Certa vez, após aprovar material com um cliente e enquanto aguardava o táxi de volta, respondi a algumas perguntas sobre o meu currículo. Nada demais, até o momento em que comentei que migrei de uma grande empresa de publicidade, onde era produtora de advertising online, para um portal esportivo que iniciava operações no Brasil. Foi aí que veio a pergunta: – Ah, então você pegou a bolha?
Sim, a bolha assassina. No táxi de volta para a agência refleti sobre essa época, com uma mistura de nostalgia e espírito de luta. Me senti a própria Fênix. Eu não desisti.
Imaginei a bolha relacionada a um ser mitológico, uma espécie de Joana D´Arc com Atenas, que sofreu uma séria crise de esquizofrenia nos últimos dois anos – a força externa que até hoje dificulta um pouco o meu trabalho e o de milhares de outras pessoas no meio internet, mas que também faz com que o mercado melhore aos poucos e produza novas idéias a cada dia, mesmo em meio a tantas crises.
Ela chegou incendiando e quebrando tudo, revoltada com tantos projetos sem sentido avaliados em milhões. Mas depois, ao perceber que muitas pessoas trabalhavam sério e acreditavam no seu verdadeiro potencial, foi voltando atrás, implacável com os que não eram para o mercado e generosa com os que deveriam ficar. O nome dessa força é seleção natural.
Trabalho com internet e publicidade desde 1998. Sou tão apaixonada pela internet e pelo que ela nos possibilita que não consigo me imaginar em algum trabalho fora “da rede”. Ao mesmo tempo, sou tão apaixonada pela publicidade que acredito que a internet é o casamento perfeito para ela.
Porém, pela inexperiência e falta de pé–no–chão do início da internet, a bolha foi inclemente e a luta ainda é grande. Até hoje, quase quatro anos após o estouro, uma grande porcentagem das empresas clientes de agência utiliza pouco ou não utiliza o meio online como parte do mix de marketing.
Muitos clientes de agência acabam usando o meio online por conta própria, através de fornecedores que fazem o produto sem um planejamento estratégico, capaz de estar integrado às outras mídias, o que gera gastos sem resultados e aumenta a fama de que “a internet não funciona, não traz resultados”.
Por outro lado, a maioria dos clientes que opta por fazer as ações planejadas pela equipe da agência (muitas vezes com pouca verba, nos exigindo ainda mais criatividade) mantém as ações online após a quebra dessa primeira barreira, principalmente quando percebe que se planejada a ação traz resultados (isso me parece um pouco óbvio, parece para você também?).
Definitivamente a internet é o meio que mais impacta dentro do target, seja ele qual for. E sorte das empresas que perceberem isso o quanto antes, pois a convergência das mídias está começando com força total, e já começo a acreditar em 2005 como o ano para ações em palms e celulares, integradas às ações na web.
Não há como negar que a bolha deixou resquícios bons e maus, no mercado e nos profissionais. Hoje podemos ter real noção de sua ação devastadora. Mas acredito que chegamos ao ponto zero.
Se por um lado até hoje profissionais sofrem os resquícios e os estigmas da bolha (porque viram a internet nascer e crescer em progressão geométrica; a ascensão e queda do Netscape diante do Explorer; empresas recém–nascidas ficarem milionárias e morrerem endividadas em menos de três anos), por outro lado o mercado desinflacionou.
Os profissionais apaixonados pela rede prosseguem, trabalhando em dobro e em sua maioria ganhando a metade. Muitos que na época tinham os seus 17, 18 anos, hoje são excelentes profissionais, que trabalham sem frescura, com paixão pelo que fazem. Jovens empreendedores que aprenderam a não fazer como seus antigos CEOs. Os projetos milionários que não serviam para absolutamente nada sumiram, a máquina de imprimir dinheiro também.
Muitos profissionais com longos dois anos (ou menos) de experiência perceberam que não bastava saber HTML e Photoshop para ganhar muito dinheiro, mas sim que é necessário estudar muito, entender o mercado publicitário, de tecnologia, de marketing direto e entender do cliente. Inclusive para ser webdizainer ou qualquer outra web coisa.
Boa parte deles não trabalha mais com internet, pois se deu conta do esforço necessário para continuar num mercado que exige atualização constante de conhecimentos e muita criatividade para trazer os melhores resultados. Ou não se deram conta e foram expulsos mesmo.
Os salários desinflacionaram, os estragadinhos da web são cada dia mais raros. O profissional de internet hoje segue a mesma trajetória profissional que os de outras áreas, com muitos cursos de graduação e especialização. É um mercado ótimo para pessoas corajosas e curiosas trabalharem. Eu não o troco por nada. [Webinsider]
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Maira Costa
Maira Costa (maira.costa@thinktwice.com.br) é Diretora de Planejamento da Thinktwice Marketing de Inovação.
Uma resposta
É necessário estudar e nos atualizar constantemente para nos mantermos vivos em todas as áreas. Concordo com a SrªMaria Costa e fico feliz e agradecida por estarem disponíveis artigos como esse.