Em seu confuso artigo “A Web está morta. Longa vida para a Internet”, Chris Anderson da Wired profetiza, mais uma vez.
Embora seja difícil diferenciar Net (Rede) de Teia (Web), sua tese repousa numa tendência de concentração de interesses e atração em plataformas online mais completas e fechadas (o que ele chama de Internet) em detrimento de navegações à deriva (o que ele chama de Web).
Parece ser mais confortável ter um iPod, um iPhone, um iPad, uma camiseta I Love Mac e uma tatoo da maçã mordida no peito. Aparentemente tudo conversa mais facilmente com tudo e os aplicativos se integram com lógicas semelhantes.
Da mesma forma, o Facebook é uma plataforma que pode integrar muitas aplicações em seu microcosmo: sem sair de lá, você se relaciona, se diverte, se informa, se arquiva, se autopromove, se arruma na vida, se casa e continua com alguns prospects.
A profecia da hora também dá conta da facilidade de viabilização econômica desses ambientes “integradores” da Internet em oposição a modelos de negócios que ainda tateiam para sobreviver, em particular aqueles oriundos da mídia tradicional, em estado semi-catatônico.
Há muito tempo que a mídia desistiu de ser só informativa para investir na análise. E em matéria do admirável-mundo-novo-da-revolução-tecnológica, a análise vira profecia num piscar de olhos. Como a memória é curta, ninguém vai cobrar ninguém e fica tudo bem. Lembro-me de capas antigas da Wired que anunciavam a falência iminente da Apple por absoluta intransigência de integração com outras tecnologias, do estonteante domínio dos mundos virtuais à la Second-Life, da impossibilidade de sucesso de redes sociais fechadas como o vovô Geocities etc.
Nada disso aconteceu, mas quem lembra?
Pangloss diria que todo mundo lê a Wired justamente para evitar desastres iminentes.
Lembro-me de um profeta mais prosaico de quem assisti uma palestra com uma centena de entusiastas donas de casa em noite de alforria. Dizia ele ao anunciar suas visões: “No ano que vem, pessoas importantes morrerão. Outras não. O papa, talvez”. O papa “talvez” me fez gargalhar, que Deus o tenha, porque ele, de fato, finalmente, bateu as botas.
Mas a provocação do editor da Wired – damos-lhe o crédito de alguns chutes pro gol – encerra o modismo do momento: apontar o Google (que abre as portas da Web) como o grande irmão odioso e o Facebook (que acolhe todo mundo com conforto e segurança) como eterna princesa donzela.
Os Yankees são chegados demais na adoração de corporações e marcas. Todos os vieses das análises sempre recaem na apreciação dos negócios, das empresas ou – no caso específico da Wired – das personalidades por detrás delas. É como se nós, obedientes ovelhas, estivéssemos sempre sendo arrastados pelas tendências que elas criam ou – no caso específico da Wired – em adoração majestática aos capitães e suas geniais ideias.
Até agora, a única profecia com um mínimo de credibilidade é uma simples constatação: nesse admirável-mundo-novo-da-revolução-tecnológica, tudo muda rápido, tudo surge rápido e tudo morre rápido.
Portanto, ainda nos resta a torcida filosófica: entre a prisão da redezinha fechadinha toda formatadinha e pasteurizadinha, entre o modismozinho idiotizante e a liberdade, eu fico com a liberdade. Da World Wide (WIDE!) Web. [Webinsider]
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3 respostas
É gratificante ler uma crítica tão bem embasada e sintética como a sua.
Mas, seria o editor da Wired tão desprovido de talento e/ou qualificação para escrever coisas tão ridículas? Claro que não, sua real intenção é apenas garantir exposição e se manter em evidência, não importa o que irá acontecer, se as “previsões” não acontecerem, o importante é ele aparecer na mídia…..
É um recurso também utilizado por certos críticos de arte/música/cinema, escrever algo bombástico, ou críticas negativas sobre alguém ou algo consagrado ou em evidência e pronto: o medíocre aparece. No caso em questão isso ajuda a vender aquela sua bem diagramada – porém completamente inútil – revista.
Escrevendos estas besteiras ele,Cris Anderson, fere a ética e agride a nossa inteligência. Internet é sobre liberdade e não Corporações.
Fernand, estamos vivendo um momento de revolução onde muitos interesses estão em jogo.
O principal e maior obstáculo a enfrentar são nossas limitações como indivíduos e sociedade, sejam elas próprias ou atribuídas. Torna-se imprescindível uma conscientização coletiva, o discernimento do que é realidade e as instâncias que a envolve, sendo essa uma necessidade óbvia e premente.
Podemos escolher sermos, ou não, os “heróis da resistência”, através da liberdade de expressão que ainda temos nesse espaço comum a todos.
Parabéns pelo excelente artigo!
A luta continua… o/