Por diferentes motivos, nas últimas semanas tive a sorte de conversar com várias pessoas envolvidas com trabalhos em diferentes áreas do mercado online. Em todas as ocasiões pude perceber que quase todos têm a mesma impressão de que finalmente pode chegar no Brasil a sensação de recuperação que começou a surgir nos Estados Unidos no final de 2003 e que causou uma reviravolta no mercado digital europeu há pouco menos de um ano.
Aos alarmistas de plantão, muita calma nesta hora. O que parece estar em movimento aqui no Brasil não é nada similar ao que vivemos em 1999, depois ser arrastado pelo “tsunami” da bolha que devastou várias empresas online e deixou uma leva incontável de profissionais sem rumo. A realidade atual é vista em escala bem menor e, o mais importante de tudo, com cores, tintas e valores bem mais realistas.
O fato é que empresas do mercado tradicional aparentemente se deram conta de que chegou um novo momento de investir. Mas investir com a cabeça no lugar, em modelos de negócio já comprovados. Usar a internet como meio de prestação de serviços já passou do status de inovador para o de obrigatório.
A especulação é o maior medo dos profissionais que sobraram na rede apesar de crise, dos que viveram anos no escuro. Quando se encontram, sorriem de novo, estão alegres e emocionados por este recomeço. Gente que quando ouve menção à bolha, faz sinal da cruz, e começa a rogar em voz baixa por um crescimento tranqüilo, sem atalhos em busca de uma jogada fácil, sem aquisições tresloucadas e especialistas em fusões e aquisições.
Na Europa um dos principais termômetros da nova fase vem sendo o novo crescimento da publicidade online e dos investimentos vindos de empresas norte–americanas, que já consideram esta retomada como fato concreto.
E quem são as novas empresas pontocom deste novo momento? A maioria delas está focada em objetivos definidos, de retorno já estabelecido, e que já saíram da fase de experimental. Neste cenário europeu, muitas são empresas de médio e pequeno porte. Algumas sobreviventes do período negro da rede, outras renascidas das cinzas. Uma fixação é a rentabilidade e a atenção ao cliente. Rapidez de execução e capacidade de fidelização também são importantes. Enfim, neste novo e promissor cenário não há sonhos a longo prazo.
E no Brasil pode ser semelhante? Há motivos para acreditar que sim, embora com toda a cautela do mundo, como sempre mandam os rumos da nossa nova economia. Mas assim como na Europa, empresas com foco e objetivo encontrarão um mercado crescente, cada vez mais receptivo e interessado pelo uso e o aumento de banda larga, com clientes exigentes e conhecedores do que têm em mãos.
Por aqui o crescimento do número do usuários já foi anunciado como uma “revolução iminente” (veja na Folha Online). Pode parecer exagero, mas não muito. Além do crescimento da banda larga entre usuários de classes A e B, a popularização do acesso é uma realidade próxima. Se hoje cerca de 17,5% da população usam internet, a avalanche deve aumentar em progressão difícil de calcular caso programas como o governamental PC Conectado tenham êxito.
A tendência natural é de que empresas do mundo tradicional caminhem em grande bloco para a prestação de seus serviços online. A sua videolocadora ainda não faz consulta e reservas de vídeos online? Terá que fazer. Você não consegue reservar lugar na aula de bike da sua academia pela internet? Pois conseguirá.
Atualmente, com poucas exceções, as empresas brasileiras tradicionais seguem alienadas de toda esta atividade, de todo este futuro. Desplugadas, sem interesse, remotas. O risco é que quando a economia do país acordar para a realidade de novas tecnologias através da internet, todo este mercado poderá estar conquistado por filiais locais de empresas estrangeiras já estruturadas pelo movimento que se vê lá fora atualmente. Uma cena que a economia brasileira já viu acontecer em outros aspectos, mas com os mesmos personagens. [Webinsider]