1. Não sou escritora, roteirista ou redatora. Trabalho como gerente de projetos de internet. Sou designer por formação.
2. Se sou designer, logo, não sou artista, ou sou? Sim. Ou não!
Por fundamentação, design é igual à forma + função, ou seja, algo visualmente belo criado para cumprir uma finalidade.
A finalidade do designer é projetar e construir peças para a produção em massa, industrial ou artesanalmente. Por exemplo, uma cadeira Le Corbusier, embora muitas vezes seja vendida como peça de arte (com preço de obra–prima, diga–se de passagem), na verdade faz parte do acervo histórico do Design Mobiliário, uma das muitas divisões do Design.
O mesmo vale para qualquer outro produto, de qualquer área de consumo. De capas de livros a geladeiras, de escovas elétricas a carros de passeio e barbeadores. O designer seja de projeto visual ou de produto sempre estará na indústria exercendo o seu papel.
Também, por fundamentação, se analisarmos a divisão das áreas artísticas, veremos que o Design se encaixa na divisão das Artes e Ofícios, junto a outras especialidades como Arquitetura ou Teatro. Sendo arte + ofício, logo é a arte exercemos como profissão.
E cada lado tem seu lado…
Lado 1. As Artes Plásticas, como expressão do belo e do momento do artista frente a uma realidade qualquer, seja a sua realidade pessoal do seu tempo, se enquadram em outra categoria das artes. Difere do Design porque cada obra é única, ou seja, obra–prima.
É o que produz um Van Gogh, um Basquiat, um Aleijadinho, um Rodin, um Hieronimous Bosh, o polêmico Duchamp e o maior gênio multimídia de todos os tempos: Leonardo da Vinci. Nesses casos, a arte é uma forma de expressão pura e simples, o que não anulou o trabalho de alguns dos artistas acima como pintores das famílias dos reis, que não necessariamente expressa o seu interior. Porém isso também não os anula como artistas e os transforma em designers. Quer mais? A foto dos filhos do rei é uma obra–prima, não é um bem de consumo produzido em série.
Lado 2. Da confusão conceitual – e olha, ainda posso estar confusa. Sim, o design tem gênios. Como Mike Salisbury (leiam o livro: “Eu vendi sexo, drogas e rock´n´roll”, do proprio Mike, e entendam o que é o trabalho de um designer totalmente voltado para o marketing), David Carson (embora eu seja ainda reticente à carsonização do design que sofremos no fim dos anos 90), os Irmãos Campana, Bruno Munari, Alexandre Wollner etc. Eles e muitos outros produzem marcas, criam produtos, estilos e tendências seguidos por outros designers – “tendências de design”, muito diferente de “movimentos artísticos”. O que não os anula quando querem expressar algo com a arte, criando peças de utilitário conceituais ou mesmo obras primas.
Sim. É confuso, e o designer sempre transita pela casa do artista e vice–versa. Ora, eu mesma estou transitando pela casa do redator.
E onde está a confusão sobre a razão e sensibilidade? (Je ne sui pas sensible… Ou je suis?)
Agora falando em mercado, de internet para ser mais específica, e por ter conhecimento de causa. E também de causos, em bom tupiniquim.
O designer não deve ser insensível e o artista não deve (NÃO DEVE, diferente de NÃO PODE) ser irracional. Mas vamos focar no Design e o mercado atual.
O boom da internet fez surgirem muitos profissionais de design autodidatas, o que é ótimo do ponto de vista criativo, pois aí surgem as novas técnicas. Porém a falta de embasamento cria no mercado designers sensíveis, muito sensíveis, sensíveis demais às “agressões” à sua “arte”. Enquanto deveriam ser sensíveis às necessidades do cliente.
Sobre o seu apego à própria arte, de maneira simplista, diria que o designer deve fazer o papel de insensível, coisa que concordo e assino embaixo: é muito difícil. Mas, por incrível que pareça, a partir do momento em que o designer começa a olhar para o seu cliente e os seus consumidores, o seu trabalho rende mais e melhor. Simplesmente porque esse é o seu papel. O cliente não precisa de obras de arte – ele precisa vender o seu peixe e o design é um dos recursos para isso. E acreditem: design vende muito.
Principalmente no mercado publicitário, faz parte do papel do designer (ou diretor de arte) – e não do artista – sugerir ou entender o posicionamento e as regras da marca do seu cliente. Não é tão chato quanto parece, pelo contrário, é interessantíssimo e até divertido. É simples: isolar o ego e focar no objetivo. Para isso serviram as aulas de Gestalt. Por isso estudamos o efeito das cores e formas na comunicação.
Percebo que o comportamento dos designers/diretores de arte de internet está mudando. Vejo que os profissionais, especialmente em publicidade para internet, estão começando a trabalhar cada vez menos como artistas e cada vez mais como comunicólogos, cada vez mais focados no marketing, no design que vende.
Percebo esse comportamento na própria agência em que trabalho e em outras do meio. O que é muito bom, pois aos poucos estamos voltando a ser o que devemos. Aguardo ansiosamente o surgimento do Mike Salisbury da internet… Em 2004/2005… Quem se habilita?
Convite: Pretendo ainda este ano organizar uma mostra de arte digital online. Designers, artistas plásticos, redatores, web videomakers, animadores e doidos de plantão interessados no projeto, me escrevam! [Webinsider]
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Maira Costa
Maira Costa (maira.costa@thinktwice.com.br) é Diretora de Planejamento da Thinktwice Marketing de Inovação.
4 respostas
Ótimo o artigo… mesmo os designers devem saber que Menos é Mais, hoje e sempre… Quem quiser expressar sua sensibilidade e sua visão artística, pode partir para o ramo da arte plástica, onde nao encontrará limites…
Concordo com tudo que explicitou no texto. Principalmente sobre a questão da proficionalização do ramo da publicidade e sobre a razão de se ter mais sensibilidade no que se faz.
O artigo foi exposto de maneira muito interessante.Minha Formação Acadêmica abrange Design Industrial,Arte- Educação,Arte-Tecnologia e História.Atualmente descobri que sou Designer de Palavras,tornei-me escritora de poemas e percebo,trabalhando na área de Jornalismo On-line, que é um campo agradabilíssimo ,a possibilidade de agradar o cliente sem deixar de atentar para a sensibilidade artística.
Produzir para consumo não significa esquecer as características da beleza aliada a funcionalidade.
Produzir para o mercado publicitário requer inteligência + originalidade para atingir o objetivo (vender o produto),características próprias de artista.Uma peça publicitária bem feita pode ser considerada uma obra de arte…e por que não ?
Gostei muito do artigo. É muito esclarecedor. Concordo plenamente com a autora.