Há muito tempo que não votamos com o sentimento de mudança, mas apenas para evitar o caos e o País não parar inteiramente.
Eu vou além da discussão se o ex-presidente deveria ou não estar prso, já que as provas são bastante robustas e a narrativa da esquerda de uma conspiração de proporções globais de instituições, juízes, governo americano e sabe-se lá mais de quem é frágil e embaraçosa.
A minha intenção aqui é abordar o interesse de muitos pela candidatura do homem que hoje se encontra preso em Curitiba.
Por qual razão há muitas pessoas que o querem novamente no poder?
Há obviamente uma legião de políticos que precisam dele para reforçar seus palanques e, dessa forma, conseguir a manutenção dos seus mandatos.
Há também os milhares de sindicalistas que mantém estreita relação com o ex-presidente e o Partido dos Trabalhadores. E, evidentemente, há milhões de cidadãos que direta ou indiretamente se beneficiam com cargos, verbas e, digamos, “facilidades.”
Toda essa legião de interessados no retorno do ex-presidente ao poder vem construindo uma narrativa simples, mas bastante eficiente: tirar o foco dos crimes em si e exaltar até a última gota de suor tudo que o homem hoje preso em Curitiba fez durante seus dois mandatos presidenciais.
Inclusão social, crescimento econômico, combate à corrupção, níveis de inflação, desemprego, acordos comerciais, etc etc. O que muitos não percebem é que ao insistir nessa retórica, a esquerda brasileira está enviando para todos nós uma embaraçosa mensagem.
Embaraçosa mensagem
A mensagem é muito simples: a prática política no Brasil é tão nojenta, tão corrupta, tão nebulosa, que os crimes cometidos pelo ex-presidente não são suficientes para descredenciá-lo como candidato. É a lógica do sujo falando do mal lavado. Que pessoa diretamente envolvida no processo político brasileiro tem a capacidade moral e ética de apontar o dedo para o ex-presidente? Ninguém? Talvez alguns poucos.
E, assim, aproveitando-se da obscuridade geral da política brasileira, a esquerda tenta a qualquer modo viabilizar a candidatura do hoje preso com o simples argumento que no campo moral são todos iguais.
A que ponto chegamos: se todos são iguais no campo moral, então não podemos utilizar tal critério como definidor de voto. Os cidadãos são, assim, obrigados a considerar outras questões como, por exemplo, políticas sociais, inclinações religiosas, visão econômica, dentre outras.
E, dessa forma, os brasileiros de quatro em quatro anos vão elegendo e reelegendo presidentes, senadores e deputados sem moral e credibilidade; apenas por algum alinhamento ideológico ou interesse específico.
Em suma, nós cidadãos mantemos a máquina da política girando porque bem ou mal precisamos dela para que o País continue funcionando. Mesmo representados por pessoas nas quais não confiamos — pelo contrário, desconfiamos e muito — nós continuamos elegendo e reelegendo políticos porque precisamos assegurar que o sistema continue rodando.
Há muito tempo que não votamos com o sentimento de mudança, mas apenas com a percepção que se não indicarmos alguém para o preenchimento de cargos no Executivo e no Legislativo o País parará inteiramente. É apenas para evitar o caos.
Outrolado_
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Artur Salles Lisboa é autor de “Palavras de Sobrevivência” e “Pequeno Mundo.”
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Artur Salles Lisboa de Oliveira
Artur Salles Lisboa de Oliveira é especialista em Escrita Criativa pela Universidade da California Berkeley. Twitter @artur_slo.