Bons fluidos
As ações de velhos conhecidos que andavam meio desacreditados voltaram a se valorizar significativamente. Yahoo, Ebay, Amazon, Expedia, entre outros, voltaram a ter uma capitalização de mercado equiparável a gigantes corporativos “de tijolos” com tradição de décadas.
Os sobreviventes ao estouro da bolha mostraram que não são uma daquelas idéias mirabolantes sem o pragmatismo dos resultados de receita. Mudanças do modelo de gestão informal nos tempos empreendedores da bolha para uma gestão profissional, baseada em planejamento estratégico, reativaram a confiança dos investidores.
Particularmente Yahoo, MSN e AOL estão obtendo um bom nível na eficiência na geração de receita através de acordos com empresas de telecom para provimento de banda larga – que é a premissa para serviços de conteúdo e aplicações funcionais com suficiente valor para justificar a a$$inatura por parte do usuário. Jogos, música digital, e–mail premium e vídeos compõem uma variedade de ofertas em conexões de alta velocidade que transformaram Yahoo, MSN e AOL em verdadeiros parques temáticos digitais. Estes serviços tendem a ser projetados para que haja uma relação de simbiose entre eles, ou seja, uma retroalimentação de usuários visando o crescimento do “parque” como um todo.
A diversidade de fontes de receita cria também uma situação mais segura para estas empresas, que agora não estão mais limitadas a ISP e publicidade como geradores de caixa. O Yahoo chegou a ter há alguns anos 90% de sua receita oriunda da publicidade. Os novos serviços pagos no Yahoo já chegam hoje a contabilizar um terço da receita, e devem chegar a 50% em 2004.
Claro, nem tudo são flores. Os brands destes serviços, especialmente o Yahoo, foram construídos em cima da noção da gratuidade da informação. Esta percepção resulta em uma “dificuldade” para muitos usuários em retirar suas carteiras dos bolsos.
Mal ou bem, as ações do Yahoo subiram 200% em oito meses. Ainda não está perto do valor de mercado no auge da bolha, quando a empresa chegou a valer US$ 127 bilhões de dólares – o que foi uma supervalorização típica da época. Mas nesta nova fase o Yahoo mostra que está de volta, que o mau tempo foi sazonal e está clareando.
A bolha
De forma sintética, o que possivelmente aconteceu durante a “bolha” foi que no final dos anos 90 forças do mercado fizeram acreditar que a perda do timing de entrada na nova economia seria um problema sério em médio prazo para corporações já estabelecidas. Assim, apesar da nítida supervalorização no preço das empresas que representavam a dita nova economia, muitas destas foram adquiridas pois acreditava–se que o custo de entrada seria compensado através de um ingresso rápido em um mercado em formação.
E geralmente nos segmentos de mídia, tecnologia e telecom, a questão tempo é fundamental – quem se atrasa perde o jogo, às vezes para sempre.
Assim, empresas com supostos novos modelos de negócio (as “pontocom”) lançavam seus papéis em IPOs para atrair capital, ou eram negociadas no mercado secundário em aquisições comumente supervalorizadas O que ninguém previa é que a nova economia não era tão nova quanto parecia, e o tempo de manifestação de suas principais características não seria tão curto quanto se previa. Assim, a maioria das aquisições resultou em fracasso e desinvestimento. Tudo isso foi agravado com uma onda puramente especulativa liderada por alguns bancos. Empresas com modelos de negócio exóticos e uma gestão amadora conseguiam captar investimentos significativos. Sem muita surpresa, estas empresas faleceram rapidamente criando uma percepção de descrédito.
I will be back
O fenômeno da bolha gerou insegurança e uma posterior onda de pessimismo quanto à internet que durou algum tempo. Mas, ao que parece, a dinâmica do mercado sabe selecionar o joio do trigo e o otimismo volta a reacelerar, mostrando que as empresas sérias do mundo online nasceram para sobreviver aos bons e maus momentos.
Em paralelo, a visão dos canais online (intranet, extranet, intranet) por parte das corporações passou também por um período natural de amadurecimento. Empresas dos mais diversos segmentos da indústria passam a enxergar estes canais como extensões de sua operação, e não uma unidade separada. Assim, corporações no Brasil iniciam investimentos na formação de canais de venda e relação com o consumidor B2C e B2B através da internet, extranets – e, ainda embrionariamente, por celulares. No mais, especialmente as corporações grandes vêem intranets como ferramentas poderosas para gestão do fluxo de informação interno e com fornecedores.
Não é esperado o acontecimento de uma nova bolha, até mesmo porque o mercado aprendeu suas lições. Mas o horizonte mostra que existe uma boa possibilidade de bons tempos á vista. Oxalá a metereologia esteja correta ;–) [Webinsider]
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Marcello Póvoa
Marcello Póvoa (mpovoa@mppinterativa.com) é fundador e diretor executivo da MPP Interativa.