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Não chega a surpreender que The Daily não tenha surpreendido ninguém. O magnata Rupert Murdoch já demonstrou, inúmeras vezes, entender muito de ganhar dinheiro e pouco de jornalismo. A chance de redenção, embora tardia, surgiu ao abraçar e bancar The Daily, jornal exclusivo para iPad – o tablet da Apple –, lançado na quarta-feira (2/2) depois de meses de expectativa.

Disponível, por enquanto, exclusivamente para leitores-usuários nos Estados Unidos, o Daily não passa de versão reduzida e mesclada, bem colorida e obviamente multimídia, do New York Post, um jornal de segunda (para alguns, de quinta) categoria da News Corp. de Murdoch, a mesma dona da Fox, Sky, DirecTV — e a lista segue.

O New York Post vende bem, a exemplo de todos os jornais populares no mundo, inclusive no Brasil. Se, para o mercado, vender bem é sinônimo de bom jornalismo, o Daily é um sucesso: muitas fotos do mundo fashion, fofocas de celebridades e “matérias” bem curtas cujo conteúdo perde lugar para a forma.

Qualquer semelhança com os piores jornais populares – no Brasil, apenas copiamos a fórmula – não é mera coincidência. Até o discurso é parecido. Em entrevistas, Murdoch faz questão de frisar que a redação do Daily já emprega 100 pessoas, entre editores, repórteres, designers e videographers. Fazendo o quê ninguém sabe direito, mas certamente cortando e recortando bastante.

Sudoku e palavras cruzadas

A expectativa de Murdoch é atingir 50 milhões de pessoas, pois esse é o número que o mercado espera vender de tablets em 2011. Pelos próximos dois anos, o Daily será exclusivo do iPad da Apple. Não há dúvidas, ainda, de que dinheiro será problema. Todo mundo quer anunciar no Daily. É a moda do momento, a exemplo do próprio iPad. Dinheiro em caixa, anúncios, monitoramento dos leitores-usuários, muita mídia espontânea e gratuita. Para os padrões de hoje, aparentemente parece significar jornalismo sério e inovador.

Se você espera uma experiência diferente ao ler o Daily, baixe um pouco a guarda. É diferente se você nunca leu nada na internet ou, talvez, não faça ideia de como funciona um tablet ou até mesmo um smartphone. O conteúdo multimídia é óbvio, dentro das possibilidades oferecidas pelo iPad: ao girar a tela para a horizontal, ganha-se destaque para as fotos e vídeos. Na vertical, para leitura das curtas notícias. Usa-se muito o toque e os dedos para passar (e não “folhear”, como gostam os jornais brasileiros) as matérias e imagens.

Não há nada diferente do esperado por um motivo simples: o diferente — e daí a origem de toda a expectativa até então — deveria ter sido o conteúdo e a apresentação do novo jornal. Infelizmente, ficamos a ver navios. Se vale como consolo, o Daily oferece sudoku e palavras cruzadas para fazer valer os 99 centavos de dólar de cada edição diária.

A conferir a versão brasileira que, a exemplo da original, é aguardada com ansiedade. [Webinsider]

* publicado originalmente no Observatório da Imprensa (fev/2011)
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Avatar de Paulo Rebêlo

Paulo Rebêlo é diretor da Paradox Zero e editor na Editora Paradoxum. Consultor em tecnologia, estratégias digitais, gestão e políticas públicas.

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3 respostas

  1. Virou moda. Hoje todo o mundo jornalístico tem se voltado para o tablet da apple como forma de faturar mais nesse mercado minguado.
    A estratégia pode compensar a longo prazo, porque uma coisa é certa: os tablets vieram para ficar.

    Uma correção ao autor e ao Fabian, do 1o. comentário: São US$ 0,99 por semana e US$ 40 por ano, as assinaturas via In App purchase.

  2. Mas a proposta do The Daily é examente essa: ser popular. Até pelo preço, que é 0,99 por mês e não por edição diária.

    O Wall Street Journal por exemplo tem um aplicativo ótimo para iPad, mas que só se torna completos para assinantes das edição impressa.

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