Às vezes me sinto um pouco Pierre Lévy: falo de coisas que vão acontecer daqui um tempo, quando talvez nem esteja mais por aqui. No EDoc Rio, onde palestrei recentemente, houve um acordo tácito entre os presentes: de fato as interfaces de ambientes digitais passam a tomar espaço na atenção dos profissionais da informação.
As interfaces de ambientes digitais substituem a intermediação do acesso do usuário à informação.
Pense no balcão que hoje separa o arquivista ou bibliotecário de seus usuários no arquivo ou em seu serviço de informação. Pois é, a interface será o novo balcão, por isso a preocupação para que o sistema seja bem feito, que as informações sejam bem processadas, indexadas, classificadas e arranjadas. A chave dos requisitos de negócio neste caso é do profissional de informação.
No mundo 2.0 o usuário sabe a informação que quer e vai atrás dela sem a interferência de outros humanos. Logo, aquele balcão que tanta preocupação e satisfação trazia para o profissional da informação não existirá mais, como hoje não existem mais os cobradores de ônibus, as balas soft e o video game da Atari.
A minha “pierrelevização” me leva a considerar um gasto energético algumas discussões acadêmicas da área da ciência da informação, como por exemplo qual o verdadeiro foco da arquivologia: se o documento, a informação, as massas documentais ou os arquivos de documentos acumulados.
O foco de verdade, no mundo 2.0, é a interface onde estão dispostas as informações orgânicas, geradas em tempos de explosão informacional, ou seja, isso tudo vai além do documento ou de uma massa documental. São as informações humanas geradas nas situações de relação entre as pessoas e entre estas e instituições. E a interface é o grande momento de entrada ou saída da informação, além de ser a forma de geri-la.
Nos ambientes digitais os fluxos informacionais ainda espelham a estrutura, funções e atividades da instituição, em todos os contextos. Por exemplo, temos à disposição da administração e dos gestores telas de gerenciamento desses fluxos informacionais (dashboards de business inteligence), com dados em tempo real e métricas em relação a sua estrutura e funcionamento. Um retrato real e orgânico daquele momento da instituição.
Essa informação para gestão é entregue onde? Nas interfaces dos ambientes digitais.
É nas interfaces de portais e sites hoje que congregam as informações de um SIARQ, de um GED, de um ECM, de uma Intranet e de tantos outros sistemas gerenciais e informacionais. Conheci grandes corporações onde o portal traz, conforme o perfil de cada pessoa, as informações necessárias para o desempenho de suas atividades. Cada vez mais a máxima “a informação certa na hora certa” é uma realidade e isso se dá nas interfaces dos ambientes digitais.
Obviamente sabemos que por trás desses ambientes digitais existem as informações orgânicas, que precisam ser classificadas, temporizadas, perfiladas e tratadas tecnicamente por profissionais da informação aptos e capacitados em tratar estas informações.
O que acredito é que esse profissional será mais completo no momento que entender um pouco mais os assuntos que da Arquivologia 2.0: metadados, preservação digital, arquitetura de informação, arquitetura de interface, sistemas digitais, entre outros temas, indo além em seu entendimento, das maravilhas que fazem um escâner com OCR. [Webinsider]
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Charlley Luz
Charlley Luz é arquivista, professor da pós-graduação em gestão de documentos da FESPSP e consultor em estratégia de informações e ambientes digitais da Feed Consultoria. Autor dos livros Arquivologia 2.0 e Primitivos Digitais.