A primeira vez que Tim Cook subiu ao palco como “chefe de cerimônias” para apresentar novos produtos da Apple foi literalmente à véspera da morte de Steve Jobs. Na ocasião, os fãs da Apple o criticaram muito pela falta de presença de palco. Confesso que também me decepcionei. Posteriormente, quando foi noticiada a morte de Jobs, todos compreenderam a verdadeira razão da apatia dos executivos naquele dia. Ficou claro que o pensamento de todos estava muito distante do palco.
Na ocasião o iPhone 4S foi também exageradamente criticado, apesar da incrível inovação tecnológica na figura da assistente pessoal Siri e das sofisticadas lentes da sua nova câmera de 8 megapixels. Essas críticas também se mostraram infundadas ao longo do tempo. Nos dias que se seguiram, o novo telefone da Apple mostrou mais uma vez que em se tratando de produtos com uma maçã estampada, certas regras, por mais lógicas que pareçam, quase nunca se aplicam.
Na sua mais recente apresentação, realizada na WWDC desse ano, Cook mostrou que tem sim domínio de palco e, mais que isso, paixão pelo seu trabalho e pelo legado deixado por Steve. Certamente Jobs faz falta, mas gostei muito da postura de Tim Cook.
Foram apresentadas mais novidades do novo OS X, recursos novos que estarão presentes no iOS 6 e novos notebooks. Mas um pequeno detalhe que tomou pouquíssimos minutos da apresentação me deixou algumas horas refletindo. Estou falando do Passbook!
“Pass” o quê? Perguntaram alguns blogueiros que transmitiam o evento ao vivo. No momento também não entendi bem e dei pouca atenção ao assunto, mas horas depois, assistindo a apresentação, entendi! Trata-se de uma carteira digital. Carteira mesmo. Sim, carteira para guardar cartões de crédito, de fidelidade, os ingressos do cinema e cupons e tudo mais que juntamos nas nossas carteiras de couro.
Não é uma carteira como vem sendo proposta pelo Google Wallet e PayPal. Essas iniciativas estão indo na direção do NFC e similares, que em minha opinião não é o caminho a seguir. Por favor, não me entenda mal, adoro a ideia do NFC. Você chega ao local, encosta o telefone num dispositivo e o pagamento está feito.
O problema é que essa infraestrutura no lado do estabelecimento é cara demais. Ao passo que leitores de código de barras estão por toda parte nos dias de hoje. Uma quantidade enorme de padarias, lanchonetes, supermercados, companhias aéreas etc., tem algum tipo de leitor de código de barras acoplado ao caixa. É por isso, que apesar de adorar a ideia do NFC, acho que ela ainda está economicamente muito distante de nós.
E na minha humilde opinião de espectador, a WWDC nos mostrou que a Apple pode estar apostando no código de barras e não no NFC. Não estou dizendo que o próximo iPhone virá com ou sem NFC. Estou apenas dizendo que a empresa parece estar apostando na tecnologia que é mais difundida no momento. Inclusive agregando no Passbook aplicativos como os da Starbucks e outros que já adotam a ideia do código de barras e se encontram atualmente espalhados pelo iPhone. Me parece uma estratégia bastante racional.
Como funciona
Penso também que o fato do consumidor estar acostumado com a ideia de entregar um cartão físico para efetuar o pagamento é algo importante na metáfora da Apple para gerar conforto na transição para um processo totalmente digital.
Além disso, existe a automação do processo. Ao chegar perto do estabelecimento, seja o cinema, o aeroporto, o café ou a lanchonete, o sistema de georeferenciamento do iPhone vai identificar qual o cartão a ser utilizado naquele momento e vai mostrar ele na tela do telefone com o respectivo código de barras.
E essa pode ser a “sacada” de indução ao consumo que a indústria procura há anos, desde o surgimento do SMS e Wap nos celulares.
Os mais velhos lembrarão que naquela época todos buscavam uma forma de fazer propaganda automática de lojas próximas do nosso caminho diário. Várias previsões foram feitas, anos se passaram, mas nada aconteceu. Tudo que recebemos hoje é uma enxurrada irracional de spam por SMS e sem nenhum tipo de relação com nosso dia-a-dia.
Parece que a Apple mais uma vez teve a ideia certa. É elementar e não intrusiva. Se eu tenho um cartão pré-pago, ou um cartão de embarque, ou bilhete para um determinado filme, é motivo suficiente para não ficar incomodado com avisos ou alertas vindos do meu celular. Ao contrário, eu vou querer receber aqueles alertas.
Todo dia, bem cedo, eu passo andando na frente do McDonald’s antes de chegar ao meu trabalho e milhares de pessoas fazem isso em diferentes estabelecimentos ao redor do mundo. Algumas vezes eu paro para tomar um café, mas na maioria das vezes fico com preguiça e acabo tomando o café de qualidade muito pior que me aguarda no trabalho.
Agora vamos imaginar que eu tenha um cartão pré-pago virtual do McDonald’s no meu iPhone e ao passar pela loja, o iPhone me avisa que estou perto e mostra na tela o cartão com o respectivo saldo e código de barras. Eu entro, a funcionária usa o leitor para escanear meu cartão e me entrega o café. Antes disso, é claro, ela vai me interpelar com dezenas de frases feitas, mecanicamente oferecendo todos os outros itens do “menu de café da manhã” do McDonald’s. Mas posso resistir a isso, como já venho fazendo.
Porém (e infelizmente!) duvido muito que empresas brasileiras adotem esse serviço. Tomo como base o Newsstand, que julgo uma iniciativa incrível e que adoro, mas que é completamente desprezada pela mídia brasileira. Uma pena.
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Escute também o episódio 23 do iTech Hoje sobre a WWDC 2012. [Webinsider]
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