Ainda considero difícil de entender como o Google Mail (GMail) tornou–se tão popular, por qualquer outro motivo que não seja a extensa simpatia pela marca. Simpatia cuja abrangência se encontra em queda–livre entre os defensores mais ferrenhos da privacidade e outros entusiastas da rede.
Em uma análise fria, e com o perdão do trocadilho, mas há pouco espaço para o GMail a partir do momento em que serviços concorrentes, como os populares Yahoo e Hotmail, comecem a liberar o tamanho da caixa postal. O Yahoo já fez isso e o Hotmail também, agora que a Microsoft deve permitir, em breve, entre 200 Mb e 300 Mb de espaço gratuito para os usuários.
Não há dúvidas de que o GMail mudou conceitos. Até outro dia, o Hotmail nos convidava a pagar uma pequena mensalidade para ter mais espaço, de 10 Mb. E agora falam em 300 Mb gratuitos. Não é algo a se deixar passar em branco.
Outro motivo de surpresa, sobre a popularidade do GMail, é que o sistema é quase um retrocesso. Usar webmail é um tédio. Webmail é mais lento, mais incômodo, mais restrito. Muitos elogiam a forma do GMail de armazenar as mensagens por “conversações” (threads) e não por ordem cronológica. Esquecem, contudo, que o recurso não é novo. Muito pelo contrário.
Desde a pré–internet comercial que os grupos de notícias/discussão (newsgroups) agrupavam as mensagens por tópicos. Inclusive, quem quiser experimentar hoje, pode baixar qualquer leitor de newsgroups, como o Agent ou o XNews – eu gosto muito de um chamado Gravity, da falida Anawave.
No caso do GMail, para quem assina trocentas listas de discussão e lê todas as mensagens, é até bem útil. Resta saber quão útil, a ponto de abrir mão de tanta coisa para usar um e–mail com a grife do Google e pela web. E mais: é difícil de engolir quando dizem que é mais rápido ler centenas de e–mail pelo GMail do que pelo Outlook ou qualquer outro cliente de e–mail com janela de pré–visualização (preview pane).
A idéia de não apagar as mensagens, e deixar armazenadas só porque há 1 Gb de espaço, incomoda bastante. Para muitos, pode não ser um problema, então tudo bem. Apenas é um contra–senso, a partir de uma premissa básica a qual, como usuário, eu deveria ter o direito de apagar logo e de ver o botão “delete” para clicar. A opção de apagar ou não é do usuário.
Tudo bem. Não obstante, é preciso admitir que, via de regra, devemos seguir aqueles axiomas básicos: usa quem quer e os incomodados que se retirem. Então, tá.
Um grande trunfo do GMail, ao menos no meu caso bem particular, é que, por ser um serviço novo e ainda restrito, muitos nomes de usuários (login) estão livres. Nunca consegui criar um e–mail do jeito que gostaria no Hotmail e Yahoo, porque quando cheguei já tinham usado “meu” login. No GMail, finalmente consegui. Agora, inventaram uma programa para pegar as mensagens pelo cliente de e–mail, tipo Outlook. Um passo adiante, melhorou. Ficou mais “utilizável”, apesar dos bugs.
Ocorre que o Hotmail tem uma integração muito boa com o MSN Messenger, com o Windows e, para quem usa Outlook 2003, deve ter percebido que a integração é quase perfeita – bem diferente do Outlook XP e anteriores, que sempre davam problemas na hora de puxar as mensagens.
Logo, se o Hotmail vai me dar 300 Mb, e ainda posso baixar pelo cliente de e–mail sem maracutaias, e está todo integrado com o Messenger, qual é o sentido de usar GMail apenas por causa do espaço? Quais os objetivos em querer de 1 Gb, quiçá 300 Mb, se não tenho a menor pretensão de deixar mensagens armazenadas por muito tempo?
Afinal, e–mail tem se tornado uma coisa muito… constrangedora, às vezes.
O mesmo vale para Yahoo, por exemplo. Para quem usa os recursos do Yahoo, como o Y! Messenger, o catálogo de endereços on–line, o YahooGrupos e por aí vai, não seria muito mais negócio manter o e–mail do Yahoo, que você já usa há tanto tempo e todos já conhecem, agora que terá bem mais espaço?
Alguém pode dizer: mas Hotmail é da Microsoft.. E daí? É que a Microsoft representa o capeta, o anhangá–tinhoso, a gente sabe. Então usem GMail.
Não sou muito conservador em relação à privacidade, mas tenho uma forte crença de que o Google está bem próximo, talvez mais do que possamos imaginar, de se transformar em uma Microsoft da web. Vejamos:
O sistema de busca é unânime – porém não mais tão unânime assim, entre várias correntes de especialistas. Agora temos o Orkut, uma verdadeira febre. Já já começam a aparecer as primeiras dissertações de mestrado sobre o Orkut. Inclusive, até dia desses, não havia a opção de sair do Orkut.
Temos o Google Toolbar, uma ferramenta excelente e muito útil. Temos o Google Deskbar, também ótimo. Imaginem juntar tudo isso em um único produto? Seria integrar o GMail ao Google Toolbar/Deskbar, ao Orkut também. Um mensageiro instantâneo ou um barra de ferramentas para avisar quando há novas mensagens no Orkut e no GMail.
Uma interface entre todos esses produtos seria deveras interessante e ia virar uma febre. Para quem usa Google, Orkut, Deskbar e GMail, uma verdadeira mão na roda. Mas não é justamente isso que o belzebu, digo, a Microsoft, faz?
Alguns dizem que a Microsoft já nasceu para o mal, enquanto o Google nasceu para o bem. Então o jeito é torcer para que o Google não siga o exemplo da esquerda brasileira atualmente no poder. Se ocorrer, será hora de esperar por um Google OS.
[Webinsider]
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Paulo Rebêlo
Paulo Rebêlo é diretor da Paradox Zero e editor na Editora Paradoxum. Consultor em tecnologia, estratégias digitais, gestão e políticas públicas.
2 respostas
Digo o mesmo… E agora, quatro anos e meio depois?
Gostaria muito de conhecer a opinião do articulista vidente, hoje, quatro anos depois.