Com Geraldo A. Seabra*
Apesar de seu avanço ainda faltava à Galáxia dos NewsGames uma plataforma virtual que lhe garantisse uma interface própria em função da envergadura de sua base teórica. Algo bem lúdico e envolvente, que pudesse alimentar a terceira base do tripé da cadeia produtiva da notícia: a produção de notícias dentro do tabuleiro de jogo.
Afinal, os NewsGames já lançados no mercado são apenas meros meios de publicação e o consumo de informação em suportes de games. O que denominamos de Editorial Games – jogos que trabalham a notícia apenas de uma forma alternativa de leitura e publicação.
A estratégica é tentar atrair, para as headlines dos webjornais, os jovens mergulhados nas chamadas gamerships. Nesse sentido é urgente pensar em utilizar a interface do Google Maps como tabuleiro de jogo. Claro, a ideia só seria aplicável em cidades que contam com o serviço de geoprocessamento por satélite em operação. A iniciativa possibilitaria transformar, por meio de um programa específico, linhas de texto de notícia como fonte geradora de animação para falar, discutir e se posicionar sobre fatos jornalísticos em tempo real.
Em outras palavras estaríamos falando em NewsGames como notícia cartografada. Para entender a novidade é preciso saber o significado do termo. A palavra cartografia vem do grego (chartis = mapa e graphein = escrita) e remete à ciência que trata da concepção, produção, difusão, utilização e estudo de mapas. Na perspectiva dos NewsGames, a união entre mapa e escrita potencializa ainda mais o poder informativo do jogo e da própria informação. Afinal, o que vai sendo escrito pelos jogadores se transformaria automaticamente em mapas reais de jogo. Desta forma, os usuários (jogadores e não-jogadores) poderão interagir de forma participativa, pois os dados emulados pelo jogo são públicos e podem ser acessados por qualquer pessoa.
NewsGames, um conceito ainda em definição
Jogar com notícias em suportes de games como forma de mobilização social parece ir muito além do conceito de encarar os NewsGames apenas como jogos baseados em notícias, ou acontecimento em tempo real. Isso fica ainda mais evidente quando percebemos a possibilidade de usar suportes de mapas interativos com tecnologia de geoprocessamento via satélite como algo real para falar, discutir e se posicionar politicamente sobre fatos que sucedem na esfera do espaço público.
Pela Teoria dos NewsGames desenvolvida por nós, a definição de NewsGames vai além de consumir notícias em suportes de games online. De tal derivação, os mapas lúdicos informativos então seriam criados pelos próprios jogadores como forma de mobilização social, por meio da informação que eles estejam, de alguma forma, pessoalmente envolvidos.
Em linhas gerais é bom ficar claro que os NewsGames são um gênero de jogo online de produção rápida em resposta a eventos atuais. Contudo, alguns autores preferem reduzir o seu significado a meros games de charges políticas, caindo na cilada daquilo que chamamos de Editorial Games.
De tal inocência não comunga o autor do livro “Newsgames: Theory and Design”, lançado em 2008. Para Miguel Sicart, professor de Desenvolvimento de Games do Massachusetts Institute Technologies (MIT), os NewsGames são em sua essência “jogos que utilizam o meio com a intenção de promover a participação no debate público”. Assim não nos parece aberração nenhuma a utilização do Google Maps como tabuleiro para debater ativamente em forma de jogo as coisas que fazem o nosso mundo girar.
Experiência do jogo Monopoly City Streets
Desde 2009, a empresa americana Hasbro mantém a versão do jogo Monopólio na plataforma do Google. Batizado de Monopoly City Streets, o game permite aos internautas competir em tempo real, de qualquer ponto do planeta. Basta estar conectado à rede! A grande novidade da versão virtual é que, além do óbvio recurso de se jogar pela internet, o tabuleiro é baseado no Google Maps, uma plataforma que se encaixa perfeitamente na ideia de instantaneidade associada aos NewsGames. O novo game é derivado do antigo jogo Monopólio de tabuleiro criado em 1935, nos Estados Unidos. Para jogar, os participantes precisam comprar e vender imóveis para fazer fortuna e minar as finanças dos adversários.
Assim como prevê a Teoria dos NewsGames, o jogo permite que os próprios jogadores criem seus modelos 3D a serem utilizados na trama. Cadastrados em um site específico, os modelos podem ser criados a partir do SketchUp, um programa do Google de computação gráfica. Cada jogador começa com uma quantia em dinheiro para construir hotéis, casas e outras edificações pelas ruas do planeta. O jogo abre ainda possibilidade de ser totalmente feito em cima de API’s do Google Maps, sem a interferência do Google, outro atributo defendido por nós.
Pensando na autonomia dos jogos
Na nossa forma de pensar games para o futuro, qualquer proposta de jogo deve considerar menos interferência possível de seus criadores. Em última análise, os games baseados em notícia devem funcionar de forma autônoma, desde a criação até o ato de jogar em si. Sob o prisma dos NewsGames, as redes sociais tem um papel fundamental. Funcionariam como base descritiva do tabuleiro do jogo, com a qual os jogadores podem produzir notícias a partir da informação que deu origem à trama da narrativa.
Parece loucura, mas o primeiro passo já foi dado. Como o Google Maps é uma plataforma global, não faltarão jogadores do mundo inteiro para ajudar o povo da Líbia no trabalho de reconstrução real de um país devastado pela guerra civil. Embora o país real esteja em ruínas, as cidades geoprocessadas pelo Google estão incólumes sob a proteção da tecnologia cloud computing.
Então, o que ainda falta para começar um jogo dessa magnitude? Uma notícia que sirva de base narrativa. Mas qual? Não é suficiente a queda de um ditador há mais de 30 anos no poder? Se você ainda achar que tudo isso é muito pouco, tente buscar na sua rua outra razão melhor para jogar. Ou espere como um urso hibernado no quarto que a rede wi-fi do seu vizinho não caia e você perca o único elo que ainda te mantém ligado com alguma coisa do mundo real. Claro, isso é apenas uma provocação de quem ainda acredita nas verdadeiras mudanças sociais. Game over!
* Geraldo Seabra, jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. Na área acadêmica lecionou no UniBh, Unipac Lafaiete e Funorte. No mercado trabalhou em diversos órgãos de imprensa: Rádio Itatiaia, Rede Minas de Televisão, Rádio Alvorada, Agência de Publicidade CMK3, Revista AMIRT, Diário de Belo Horizonte e Jornal Sabará em Minas. Nascido em Belo Horizonte, está radicado atualmente em Treviso (Itália), onde atua como editor e produtor do Blog dos NewsGames.
[Webinsider]
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Luciene Santos
Luciene Santos, jornalista e especialista em games como informação e notícia. É co-autora do e-book “Do Odyssey 100 aos NewsGames – uma Genealogia dos Games como Informação”. Nascida em BH, está radicada atualmente em Treviso (Itália), onde atua como apresentadora da WebTV do Blog dos NewsGames.