Como já cantou o músico Paulinho Moska, “é tudo novo de novo”. Soluções se repetem com resultados melhorados, ou nem tanto. Retrocesso? Muito pelo contrário, isso é evolução!
A tentativa do novo só deve acontecer quando a busca pelo “velho” já tenha sido feita. Desenvolver um projeto do zero sem analisar antes o que já foi feito sobre o assunto é perda de tempo e energia.
Tanto no design quanto em outras áreas, o repertório do profissional exerce um papel fundamental para a construção de um produto consistente. Quanto maior o conhecimento, mais caminhos e atalhos ele terá para chegar em referências sólidas.
O uso de referências não é e não deve ser encarado com preconceito. Referência não é plágio. Plágio é a cópia literal de algo. O profissional que se nega a utilizar referências em seu trabalho ou não sabe utilizá–las de forma hábil ou não sabe nada sobre coisa alguma.
A utilização de referências nada tem a ver com a repetição de idéias. Muito pelo contrário, elas servem para que através de estudos por fontes variadas, o profissional consiga colher informações suficientes para assim começar seu projeto. Nada mais lógico que estudar como foram projetadas várias bicicletas quando se está prestes a projetar uma, pois toda uma problematização já foi feita a respeito. Por que fazer tudo de novo?
Algumas soluções com certeza serão similares já que alguns problemas como estrutura e física acabam sendo limites do próprio produto, mas a forma como o profissional aborda e trabalha com essas limitações e acrescenta seu estudo, repertório e personalidade são o grande desafio. É aí que a diferença entre um profissional com um bom repertório e que sabe trabalhar com referencial faz–se evidente.
Outro exemplo está no cinema. Filmes como “Matrix” utilizam para construção da narrativa, roteiro e visual, referências claras de outros filmes ou até mesmo de fontes que nada têm a ver com o cinema, como a filosofia budista absorvida no roteiro do filme. Há muitas outras referências nesse mesmo filme, como as coreografias típicas de artes marciais orientais e a influência declarada de animes japoneses. Ainda assim, o filme trouxe uma contribuição muito grande para o gênero de ficção científica, criando uma obra original através de referências bem construídas.
Portanto, deve–se ponderar o anseio para criação de algo novo, sem antecedentes. Não que o espaço para o novo é nulo ou desnecessário, mas não é esse tipo de postura que se deve tomar de início. E como visto, muitas vezes o novo utiliza–se de referências e não deixa de ser novo por causa disso. [Webinsider]
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Indicação de leitura: para quem ainda não conhece, vale indicar o livro Das Coisas Nascem Coisas, de Bruno Munari, que aborda de forma muito esclarecida as etapas que compõe o processo de criação de um projeto, para depois apontar as problemáticas e as soluções de projetos reais.
Guilherme Bova
Guilherme Bova (grb@port.folios.nom.br) é designer da agência Tritone e integrante do grupo responsável pelo projeto Portfolio?s