A Nova Economia propagada com entusiasmo na década de 80 ainda não avançou, embora os pressupostos tenham se consolidado. O que falta para virar a chave?
Os historiadores ao analisarem as passagens e os eventos marcantes da História se preocupam em identificar e detalhar os pressupostos que antecedem ao período observado.
Tais observações apontam os fatos e os processos que influenciaram e influenciam o presente e servem como matéria-prima para a formulação analítica de um determinado registro histórico.
A Nova Economia propagada com entusiasmo na década de 80 ainda não avançou efetivamente, embora todos os seus pressupostos tenham se consolidado no decorrer das demais décadas seguintes. Bem, se as condições e os fundamentos existem e se as promessas sempre foram entusiasmadas, o que falta?
De forma simples e objetiva: “uma virada de chave”.
A simplicidade da frase oculta que essa virada não depende de uma chave qualquer. Neste caso, observa-se o peso da mesma virada da fase da produção agrícola para artesanal, desta para industrial e finalmente para informacional.
Embora existam controvérsias sobre o termo ideal para a última transição, adota-se esse termo: Informacional, apenas para uniformização da denominação da revolução causada pela chegada da informática e da Internet.
As duas primeiras transições de modo de produção geraram choques entre os modelos socioeconômicos, que causaram mudanças estruturais capazes de estimular em diversas regiões do planeta reformas, revoluções, pequenas e grandes guerras.
Embora menos visível, a transição informacional também provoca inúmeras batalhas, algumas sem o derramamento explícito de sangue, mas podem ser tão devastadoras quanto as guerras de ocupação territorial. Isto significa que a mudança do modo de produção informacional para a verdadeira Nova Economia não será tranquila e natural como alguns estudiosos chegaram a prever.
Mesmo que o ensaio da resposta já seja perceptível é importante reforçar que essa tal Nova Economia ainda não alcançou resultados contundentes, pois a chave não foi virada por completo. O que se verifica é o modelo capitalista clássico se apropriando das possíveis mudanças provocadas pela Revolução Informacional, impedindo-a de atingir seu grau mais elevado de transformação.
Modo de produção e modelo de propriedade
Mas afinal, de que chave estamos falando? Na verdade essa chave se bifurca em duas, mas elas fazem parte do mesmo corpo e são indissociáveis: estamos falando do modo de produção e do modelo de propriedade atrelado ao bem, que precisam estar umbilicalmente afinados para sustentação do novo modelo econômico.
O modo de produção precisa de um arranjo diferente das forças e das relações produtivas, que favoreçam a colaboração e a cooperação.
E um novo modelo de propriedade, que permita a convivência entre os interesses público e privado.
Entretanto, o que temos hoje de forma efetiva é a propagação exponencial da produção de bens denominados intangíveis, dada a sua característica de imaterialidade e abundância.
De maneira simplificada, uma foto impressa é tangível, uma foto compartilhada pelas redes sociais é intangível. Os bens intangíveis com o advento da Internet potencializaram sua reprodução em tendência geométrica.
A intenção é alertar que os pressupostos existem e que todos já são empregados atualmente pela grande rede, de forma assíncrona, dispersa e artificialmente controlada. O favorecimento deste artificialismo recai, em especial, para o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação. Não por acaso as empresas, seus sócios e investidores, são os maiores concentradores de riquezas atualmente.
Contudo, faltam duas iniciativas que são complementares e podem facilitar a “virada da chave”.
Primeiro uma experiência efetiva que una todas as pontas desse modelo econômico novo, respeitando as estruturas, os atores e as relações negociais preconizadas pelo modelo.
E segundo, a determinação de uma política de Estado que incentive esse novo modelo, desembocando num ecossistema que represente essa Nova Economia.
Isto significa que os pressupostos já podem ser executados de maneira conjunta, e assim como passamos nas transições econômicas anteriores, teremos a força do exemplo efetivo para girar a chave.
O modelo subjetivo da Nova Economia
O que enfrentamos a História nos ensinou: a resistência daqueles que vivem dos modelos econômicos vigentes, a apropriação indevida do novo modelo e uma apatia social que dificulta os experimentos inovadores.
Soma-se o fato de uma compreensível falta de coragem das lideranças e da sociedade em evoluir o modelo teórico e prático, que inclusive poderá não ser chamado de “economia”. Este termo vem do grego oikos, que significa da casa, de uma nucleação, de um objeto concreto.
Já a verdadeira “Nova Economia”, vem do intangível, do subjetivo, do aberto, do “fora da casa”.
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