David Lean é um dos maiores cineastas de todos os tempos, diretor de filmes épicos, dramáticos e românticos, com imagens e trilhas sonoras que marcaram época.
É difícil discriminar, como colecionador e fã de cinema, qual o melhor filme que foi rodado pelo cineasta inglês David Lean. Realizador de filmes épicos de grande impacto, Lean teve importante colaboração na elaboração de seus roteiros do teatrólogo Robert Bolt, que foi um roteirista conhecido pelo excelente “A Man For All Seasons”, de 1966.
Também em 1966, no Cinema Vitória, na época equipado com projetores Philips DP-70, segundo me contou o Orion Jardim de Farias, foi lançado o épico Dr. Jivago, um dos mais espetaculares e mais dramáticos épicos jamais feitos até aquela época.
O Vitória tinha um som espetacular. Na abertura musical do filme, uma fanfarra toca um som alto de percussão, nos canais esquerdo e direito, e anuncia de forma majestosa a belíssima música de abertura composta por Maurice Jarre, que já havia colaborado com Lean no igualmente épico e impactante Lawrence da Arábia, lançado em 1962. Desta trilha, o Tema de Lara, junto com a própria personagem, fez muitos pais colocarem nas filhas o nome de Lara.
As controvérsias do filme
Dr. Jivago foi adaptado por Robert Bolt de um romance escrito pelo russo Boris Pasternak, recipiente do Premio Nobel de Literatura de 1958, mas foi perseguido na Rússia, por razões políticas e nem foi autorizado para receber seu prêmio. Tudo porque o autor disseca as raízes da revolução comunista de outubro de 1917, ao lado da vida romântica ambígua do bom doutor. Muitos ensaístas afirmam que Jivago seria o próprio Pasternak, uma espécie de autobiografia disfarçada de romance.
Jivago se torna órfão e sai do interior para Moscou. Lá ele forma em medicina, depois se envolve e se casa com Tonya, filha do casal que o adotou. Mas, com a primeira guerra mundial, implacável e com todos os sofrimentos dela advindos, Jivago reencontra Lara, por quem se apaixona.
O filme foi relançado algum tempo atrás, pelo British Film Institute:
A história de Jivago simboliza a mudança social desencadeada durante a revolução comunista: quem era abastado perdeu tudo, suas casas foram divididas e ocupadas pelos mais pobres, a liberdade dos indivíduos foi cassada e o estado impôs o que quis, contra quem quisesse. Quem não gostasse ou se opusesse, seria executado. Por causa deste lado bárbaro do credo comunista, a obra de Pasternak, e o filme de David Lean foram proibidos na União Soviética.
Na produção, grandes nomes do cinema fizeram parte do elenco, como Ralph Richardson, Siobhan McKenna e Alec Guiness. Vários dos atores e atrizes mais jovens, que participaram do moderno cinema inglês, estão Tom Courtenay, Rita Tushingham e Julie Christie, no papel de Lara, todos eles excelentes.
O filme é longo e cativante. O final é implacavelmente dramático, e muita gente chorou nas salas de cinema. A apresentação nas telas de 70 mm da época foi também impactante. Durante anos, eu achava que o filme tinha sido rodado em Panavision 70, como o fora Lawrence da Arabia, mas não foi. O negativo rodado foi mesmo Panavision 35 e depois ampliado e adaptado para 70 mm.
O filme foi depois reapresentado em projeção Dimensão 150, no Metro-Boavista. Nesta cópia, a narrativa de Alec Guiness foi dublada.
A Filha de Ryan
Em meados de 2013, eu tive o prazer de ajudar uma moça chamada Elizabeth Raffo a editar um texto que ela desejava ser publicado em inglês no site in70mm, sobre a sua visita aos locais onde David Lean havia filmado “Ryan’s Daughter”, na Irlanda. Um texto em português foi publicado pelo site. De fato, aquelas belíssimas paisagens embelezaram muito o visual do filme, não foi à toa que Elizabeth ficou cativa com elas.
O filme fez por aqui um grande sucesso. O público nem percebeu, que eu me lembre, a longa duração de mais de 3 horas de projeção. Originalmente rodado e apresentado em Super Panavision, a cópia que eu consegui ver foi em Panavision 35 mm, ironicamente, em um cinema que tinha aparelhagem de 70 mm.
Aqui, novamente, Lean tem a colaboração de Robert Bolt e Maurice Jarre. A estória é extremamente dramática, que gira em torno de Rosy Ryan, uma mulher jovem mal casada, que se envolve em um romance tórrido com o Major Randolph Doryan, um soldado traumatizado pela guerra. O drama se passa no lado Católico e conservador da Irlanda, sendo Rosy vigiada de perto pelo Padre Collins.
O renomado ator inglês John Mills está visualmente irreconhecível, no papel do idiota local Michael. O filme recebeu dois Oscars, um deles para Mills, como ator de suporte, com toda a justiça.
Da mesma forma como em Jivago, o tema de Maurice Jarre torna aquele drama um belíssimo e cativante espetáculo.
David Lean foi um cineasta de grande visão de como um filme épico e/ou dramático devem ser feitos. É uma pena que até hoje A Filha de Ryan não teve ainda lançada uma edição em disco de alta definição. [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
Uma resposta
Oi, Paulo. O texto me fez lembrar da “Ponte do Rio Kuay” e em termos musicais, “Grand Prix” com o ótimo Maurice Jarre”.