Eu estava com meu filho no colo, fazendo hora em frente a um jornaleiro. Era 1996, e a edição da ‘Revista da internet.br’ olhava para mim, apenas esperando que eu a comprasse. E lá estava o Fernando, posando para a foto do editorial que ele assinava como editor da primeira publicação brasileira sobre internet.
De lá pra cá, FerVil acompanhou minha vida, e eu a dele, em alguns momentos à distância, em outros bem de perto. Estive com ele há poucos dias, no grupo de estudos de webwriting.
Ele havia aceito o convite para participar, e em nossa última troca de e–mails, eu pedia: “não some, cara, eu sinto falta de você, e toda a nossa área carece de sua inteligência”. O Fernando brincou: “Não se preocupe, não, Bruno – ressuscitei de vez”.
Quando lancei meu livro, pedi que o Fervil escrevesse o prefácio. Só podia ser ele, mais ninguém. Ele era a minha referência. No meu primeiro curso de webwriting, foi FerVil que chamei para ministrar uma palestra. Ele estava de malas prontas para ir trabalhar em São Paulo, no iG, e me perguntou se eu achava que ele devia mesmo ir. “Fernando, sou suspeito”, disse. “Você só tem a acrescentar, em qualquer lugar”.
Nos reencontramos aqui, na Webinsider, e passamos mais de um ano – eu, ele o Vicente – querendo marcar um almoço que nunca saiu. Há pouco mais de um mês, ele reapareceu no meu curso, como aluno. Quando adentrou a sala, parei tudo, e, num misto de brincadeira e reverência, perguntei: “Você veio me dar aula, não é?”. FerVil ficou vermelho. “Só pode ser brincadeira, Fernando!”. Era – e não era. Ele queria se reaproximar do jornalismo online, do webwriting, do bom e velho mercado, após alguns anos trabalhando com conteúdo para telefonia celular. E queria entrar de cabeça no meio acadêmico. “Você sabe que deixou uma lacuna”, eu disse. “Os estudantes precisam de você”. Ele só sorriu.
Na noite desta segunda–feira, FerVil foi assassinado em uma tentativa de assalto, dentro do carro, ao sair do trabalho. Assim, de um jeito que não merece mais uma linha de explicação.
Realmente há algo mais a dizer? [Webinsider]
Nota do editor: Fernando era das pessoas mais doces e inteligentes que conheci na vida. Um amigo muito querido e que tantas vezes me incentivou a ajudou a criar e manter o Webinsider e tantas outras coisas impossíveis de serem ditas (Vicente Tardin)
Bruno Rodrigues
Bruno Rodrigues (bruno-rodrigues@uol.com.br) é autor do livro 'Webwriting' e de 'Cartilha de Redação Web', padrão brasileiro de redação online'.
Uma resposta
Interessante!
Lucas
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