Os estúdios ingleses Advision e Olympic foram os locais onde o rock progressivo nasceu e cresceu. Muitas dessas gravações tiveram versões em até 5.1 canais.
O Rock and Roll foi uma música que surgiu na América, uma espécie de contrafação do Jazz tradicional, particularmente das variações da maneira de tocar piano, próximo dos anos de 1950, mas, ao longo do tempo, sofreu várias modificações.
Ao final da década de 1960, o rock começou a mudar irreversivelmente. É bem provável que uma parte importante dessas modificações resida no desenvolvimento e uso da música eletrônica. Basta lembrar que o disco Switched on Bach, gravado pela então chamado Walter (depois Wendy) Carlos, que vendeu horrores, apesar do conteúdo erudito.
Carlos e o Dr. Robert Moog aperfeiçoaram o Sintetizador que ele Moog havia criado, e usado naquele disco.
Os teclados e sintetizadores continuaram a ser aperfeiçoados seguidamente. Simultaneamente, estúdios ingleses também evoluíram. Ao final da década de 1960, as gravações passaram a ser feitas em máquinas Studer de 8, 16 e 24 canais!
Os grupos de rock emergentes, aproveitaram os aperfeiçoamentos de gravação, para compor e editar música com sons nunca antes gravados. O novo gênero foi chamado de Rock Progressivo, e é lembrado assim até hoje.
Os dois principais estúdios onde este tipo de música foi gravada, foram o Advision Studios e o Olympic Studios. Grupos como Yes, Emerson, Lake & Palmer e muitos outros passaram por lá, gravando álbuns hoje icônicos do movimento.
Em Tarkus, Emerson, Lake & Palmer prestam um tributo ao engenheiro de gravação Eddy Offord, que tornou grande parte daquilo possível:
O rock progressivo
Nem só de rock e sintetizadores viveram os grupos do rock progressivo. Eles recorreram à música clássica e à música medieval inglesa, entre outros gêneros de música.
Os já citados Emerson, Lake & Palmer gravaram ao vivo a peça de Mussorgsky “Pinturas em uma Exibição”. O tecladista Rick Wakeman (Yes) gravou discos separamente, sobre o mito do Rei Arthur e sobre as seis esposas de Henrique VIII.
Uma parte das composições foi feita, às vezes improvisada, com o uso de truques de estúdio, como fitas em loop, posição de microfones e manipulação das fitas magnéticas.
Na década de 1970 apareceram os discos quadrafônicos, e aí a maior parte desse material foi aproveitada a partir das fitas magnéticas de 16 canais ou mais. Com o advento do áudio digital de alta resolução, várias dessas mixagens foram novamente refeitas e lançadas em DVD-Audio ou SACD.
O elepê quadrafônico sempre foi de reprodução problemática. Assim, a mudança de mídia favoreceu o reaparecimento das gravações originais remixadas, Tubular Bells, por exemplo, foi lançado em CD, depois em SACD quadrafônico (com as mixagens originais do elepê) e em 2003 uma versão aprimorada em DVD-Audio 5.1 Muita gente achou a mixagem de 2003 exagerada, porque em alguns momentos o som dá a volta na sala, com o uso dos canais surround. Mas, a dinâmica é superior em todos os aspectos, e dá à musica uma vida nova!
Rick Wakeman lançou versões quadrafônicas em DVD-Audio, enquanto que o trio Emerson, Lake & Palmer remixou seus antigos discos para 5.1 em DVD-Audio também. O grupo Yes lançou uma versão 5.1 de alta resolução do seu icônico disco Fragile. Um dos discos em SACD mais vendidos foi a versão 5.1 do icônico Dark Side Of The Moon, do grupo Pink Floyd.
Todos esses lançamentos em mídia de alta resolução permitem apreciar o trabalho original das sessões de gravação, embora tivesse havido uma mudança radical de mixagem. As máquinas de 8 canais apareceram já em meados do fim da década de 1960, e foram substituídas por decks de 16 canais em curto espaço de tempo, no início a década seguinte,
Histórico pessoal na época do rock progressivo
Os meus colegas da faculdade mais chegados vieram várias vezes lá em casa, para ouvir música, regadas a caipirinha, bebida esta fácil de fazer, de custo barato e gostosa de tomar. Eu havia comprado o álbum duplo Jesus Christ Superstar, uma ópera-rock gravada em 16 canais no Olympic Studios, que fez sucesso.
O gosto musical dos colegas era muito variado. Vários eram apologistas dos discos do Yes, outros do Pink Floyd. Quando o grupo de teatro do campus resolveu ensaiar uma peça, me pediram para gravar a trilha sonora. E como eu tinha um gravador de rolo eu topei. Foi uma edição de excertos do conhecido “elepê da vaquinha”, gravado pelo Pink Floyd. A peça, apresentação única, foi um sucesso e o som de fundo não comprometeu.
O nosso grupo foi se distanciando, com algumas exceções, cada um tratando de estudar e estagiar em algum lugar. Eu conheci um estudante de eletrônica, para o qual levei um amplificador para consertar, Na casa dele, eu ouvi vários discos de rock progressivo que eu nunca tinha tomado conhecimento.
Já na carreira acadêmica, eu convivia com colegas egressos do campus da Praia Vermelha, e que trabalhavam no antigo Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais (NPPN). Na central analítica do Núcleo, trabalhava um engenheiro que se tornou meu amigo e que adorava áudio. Um dia, indo ao seu laboratório, eu o vejo trabalhando com rock progressivo tocando em uma fita cassete, o que me deixou surpreso, porque ainda naquela época, os audiófilos usavam fitas de rolo.
Tudo isso ficou no passado distante, porque alguns tipos de música tem a sua época e somente relembradas pelos colecionadores experimentados. Os elepês quadrafônicos não deram certo, e de anos para cá a mídia de alta resolução, como SACD e DVD-Audio, não é quase mais fabricada, e quando se acha algum disco de interesse o preço está lá nas alturas!
Outro fator limitante para os dias de hoje é a disponibilidade de reprodutores de mesa, principalmente para o DVD-Audio. A Oppo Digital pulou fora do mercado e o que sobrou custa uma fortuna.
Sem esses discos e reprodutores fica inviável lembrar todo o trabalho dos grupos de rock progressivo da década de 1970, e dos estúdios por onde eles passaram! [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.