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First Blood: o cinema contra a guerra do Vietnam

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Com o falecimento recente de Ted Kotcheff, o fã de cinema inevitavelmente se lembra de First Blood ou Rambo, um protesto contra a guerra do Vietnam.

Com o falecimento recente de Ted Kotcheff, o fã de cinema inevitavelmente se lembra de First Blood ou Rambo, seu filme de grande sucesso, um protesto contra a guerra do Vietnam e sobre a volta dos soldados americanos naquela época.

 

No  dia 10 de abril de 2025 apareceu nas notícias on-line o anúncio da morte do cineasta canadense Ted Kotcheff, aos 94 anos. Seu nome de nascença, derivado de um filho de imigrantes búlgaros foi, como cineasta, várias vezes adaptado de William Theodore Kotcheff.

A sua filmografia é extensa, e detentora de vários prêmios, dentro e fora dos Estados Unidos, nas áreas de TV e cinema, mas eu não me lembro de ver o seu nome em destaque, antes de ser exibido o filme “First Blood” (no Brasil, “Rambo – Programado Para Matar”), que fez muito sucesso nos cinemas.

Nota-se que o título brasileiro se refere ao personagem exclusivamente, enquanto que o título original se refere ao ato de fazer jorrar sangue pela primeira vez, ou o início de uma beligerância violenta, se quiserem.

First Blood poderia ser interpretado como “quem começou a guerra foram eles”, no caso deste filme.

A situação do personagem foi alvo de vários filmes e documentários sobre a guerra do Vietnam. Dizem hoje os historiadores que John Kennedy queria tirar os soldados americanos de lá, mas depois do seu assassinato, seu sucessor Lyndon Johnson não só manteve os soldados lá como aumentou a escalada da guerra, favorecendo assim a indústria bélica, riqueza ilícita que fez parte das teorias da conspiração que cu conheço desde a minha época de estudante do colégio secundário.

Os protestos do cinema visaram não só mostrar os absurdos da guerra, mas principalmente os resultados provenientes da segregação social a que muitos ex-combatentes foram posteriormente submetidos em solo americano.

E este sim é o principal tema de First Blood: John Rambo, ex-combatente de elite, vai ao local onde queria achar um outro amigo e colega de farda, mas que ele não sabia ainda que havia morrido de câncer, por ter inalado o produto químico  desfolhante conhecido como Agente Laranja, extensamente usado naquela guerra.

Em sua passagem pela cidade vizinha, e procurando um lugar onde comer, Rambo é abordado pelo xerife racista Teasle, que quer ele fora da “pacífica” cidade que ele dominava. O nome da cidade aparece em um cartaz, chamando-a ironicamente de “Holidayland”, mas que de hospitaleira não ela tinha nada. A perseguição a Rambo começa ali. Em outras palavras, um herói de guerra, que havia recebido uma medalha de honra do congresso, havia sido esquecido e repudiado pela própria sociedade a quem ele serviu, sacrificando a sua vida.

O que Teasle e seus igualmente racistas ajudantes não contavam, e na realidade não sabiam, era que Rambo fora treinado como soldado de elite. Na sua vida em paz, ele faz o que pode para não entrar em conflitos, mas, neste caso, subjugado e humilhado de forma injusta, ele resolve reagir.

Vendo que não tinha saída, Rambo foge, e foi perseguido implacavelmente para receber o castigo pela fuga. Em um dos encontros posteriores nesta caçada, com o terrível xerife Teasle, Rambo faz a ele um apelo: ou esquece o assunto, ou ele irá iniciar uma guerra de proporções bíblicas. Mas, o orgulho de Teasle o impede de admitir que ele pudesse ser derrotado por um só homem. É quando então, a guerra lá de fora, chega a uma cidade americana.

O filme e seus protestos

Sylvester Stallone aparece na tela como coadjuvante da comédia Bananas, do diretor Woody Allen, em um papel discreto. Seu nome iria ter uma grande expressão frente ao público justamente como John Rambo.

First Blood faz um discurso veemente contra a guerra, nas palavras de Rambo antes de se entregar. A sua principal indagação é como as forças americanas, notoriamente superiores às dos vietnamitas, particularmente aos chamados vietcongs, não conseguiram se impor e ganhar aquela guerra. Além disso, Rambo se queixa de ter lutado lá e na volta sendo mal recebido e chamado de “baby killer” (matador de crianças vietnamitas). E isto de fato aconteceu, principalmente nos protestos da comunidade hippie, cujos membros sistematicamente se recusaram a ir para a guerra, depois de convocados!

O protesto de Rambo quanto aos americanos terem sido derrotados, ou não saírem vencedores, existiu. Em última análise, a guerra do Vietnam foi um fracasso militar sem precedentes, embora a guerra da Coreia não tenha fugido muito disso. Só que, no Vietnam, a quantidade de bombardeios e ataques aéreos foi muito superior, até mesmo aos da segunda guerra mundial. O estrago por agentes químicos, como o já citado agente laranja, foi devastador e matou muita gente. Muitos soldados voltaram da guerra com câncer.

Se alguém somar todos os efeitos negativos da campanha americana no Vietnam irá entender porque cineastas exploraram o assunto em muitos filmes e documentários.

No filme, Stallone, que co-escreve o roteiro, mostra um Rambo inicialmente pacifista, tentando entender como e por que a vida dele mudou tanto, vindo da guerra como herói e voltando para uma sociedade que o afastou, sem ter sido dado a ele pelo governo uma oportunidade de conseguir um emprego que pudesse lhe trazer um mínimo de condições de vida e dignidade.

Naquela guerra local de Holidayland, o Coronel Trautman (Richard Crenna), que treinou Rambo, vem ao local alertar o xerife onde ele estava se metendo. Tratman tenta vencer a arrogância do xerife e dos seus auxiliares, mas tudo em vão. A batalha, neste caso, só teria fim quando ele Trautman convencesse Rambo a se entregar. Aí, o filme mostra a sua segunda ironia: um ex-herói de guerra sendo preso por razões absurdas, depois ter que lutar por não aceitar ser preso por vadiagem, e no final lutar para sobreviver.

É gozado que, politicamente, muitas administrações americanas continuaram a fomentar ações de guerra, pelos mesmos motivos que nortearam a guerra do Vietnam, muitas vezes apoiadas pela mídia, que endossa este tipo de conduta, O próprio cinema também fez isso, valorizando a suposta supremacia do soldado americano. Um exemplo conhecido deste lado contraditório foi o filme Os Boinas Verdes, com John Wayne, de 1968. Aliás, a referência de Rambo como boina verde não aparece lá à toa!

Wayne era apologista da guerra doméstica contra os comunistas, e isso ficou muito claro nas suas atividades do Comitê de Atividades Antiamericanas (HUAC), que foi enfocado no filme Trumbo, que devassa a lista negra de Hollywood.

Por outro lado, é fato que os Estados Unidos mudaram muito, desde que perderam a hegemonia da guerra fria, sendo hoje em dia um país muito mais direcionado às suas atividades econômicas do que políticas. Acho eu que era de se esperar que algo deste tipo acontecesse algum dia. Em países totalitários como a China, por exemplo, que continua uma ditadura radical de esquerda, também a guerra propriamente dita se tornou muito mais uma batalha econômica!

Quanto a Rambo, depois do grande sucesso do filme, o personagem apareceu como herói de vídeo game, um deles da época do MSX. Os filmes em sequência ao primeiro, foram, na minha opinião, muito fracos e afastados do principal tema sobre a guerra, que justificou o primeiro filme. Transformar filmes em franquias é um hábito hollywoodiano, que desta vez não deu certo. [Webinsider]

 

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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