Estátua da Liberdade, um site de relacionamentos e um dispositivo para iPod. Estabelecer uma relação entre eles pode parecer um desafio. O que os aproxima é o fato de que, em todos esses casos, a interação e união foram as principais forças para o seu desenvolvimento.
Uma multidão de pessoas em ação coletiva e colaborativa para levantar fundos para realizar ideias, projetos ou ações de pessoas ou organizações. Essa é a base do financiamento colaborativo, ou, crowdfunding como é mais conhecido.
Apesar do conceito ser recente já existia, em outros formatos, há séculos atrás. E uma das histórias mais conhecidas é a do presente oferecido pela França aos Estados Unidos na comemoração do seu centenário em 1876: a famosa Estátua da Liberdade.
O que muitos não sabem é que para conseguir arrecadar fundos para a construção da escultura e de seu pedestal, franceses e americanos tiveram que criar loterias e campanhas de doação, nas quais, ofereciam em troca pequenos modelos da estátua a ser construída.
Inicialmente, iniciativas de crowdfunding envolviam doações para causas sociais ou projetos sem fins lucrativos. O seu uso foi ampliado para aquisição de empréstimos (chamados Peer to Peer Lending), microcréditos, ou ainda, capital baseado na participação sobre os lucros do novo projeto ou negócio.
Entretanto, as iniciativas de maior crescimento nos últimos anos foram as que envolviam doações para projetos criativos em cultura e tecnologia com a oferta de recompensas, fossem elas produtos, serviços ou experiências.
E com isso, as iniciativas de maior crescimento nos últimos anos foram as que envolviam doações para projetos criativos em cultura e tecnologia com a oferta de recompensas, fossem elas produtos, serviços ou experiências.
A rede social Diaspora ou o dispositivo para iPod TikTok/LunaTik são exemplos do crescente sucesso do crowdfunding, respectivamente, vinte vezes mais e sessenta vezes mais que o custo inicial necessário para o projeto no site Kickstarter.
O próprio Kickstarter revela estatísticas surpreendentes para o financiamento colaborativo: em 2010 foram 3.910 projetos financiados e mais de 27 milhões de dólares em contribuições
E no Brasil o crowdfunding também começou a todo vapor, tanto que para cada segmento já é possível encontrar sites de financiamento colaborativo. Com foco em projetos criativos e culturais, por exemplo, lançamos recentemente o Produrama. Enquanto isso, uma outra empresa apresentou ao mercado o Senso Incomum, voltado para financiar ações sociais. E no que diz respeito ao microcrédito há o Fairplace.
E os novos sites surgem diariamente. Outros, porém, procuram focar em nichos específicos como o Queremos, que atua exclusivamente no crowdfunding para realização de shows internacionais no Rio de Janeiro – RJ.
Tendo em vista o atual e polêmico debate gerado em torno da aprovação pelo Ministério da Cultura, nos termos da Lei Rouanet, do projeto “O mundo precisa de poesia”, um blog dedicado à poesia através de performances em vídeo sob direção artística de Maria Bethânia, a discussão de formas alternativas de patrocínio a projetos criativos se torna fundamental para o desenvolvimento da cultura e da economia criativa no Brasil.
É muito comum que empresas forneçam capital apenas a projetos de artistas famosos para se beneficiarem de propaganda gratuita paga por leis de incentivo fiscal. Essa, inclusive, é uma das maiores críticas à Lei Rouanet. É exatamente nesse espaço que o crowdfunding pode atuar complementando as ações governamentais de incentivo cultural.
Dados do SalicNet (Ministério da Cultura), referentes a utilização da Lei Rouanet, mostram que em 2010, por exemplo, incentivos de R$ 6,4 milhões foram submetidos à aprovação, dos quais R$ 4,4 milhões foram aprovados. Em contrapartida, somente R$ 714 mil foram efetivamente aplicados nos projetos aprovados, ou seja, apenas 11% do valor total apresentado e 16% do total aprovado.
Vemos, portanto, que há um enorme abismo entre o que os projetos pretendem levantar em termos financeiros e o que eles conseguem, de fato, captar.
As vantagens do financiamento colaborativo em relação a outras formas tradicionais de financiamento são a agilidade, simplicidade, menor burocracia, baixo custo e risco, total autonomia e preservação de 100% dos direitos autorais (morais e patrimoniais).
Além disso, ainda há a possibilidade de arrecadar fundos através do próprio público para o qual o projeto cultural ou criativo será direcionado, servindo como uma plataforma complementar de divulgação e fortalecendo a relação entre o criador do projeto e o público-alvo, o qual tem a oportunidade de se tornar parte do processo criativo. Também há muitas vantagens para quem deseja apenas testar a aceitação de um conceito, produto ou ideia.
O crowdfunding não é simplesmente um fenômeno, é também uma realidade que já tem sua viabilidade comprovada em diversos países. É fundamental que passemos a pensar sobre uma nova forma de consumo e financiamento para acompanharmos essa nova realidade. [Webinsider]
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7 respostas
Um conceito parecido é o crowdsourcing, que serve como motor de criatividade para gerar ideias.
Tem um site chamado http://www.fixdeia.com.br onde a pessoa divulga uma ideia e outras podem comentar e lançar outras relacionadas aprimorando a sua ideia original….é como uma rede social q conecta as pessoas através das ideias.
Oi Silvia, seu post ficou muito bom!! Parabéns!
É muito legal ver o crowdfunding divulgado por aqui e lhe agradeço por ter considerado a Senso Incomum em seu texto.
Concordo contigo que o “crowdfunding não é simplesmente um fenômeno, é também uma realidade…”. E neste sentido, como outros especialistas também apontam, veremos uma onda de serviços e experiências web que irão explorar o potencial do financiamento coletivo, sendo que os empreendedores que entenderem bem como isso funciona terão criado não somente instrumentos de comércio inovadores, mas também instrumentos de cultura e engajamento social.
Até mais!
Olá Silvia, devo ter me expressado mal. Quando falo na falta de capacitação criativa do brasileiro, me refiro ao visual propriamente dito. Os layouts são uma cópia mal feita dos grigos. Não culpo os designers, pois com certeza suas intenções são as melhores. Na verdade a culpa é o marketing tupiniquim. Trabalho com criacão on-line e o que mais ouço é: queremos o visual igual tal site gringo…isso é frustrante. Repito, a idéia é fantastica a questão é aplicar isso (visualmente) a nossa realidade.
Abs
Ótimo artigo, parabéns!
Me fez pensar em uma idéia: se prosperar, entro em contato!
Olá Carlos,
Respeito a sua opinião. Mas não vejo como algo negativo tentarmos trazer uma ideia que está crescendo lá fora e possui grandes possibilidades e aplicação aqui no Brasil. O crowdfunding é algo novo e um dos objetivos de trazê-lo para cá é analisar como sua evolução se daria para nossa realidade para, a partir daí, tentarmos adaptá-lo para o que construimos aqui. Criar não é apenas fazer algo totalmente original, pensar em soluções novas para o problema do financiamento de projetos criativos, principalmente em cultura, no Brasil, também é criação. É disso que falo no texto, se o crowdfunding servir para que ocorra uma reflexão sobre esse tema, ele já terá um propósito imenso.
Abraços,
Sílvia
É impressionante a falta de capacitação criativa do brasileiro no que diz respeito ao desenvolvimento de novos produtos digitais. Os sites citados são uma cópia mau feita dos gringos. Toda a estrutura é copiada, os “criadores” não se preocupam nem um pouco com a originalidade. Na minha opnião ainda temos muito que aprender. A idéia é fantastica,como várias outras que surgem a cada dia. A questão é aplicar isso a nossa realidade.
Abs
Carlos