Discos com filmes em mídia ótica continuam apresentando problemas, mostrando que a indústria ainda não resolveu totalmente este tipo de defeito.
Na época do Laserdisc, o disco era muito caro, principalmente porque a prensagem era muito complicada e de baixo rendimento. E, invariavelmente, o usuário era surpreendido com problemas na reprodução do filme, derivado de algum defeito na mídia, geralmente derivado da estamparia. A relação sinal/ruído, sinal analógico, já era por si só baixa e cheia de artefatos. E não adiantava limpar o disco ou o pick-up ótico.
O tempo passou, veio o DVD, mídia totalmente digital, e uma série de outros artefatos apareceram. Um deles, que irritou muita gente, foi a interrupção da reprodução nos discos de dupla camada. Os primeiros reprodutores de mesa tinham dificuldade de passar de uma camada do DVD para a outra. Normalmente, alguns segundos eram necessários para que a reprodução continuasse. Porém, logo a seguir apareceram discos que não tocavam a segunda camada de jeito nenhum.
O defeito foi chamado nos fóruns que eu frequentei de “Laser Rot”, ou seja, “Apodrecimento do Laser”. A expressão adotada é simplista e imprecisa. Nada tinha a haver com o pick-up ótico. Eventualmente, a Warner anunciou que a sua fábrica havia descoberto um defeito na cola que unia as duas camadas.
Eu nunca soube a que ponto o problema da cola afetou outras fábricas. Mais ou menos naquela época eu tinha alguns contatos no laboratório da Sony, que ficava no Rio de Janeiro, e em um dado momento, o pessoal de lá me pediu para ceder um desses discos, que eles enviaram para o Japão, para ser examinado na fábrica.
Depois de um certo tempo, o defeito nos DVDs de dupla camada acabou sumindo. Antes disso, os reprodutores de mesa já tinham resolvido a interrupção na reprodução derivada da troca das camadas. Eu nunca soube como eles resolveram isso, mas é fácil deduzir que tenha sido pelo aumento do buffer de memória dos aparelhos. Explicando melhor: o bitstream digital é sempre temporariamente armazenado em uma área de memória temporária, chamada de buffer. Este artificio de reprodução existe desde o lançamento do CD. Se alguém interrompesse a rotação do disco manualmente, a música continuava tocando. Se a parada fosse persistente, a música iria parar de tocar.
O mesmo continuou a ser feito nos reprodutores de DVD e Blu-Ray. O barateamento dos módulos de memória facilitou o design dos circuitos de reprodução, junto com o aperfeiçoamento dos pick-up óticos.
Avanços na fabricação e prensagem das mídias teria resolvido todos os problemas, mas infelizmente não foi o caso; discos Blu-Ray também pararam de tocar inesperadamente. Eu tive discos que pararam de tocar depois de alguns meses largados na prateleira, em perfeitas condições de manutenção.
Notem que qualquer disco ótico pode ser limpo de forma segura, com detergente neutro e/ou com flanela de microfibra. Então, nos casos onde há apenas a contaminação com qualquer detrito, basta uma limpeza e o problema está resolvido.
As lentes do pick-up ótico também podem ser limpas com segurança, usando um cotonete embebido com álcool isopropílico 99% puro, hoje comprado facilmente nas lojas de informática.
Tanto a limpeza do disco quanto da lente devem ser feitas com o necessário cuidado: o disco só pode ver limpo radialmente, nunca no sentido da sua rotação, e a lente deve ser tocada com muito cuidado, para evitar arranhá-la. Aliás, a limpeza de lentes deve fazer parte da manutenção dos players, porque mesmo com todo o cuidado que se toma não é possível evitar a entrada de poeira no drive de leitura.
O disco Blu-Ray é mais aperfeiçoado, mas é ainda mais crítico na reprodução
Na leitura de qualquer mídia ótica quanto mais informação digital deve ser lida na reprodução, mais crítica é a sua leitura. O Blu-Ray só foi exequível depois que se achou uma forma de aumentar a capacidade de memória das mídias. A qualidade da reprodução, entretanto, carece de uma diminuição da compressão autorada no vídeo (o áudio é bem menos problemático neste particular), aumentando significativamente o bitrate transmitido pela passagem do sinal via HDMI. É por isso, inclusive que se recomenda sempre usar cabos HDMI tipo “high speed”, isto é, de alta capacidade de transmissão de sinal e blindagem.
No Blu-Ray UHD (4K), o aumento do bitrate é ainda mais crítico e qualquer sujeira ou defeito de prensagem é rapidamente notado, às vezes depois de um certo tempo de uso. Abaixo, eu mostro os artefatos visuais na imagem fotografada durante a reprodução do filme 2001, Uma Odisseia no Espaço, que antes tocava perfeitamente:
Neste disco, todo o trecho inicial, com a sequência da Alvorada do Homem, foi afetado. Depois dela, o resto do filme toca sem problemas. Na imagem capturada dá para ver o bloqueio de transmissão do bitrate, provocando a deterioração parcial da imagem.
Discos com este tipo de problema podem chegar ao ponto de travar completamente a reprodução. Drives de computador capazes de ler discos 4K são igualmente afetados. No meu computador pessoal, eu montei um drive LG WH16NS40, de excelente capacidade de trilhagem. Tocando o disco 4K de 2001, observa-se a mesma limitação de reprodução. No Blu-Ray 4K do filme Hackers, recentemente comprado, o drive LG chega a parar completamente nas cenas em que o disco apresenta defeito.
Tal parada completa de reprodução no computador sugere que nem uma memória de cachê na reprodução resolve o problema, no meu caso, com 32 GB no banco de memória disponível. Pode ser que o sistema operacional também impeça o uso de mais memória temporária, mas, de qualquer forma, a falha está no disco e não no sistema.
Na Internet é possível se achar relatos de discos congelando a imagem em aparelhos novos. Às vezes, uma atualização do firmware resolve o congelamento. Mas, se for problema no disco não vai haver firmware que dê jeito.
Apesar de tudo isso, eu ainda quero continuar colecionando discos. Nas resoluções a partir de 1080p, o resultado compensa amplamente. Bem verdade que serviços de streaming podem ser satisfatórios, mas desde que se consiga ajustar o display ou projetor da melhor maneira possível.
Tais problemas de reprodução afetam muito mais o cinéfilo que é entusiasta do home theater, mas chateia todo mundo que gasta o suado dinheiro para comprar discos. Até agora, não é possível saber quando nós usuários vamos nos livrar disso! [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.