ideal é a que usa a tecnologia OLED, e exibe a imagem em 4K HDR.

O OLED permite que o pixel fique totalmente apagado, chegando assim ao melhor nível de preto absoluto possível. [Webinsider]

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Cidadão Kane: Anatomia de uma obra prima

Cidadão Kane

A vida de Stanley Kubrick

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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