Nosso jeitinho 2.0: o que aprendemos em dez anos

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Desenvolvemos para a web há pouco mais de dez anos. Isso é muito pouco tempo. Estamos agora começando a chegar perto de qualquer coisa que possa ser chamada de “maturidade”, e há muito a aprender. Dez anos depois daquele começo deslumbrado, ainda faz sentido dizer que a web é uma coisa nova.

Veja, por exemplo, a questão das metodologias e práticas de atendimento e produção. Ao mesmo tempo em que um site é uma peça de comunicação, é um artefato de tecnologia. Veja que “peça” e “artefato” são jargões de áreas diferentes, a publicidade e a análise de sistema, para dizer praticamente a mesma coisa.

Acontece que o site tem um pouco de cada área. Fazemos publicidade, comunicação e marketing há muitos anos. É um mercado maduro, com regras próprias, métodos próprios e uma cultura própria. Ao longo dos anos o pessoal da área desenvolveu, através de muita tentativa e erro, metodologias de trabalho para atender bem seus clientes, gerar resultados e dar lucro.

Ao mesmo tempo, desenvolvemos software há muitos anos. Foram anos de estudo, suor, e muita tentativa e erro para o desenvolvimento de metodologias de trabalho que fizessem que o software fosse entregue no prazo, de acordo com as necessidades do cliente, e funcionasse.

Desenvolver software e comunicação

E há diferenças essenciais entre o desenvolvimento de software e a comunicação. Em minha opinião, a principal diferença está no fato de que desenvolver software é um trabalho extremamente objetivo. O software precisa cumprir requisitos e se adequar a normas, e pronto. Por outro lado, a área de comunicação é muito subjetiva. É claro que se podem medir os resultados de uma peça qualquer, através do retorno gerado, em cliques, visitas, telefonemas, vendas, pesquisas, etc.

Mas não há nada tão objetivo quanto as métricas de avaliação do desenvolvimento de software. Há dez anos, com a web, profissionais de áreas tão distintas começaram a trabalhar juntas. Deixe-me dar um exemplo que ilustra o que quero dizer. Quando alguém vai desenvolver uma peça de comunicação qualquer, a primeira providência é tentar entender o que o cliente quer comunicar, que imagem ele pretende transmitir de sua empresa e seus produtos e que público pretende atingir. As perguntas que se faz para o cliente são a respeito de como ele se parece e como ele quer parecer.

Chama-se essa fase inicial de fazer perguntas ao cliente de briefing.

Já quando alguém vai desenvolver software, a primeira providência é entender quais são os dados com os quais esse software vai lidar, e o que precisa ser feito com esses dados. As perguntas feitas ao cliente tem a ver com o workflow de dados, as pessoas envolvidas no processo, as regras do negócio, ou seja, são a respeito de como o processo funciona e de como ele quer que funcione.

Chama-se esse processo de levantamento de requisitos.

Percebe como os processos são diferentes? As diversas maneiras de desenvolver software ganharam até nomes e são vendidas como produtos. Alguns desenvolvem software usando o Unified Process, nos sabores Rational Unified Process e Enterprise Unified Process. Outros usam metodologias mais antigas, como a Análise por Pontos de Função apoiada na Análise Estruturada. E os métodos mais novos incluem FuseBox, para programação web estruturada, e eXtreme Programming, para orientação a objeto.

Nenhum desses processos de desenvolvimento de software contempla as necessidades de uma peça de comunicação. São focados em fazer funcionar, não em fazer parecer bom.

Por outro lado, os processos de trabalho das agências de comunicação, publicidade e marketing, de maneira geral também não incluem as necessidades da produção de um artefato de software. Nesse ambiente, muitas empresas têm optado por se manter focadas em suas antigas especialidades, e “quebrar um galho” na outra área.

Conheço uma porção de empresas de software que desenvolvem “sistemas web” em que nenhum designer coloca a mão. As telas são desenhadas pelos próprios programadores. Por outro lado, conheço uma porção de “agências web” que contratam script-kiddies para desenvolver seus sistemas, e nunca ouviram falar de, por exemplo, controle de versões.

Áreas deve aprender umas com as outras

Para falar a verdade, são raros os casos em que se vê um site que é ao mesmo tempo uma boa peça de comunicação e um bom software. Acabamos fazendo uma coisa ou outra, mas não as duas juntas. É difícil ver uma equipe realmente boa nas duas coisas, e a interdisciplinaridade, a pluralidade das equipes web, tão alardeada por aí, não é tão plural, nem tão interdisciplinar assim na maioria dos lugares.

E daí? Qual o problema, afinal? Se as duas áreas continuam funcionando, e atendendo seus clientes? Se quem compra software continua recebendo bom software, mesmo que ele seja uma peça de comunicação medíocre, e quem compra publicidade recebe um site de impacto, mesmo que ele não sirva para nada, ou que o sistema por trás dele esteja preso a código ruim, mal mantido ou inseguro? O cliente não está recebendo aquilo pelo que ele pagou?

O problema é que podemos estar perdendo uma grande oportunidade. As duas áreas podem aprender muito uma com a outra. Para vender, para ser uma solução completa, um site precisa ser uma boa peça de comunicação, e ao mesmo tempo uma boa peça de software. Precisa ser bonito e funcional, precisa ser fácil de usar e estável, precisa ser seguro e parecer seguro.

Ter software bem desenvolvido, com processos claros e controlados, pode reduzir os custos para aquela empresa da área de comunicação. O reuso de código, o controle de versões e o bom projeto podem fazer com não se reinvente a roda a cada projeto.

O processo simplificado, a manutenção simplificada e o software estável podem ser diferenciais importantes para a satisfação do cliente. Deixe os profissionais da objetividade cuidarem do que é objetivo.

Já para aqueles cujo foco é desenvolvimento de software, ter telas projetadas por um bom designer de interface pode ser a diferença entre o seu sistema e o do concorrente. Pode ajudar a vender, economizar custos de suporte, e atacar algo em que você talvez nunca tenha pensado: os aspectos subjetivos do uso do seu software.

Será mais fácil para as pessoas usá-lo se elas gostarem dele, e não há nada mais subjetivo que as pessoas e seus gostos. Deixe os profissionais da subjetividade cuidarem do que é subjetivo.

Não que tenhamos já as respostas certas. Mas há bons exemplos de gente fazendo um trabalho acima da média. No próximo artigo eu gostaria de mostrar métodos e ferramentas para um trabalho diferente do convencional para as duas áreas. Pretendo também mostrar outros obstáculos complicadores, que nem citei aqui.

Mas, antes, gostaria de ouvir você. Como são as coisas onde você trabalha? Qual o caminho para integrar de verdade áreas tão diferentes? Quais as maiores dificuldades? Você conhece algum caso de sucesso digno de nota? Deixe sua contribuição nos comentários. [Webinsider]

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Workshop com Produtividade

Elcio Ferreira apresenta o workshop Web 2.0 e Produtividade em São Paulo, dia 25 de setembro, das 9h às 17h. O público alvo são gerentes de projeto e coordenadores de equipes web.
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Avatar de Elcio Ferreira

Elcio Ferreira (elcio@tableless.com.br) é diretor de tecnologia da Visie e um dos autores do site Tableless

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12 respostas

  1. Élcio, excelente artigo.

    Graças a Deus a empresa onde trabalho faz parte das exceções. A equipe de design trabalha nas telas dos softwares, focando na mensagem e nos objetivos visuais e de marketing, utilizando como base o diagrama de classes da equipe de programação, que mais tarde bota a mão no projeto para fazer o restante do trabalho.

    Tem sido assim com todos os softwares e sites que trabalhamos e, acredito, é realmente a melhor maneira de se trabalhar.

    Hoje é comum (e irritante) que designers façam sites inteiros sem se preocupar com outros fatores importantes, como o sistema ou o marketing. O ideal sempre foi e sempre será integrar tudo.. afinal estamos na Era da Convergência hehe

    []s

  2. Aqui na W4Studio trabalham um projetista de interfaces e um programador que sou eu. Depois de 2 anos de bater cabeça com metodologias de produção afim de conciliar as duas funções num mesmo projeto, estamos conseguindo separar bem a marcação do conteúdo daquilo que é programação.
    Realmente a realidade do desenvolvimento web pode ser abstraído dessa forma: o webdesigner trata do subjetivo, e o programador cuida do objetivo. Está muito bem colocado.

  3. Elcio,

    Achei interessante a matéria, pois este problema ocorre diariamente na empresa em que trabalho.
    Para finalizar o artigo você deixou algumas perguntas no ar e objetivamente as respondo:
    O programador e o webdesigner não falam a mesma linguagem, porque o primeiro pensa somente na lógica.

    Como o programador tem essa visão limitada, acaba prejudicando o redator e o webdesigner que pensam no site como uma ferramenta da comunicação e não como um sistema operacional. Assim, o programador é quem dita as regras, imagina uma ferramenta que poderia ser explorada de ?n? maneiras sendo planejada por um platelminto?

    O nosso trabalho acaba sendo minimizado, onde desenvolvemos sites fast-foods: simples e funcionais.
    Queremos mais, queremos desenvolver um site Global com uma solução completa e o nosso caso não é a falta de capacidade da equipe digital, mas a falta de vontade.

  4. No fundo da questão está a maturidade do profissional. Criativos e desenvolvedores quando superam vaidades e desconfianças mútuas só tem a ganhar, como o Élcio tão bem explicou.
    E parabéns pela matéria.

  5. Élcio,

    Parabéns, gostei muito do seu artigo.
    Eu acho que o problema de hoje em dia é que o mercado, ou melhor, as empresas que contratam websites e sistemas, não percebem isso.

    Fiz um post sobre este assunto umas semanas atrás: http://rafael.adm.br/p/expertise-invisivel/

    Quando você integra tudo e faz um trabalho profissional, sua proposta não cabe no orçamento e você acaba não pegando o projeto.
    É por este motivo que eu acredito que neste caso você deva trabalhar para você mesmo, criando sua própria aplicação web ao invés de realizar projetos para terceiros.

    Abraços

  6. Excelente artigo Élcio. Muito bom ver um tema tão importante e muitas vezes desconsiderado na pauta do webinsider.

    Triste é ver alguns participantes deturpando uma discussão profissional na tentativa de veícular uma propaganda pessoal / empresarial.

    Mas pra quem é publicitário (como eu), e capaz de exergar isso, o efeito desse tipo de propaganda acaba virando-se contra o espertão… e antes que isso vire moda aqui no webinsider eu preciso falar umas coisas.

    Sim, eu me referi aos integrantes das equipes ou proprietarios das agências Plattô e Magic.

    É interessante ver os nomes destas empresas citados junto a termos como minha empresa está indo pelo caminho certo, ou procuramos trabalhar sempre em equipe e dividindo bem as tarefas. Porque, no final das contas, não acho que aparecerão posters aqui vinculando o nome da sua empresa a frases do tipo minha empresa precisa amadurecer mais neste aspecto, ou nesse sentido, minha empresa é deficiente.

    Pessoal, vamos crescer. É disso que países como o nosso precisa. Quantos de nós já não conhecemos bons exemplos de comunidades internacionais onde profissionais sérios se comprometem uns com os outros na tarefa de crescer conjuntamente? Que tal mantermos o espírito colaboratívo também aqui, no Webinsider?

    Desculpem ir além do tópico… mas é que não vejo outra forma de tentar corrigir estes problemas.

  7. A 10 anos atrás estava iniciando minhas atividades na internet. Abandonei meu sólido emprego na área eletrônica de uma multinacional e fui desbravar o desconhecido mundo da internet.

    Durante esses 10 anos e ainda hoje a maior discussão e o que sempre tento é fazer com que as pessoas (clienets, profissionais, usuários)compreendam que Web = Tecnologia + Comunicação + Relacionamento.

    Ainda hoje vejo empresas de informática desenvolvendo sites técnicos e empresas de design desenvolvendo sites artisiticos. E na maioria dos casos falta os elementos principais, que é a comunicação e o relacionamento.

    Em 2000 tive a oprotunidade de participar de um projeto chamado eClube.

    Esse projeto desde do ínicio foi realizado com total integração de equipes de tecnologia, design, comunicação e relacionamento. Sim das 7 pessoas que faziam parte da equipe, uma era responsável pelo relacionamento do site com os usuários.

    O site teve um crescimento de acesso ótimo no primeiro ano de atividade, o que proporcionou sua venda a grupos investidores. Porém outros fatores
    fizeram o projeto ser encerrado após 2 anos.

    A integração da equipe no ínicio foi um grande aprendizado e um grande diferencial, porém depois as equipes foram se separando, e talvez faltou a união para a continuidade do projeto.

    abraços e parabéns pelo artigo

  8. Ótimo artigo!
    Parabéns Élcio por apontar um ponto de vista pouco explorado (ou mal explorado).

    Trabalho em uma empresa focada em desenvolvimento de sistemas web e tem, ainda pequeno, cuidado com a comunicação.
    Como foi bem citado no artigo, sou apenas um quebra-ganho da subjetividade dentro de uma empresa determinar a apresentar soluções objetivas aos clientes.
    Ainda assim, acredito que isso já seja um diferencial para empresa. Especialmente para uma empresa fora da capital paulista.

    Mais uma vez agradeço ao autor por relevar um ponto que, minha opnião, será um divisor de àguas entre as empresas focadas em web.

  9. Elcio, muito bom o seu artigo. Participo do forum tableless há um mês e já consegui uma carga de informação muito boa lá.

    As questões que você propos são bem difíceis porem importantes. Vou procurar resumir bem as coisas em uma única resposta.

    Na Agência Magic, procuramos trabalhar sempre em equipe e dividindo bem as tarefas e tentando é claro, alocar da melhor forma o recurso ao projeto.
    Meus colegas estão trabalhando muito em questão da publicidade on-line, para ser sincero, estou por fora destas questões e focado mais na questão de desenvolvimento mesmo. Acredito que a medida do tempo, como as coisas vão evoluindo na chamada Internet 2.0, pessoas de: Programação, Publicidade, Design vão cada vez mais trabalhar em equipe e por etapas, o difícil é fazer isso acontecer na prática.

    Bom essa é minha opinião.

    Abs.

  10. Tai uma boa idéia, acredito ser esse o método do sucesso do bom planejamento.
    Porque não tentar! Vai ser bem melhor assim…

  11. Élcio,

    Fiquei contente ao ler o seu artigo, e ver que a minha empresa está indo pelo caminho certo.
    Aqui, conseguimos integrar muito bem as duas áreas, e o resultado tem sido super positivo.
    Para começar, trabalhamos todos no mesmo ambiente, programadores e web-designers. Existe interação e troca de experiência (diálogo) entre as duas equipes.
    Atualmente estamos desenvolvendo um Sistema de CRM online para um dos principais grupo de shoppings centers do país. Este trabalho é resultado de boas campanhas online que desenvolvemos para um dos shoppings do grupo.
    Concordo contigo, bons websites são aqueles que são mais do que apenas uma peça de comunicação.

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