Comunidades virtuais: quando o leitor é a notícia

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Uma nova forma de gerar conteúdo está ganhando espaço no mundo virtual – é o jornalismo colaborativo. Se até aqui a indústria da informação monopoliza o fato, agora o usuário também escreve.

No Brasil essa tendência ainda é incipiente – mas ela está no ar. O site Pessoas do Século Passado, por exemplo, é uma espécie de blog coletivo alimentado exclusivamente por histórias de internautas. Mas este material não entra direto no ar; antes, passa pela edição e aprovação da equipe à frente da iniciativa. A divulgação, assim como a produção de conteúdo, acontece de forma viral, por recomendação boca–a–boca dos usuários.

Nos Estados Unidos, um dos cases de sucesso da internet é o Slashdot, um site de notícias tecnológicas que não produz conteúdo da forma tradicional. É um catalisador de informação gerido por quatro geeks e abastecido pela colaboração de sua base de usuários.

O trabalho colaborativo não é novidade. As revistas científicas têm, entre outros, o propósito de compartilhar resultados de pesquisas. Herdeiro contemporâneo desta tradição, o sistema operacional Linux continua sendo aprimorado pela própria comunidade de usuários do programa – cujo código fica permanentemente aberto justamente para que os usuários possam adaptá–lo segundo suas necessidades e compartilhar as modificações através do site da empresa que licencia o aplicativo.

Open source como modelo de trabalho

O filósofo e pesquisador finlandês Pekka Himanen, que publicou com Linus Tovald e Manuel Castells um livro sobre o fenômeno Linux (veja extratos no site Hacker Ethic), detectou formas alternativas de pagamento para estimular a participação da comunidade. O prestígio, por exemplo, é uma moeda corrente no mundo dos hackers e programadores em geral. A fascinação desse grupo por jogos de RPG e simulações de combate sugere a identificação com um sistema de valores mais parecido com o feudal: da mesma forma como um cavaleiro de armadura era respeitado pelas suas façanhas, o “techie” se torna popular quando invade o site do Pentágono, publica uma mensagem no SlashDot ou ao ter suas sugestões incorporadas ao código–mãe do Linux.

Além do prestígio, outro fator que motiva a participação voluntária pode ser explicado através do Dilema do Prisioneiro, um capítulo famoso da Teoria dos Jogos. Segundo esse Dilema, a primeira tendência do ser humano é ser egoísta. De acordo com sua lógica, geralmente quem quebra o retrovisor de um carro estacionado vai embora sem preocupar–se em pagar o prejuízo. Mas se o carro é de um conhecido, aumenta a probabilidade de se precisar da ajuda dessa pessoa no futuro e, nesse caso, vale a pena manter a amizade e arcar com o prejuízo. Resumindo: eu vou ajudar quem possa vir a me ajudar.

Mas vamos partir para exemplos mais mundanos que produtos como Linux e Slashdot, e que não servem a uma comunidade específica como é o caso destes produtos. O que sobra?

Um case asiático

Um site coreano está demonstrando que a colaboração é uma conseqüência natural em um mundo interconectado em tempo real. Na Coréia, onde 70% das residências têm conexão de internet por banda larga, o modelo de jornalismo colaborativo já tem um “case” de sucesso. Ohmynews (em coreano) é um site de notícias lançado há três anos e que funciona com o apoio de uma equipe de 26.300 internautas–repórteres cadastrados. Esses usuários recebem entre nada e 16 dólares para escrever cerca de 80% das matérias publicadas diariamente.

A mídia tradicional, preocupada com o sucesso do Ohmynews, critica a iniciativa dizendo que o modelo de colaboração permite que “marketeiros” e ativistas políticos influenciem a opinião pública plantando notícias falsas. É para evitar que isso aconteça que o Ohmynews tem 38 editores e repórteres profissionais que checam os fatos enviados antes da publicação das matérias. E está funcionando: até hoje, apenas duas notícias levaram a processos por difamação contra o site.

A popularidade da nova proposta aumentou em junho do ano passado quando um veículo militar americano atropelou e matou acidentalmente duas estudantes coreanas. Um “internauta–repórter” escreveu uma nota convocando a população às ruas para protestar e resultado foi uma das maiores manifestações da história recente da Coréia. Outro exemplo da importância do Ohmynews veio do novo presidente eleito, Roh Moo–hyun, que escolheu o site para dar sua primeira entrevista como mandatário.

E no Brasil?

As idéias de trabalho colaborativo associadas à nova mídia estão no ar e a ponto de condensação. A popularidade do blog tornou a ferramenta obrigatória nos grandes portais. E o blog é muito mais que uma publicador de amenidades da vida privada: é uma solução ao mesmo tempo simples e versátil e que está sendo levada a sério por seu potencial jornalístico por gigantes da mídia como a MSNBC.

Além do blog, a mídia vem adotando outras ferramentas de comunidade para estabelecer contado de duas vias com o público. A Globo lidera o comboio fortalecendo seus programas de TV associando–os a páginas interativas e divulgando a iniciativa. O e–mail foi adotado pela imprensa escrita para estimular o contato entre leitores e jornalistas. O rádio segue o mesmo caminho: no Programa Pânico, transmitido em rede nacional pela Jovem Pan FM para uma audiência de 20 milhões de pessoas, locutores conversam com ouvintes em tempo real através de chats. E dentro mesmo da web existem iniciativas maduras como a lista de discussão Radinho de Pilha, que reúne uma massa crítica consistente de profissionais da internet que se ajuda mutuamente compartilhando conhecimento. Então, o que falta acontecer?

Receita de bolo

Falta aplicar com consciência o princípio ativo da internet – a interatividade – para despertar comunidades para o trabalho colaborativo. Falta identificar e atrair grupos que sejam formadores de opinião e estejam capacitados para usar a internet como ferramenta de trabalho. E, sobretudo, falta visão do mercado, já que em tempos de recessão como agora, a colaboração possibilita um processo de trabalho eficiente, enxuto e dinâmico. Além do mais, a colaboração gera fidelidade porque, ao dar à comunidade maior poder de decisão sobre o produto, reflete melhor as expectativas dela.

Existe uma variedade de soluções shareware na internet, como o WebCrossing, que disponibilizam ferramentas completas de colaboração online, incluindo chat, blog, mural de mensagem e as listas de discussão. Aliás, a lista, que passou para segundo plano com o aparecimento do chat e do blog, é um dos produtos mais antigos da Era Digital e que continua entre os mais poderosos agregadores de interesses na rede.

Para os empreendedores que sobreviveram à crise e para os muitos órfãos das ponto–com, desenvolver um site com conteúdo colaborativo pode ser um modelo de negócio promissor. Exige–se um investimento baixo – o registro do domínio, o valor da hospedagem e um trabalho de cultivo da comunidade relativamente pequeno e que pode adequar–se ao esquema de freelas já bastante difundido entre profissionais brasileiros. Por isso, o verdadeiro desafio está em popularizar o conceito através da experimentação em um processo de tentativa e erro envolvendo ferramentas da web, da telefonia celular e da mídia tradicional. E aproveitando o assunto e que esta é uma revista digital, por que não pôr mãos à obra mandando os seus comentários? [Webinsider]

.

Avatar de Juliano Spyer

Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

2 respostas

  1. QUAIS SÃO OS TIPOS DE SERVIÇOS QUE SÃO FORNECIDOS, PARA QUE EU POSSA ME ENTREGAR NESTE TRABALHO, GOSTARIA DE SABER O QUE DEVO FAZER, POIS SEI QUE AINDA PRECISO APRENDER MUITO, GOSTARIA QUE SE POSSIVÉL, VOCÊS ME AJUDASSEM A ME INTEGRAR,NESTE TIPO DE TRABALHO.
    ESPERO POR MAIS INFORMAÇÒES,

    ATENCIOSAMENTE: O MEU MUITO ,OBRIGADO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *