Para abrir uma reflexão sobre como estamos trabalhando, vivendo e atuando nessa “sociedade eletrônica”, começo este post com uma frase do Jim Collins, dita na última Expomanagement, em 2010, em São Paulo: “Se a transformação do ambiente externo às empresas vem sendo provocada por pessoas, a transformação do interno depende delas para acontecer.”
“A cultura vive de sedução, não de regulamentação; de relações públicas e não de controle policial; da criação de novas necessidades, desejos, exigências, não de coerção. Esta nova sociedade é uma sociedade de consumidores”. Palavras ditas pelo sociólogo Pierre Bourdieu, estudioso dos comportamentos sociais, que mostram indícios de uma sociedade cada vez menos sem regras e mais imagética.
Construída com laços fortes com o consumo e o capitalismo desenfreado.
Contudo, diante deste cenário de uma sociedade estimulada por um mercado canibal e incitadora da “obsolescência instantânea” seja de produtos, sejam de desejos, a cultura e a identidade humana acabam se tornando mais um componente de venda neste grande armazém que é o mercado.
Onde clientes – pessoas físicas e empresas, consomem o desejo renovado a cada nova oferta, sempre estimuladas pela sensação de estar levando vantagem em relação a outro. De exclusividade e pertencimento único, mas que é apenas mera momentaniedade provocada.
Enfim, vivemos a obsolescência do sentimento, que tem ansiedade e não espera, apenas cultiva seu desejo por novidades. Em um ciclo de sobrevivência cada vez mais curto. Ou seja, o desejo tem prazo de validade. Como sua beleza e os produtos que você usa.
Isso me faz refletir sobre termos como tradição, solidez e relacionamento. No mesmo sentimento de que exigimos empresas sólidas e seguras que resguardem nosso dinheiro, temos atitudes contrárias em nossas relações humanas.
Como se vivêssemos uma antítese humana entre “exigência e entrega”. Exigimos confiança, mas entregamos pouco dela. Exigimos fidelidade do outro, mas entregamos cada vez menos (com produtos e pessoas). Parece uma liberdade maquiada. Ou será puramente diante de tantas eras: a Era da Desconfiança?
A capacidade de “durar” hoje é pouca, como é cada vez menor a capacidade de se amar e ter sentimentos. São paixões instantâneas. Porque o gosto em se “jogar fora” ou “liberdade” em tomar suas próprias atitudes se torna tão latente e visível seja nos produtos, seja nas relações humanas, que o tempo para se criar significado perde-se. Ser descartado ou avaliado com altos graus de exigência é cada vez mais comum.
Neste contexto, o esquecimento se torna um componente da nossa sociedade. Esquecer é importante, para dar vazão às novas “tendências” ou “modismos”. Justamente esta falsa liberdade em se aprender e a esquecer o antigo. Talvez uma busca por uma identidade esquecida, ou
adormecida ou inventada.
Diante deste mundo repleto de incertezas e caminhos e variáveis, Zygmunt Bauman sociólogo polonês pergunta: Você vale tanto quanto o seu último sucesso? Uma vez que a capacidade de abandonar os seus últimos hábitos é mais importante que o aprendizado de novos. E a incerteza do novo sucesso vem da incerteza de novos cenários.
Assim, diante da frase de Collins, e as variáveis externas, vale compreender que as empresas se tornam co-autoras dessas mudanças que podem se perder diante de “suas criações”. Este pensamento é importante para compreender o nosso real papel como profissionais de marketing e de propaganda, ao utilizar de slogans e conceitos para campanhas.
Talvez estamos criando, ou estivemos criando “monstros” (ou reflexos na sociedade), que hoje chamamos de “variáveis incontroláveis”.
Pensemos melhor a cada nova campanha ou criação de produto para que o ciclo não se repita ou possamos aprender com o externo tanto quanto com nossas empresas. [Webinsider]
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Paulo Peres
Paulo Peres (paulocomunica@gmail.com) é publicitário (perfil Linkedin) e mantém o blog Abrandando.