Marcos Cavalcanti é coordenador do Centro de Referência em Inteligência Empresarial da Coppe/UFRJ e especialista em gestão do conhecimento. Carlos Nepomuceno é professor da Coppe e consultor e também colaborador do Webinsider.
São os autores de O conhecimento em rede, lançado pela Editora Campus/Elsevier, livro que procura mostrar que um vasto campo de atuação nasce com as interações em tempo real, muito mais amplas do que apenas jogos, redes sociais e trocas de informações.
?A internet não é um meio de comunicação, não é apenas uma nova mídia. É uma maneira de interação em escala global. Porém, é preciso que se estabeleça de forma organizada e com regras, assim como as encontradas em todas as relações sociais fora do ambiente online, para que a rede seja um instrumento de integração eficiente e produtiva?, afirmam.
O livro trata de inteligência coletiva e mostra, na prática, como implantar projetos desta natureza. Conversamos com os autores:
– O que é conhecimento em rede?
Cavalcanti: – Para entender a idéia, vamos lembrar, por exemplo, da invenção da vacina contra a paralisia, obra de um grande cientista, o Dr. Sabin. Era o trabalho de um homem só, praticamente. A partir de agora, a coletividade vai determinar as descobertas. A cura do câncer virá de um trabalho coletivo, assim como foi a descoberta do sequenciamento do genoma humano, um trabalho de muitos pesquisadores. Elas aconteceram não por uma ação individual, e sim coletiva.
Assim são o Linux e o compartilhamento de música no computador. É uma nova maneira de produzir conhecimento e trocar informações, experiências de forma seqüencial, só que em rede.
– O livro é limitado aos profissionais de Tecnologia da Informação?
Nepomuceno: – Não, pois atinge públicos diferentes, como o profissional de comunicação, recursos humanos, educação, tecnologia da informação, finanças. O livro é um marco, pois avalia o conhecimento em rede de forma clara e ?visual?.
– Qual é a principal vantagem do conhecimento em rede?
Nepomuceno: – Hoje, empresas, países e pessoas podem se beneficiar muito se souberem utilizá-lo de forma estruturada. Os países, por exemplo, devem ter o conhecimento em rede dentro de seus planejamentos estratégicos.
Cavalcanti: – Não basta vontade, tem que ter um método para utilizar a internet a seu favor e de forma organizada. Caso contrário, seu uso será limitado.
Nepomuceno: – O conhecimento em rede existe há algum tempo só que agora está mais intenso. Vivemos a segunda etapa da evolução do uso da internet em decorrência do acesso à banda larga, que elevou o tempo online de cada usuário e enriqueceu as possibilidades e usos das ferramentas que já existiam. Ficou mais nítida e forte a sua presença. É a era do compartilhamento de idéias e do uso massificado de ferramentas como o Orkut, My Space, You tube.
– Como o Brasil está neste novo cenário?
Cavalcanti: – Está bem posicionado. O fator cultural é um aliado. Somos um povo com uma enorme capacidade de interação e o fazemos de forma natural. Ficamos muito tempo na internet. É como um poço de petróleo inexplorado. Temos a capacidade de comunicação e relacionamento que nenhum outro povo tem. Somos bem articulados e isso conta a nosso favor. Os outros terão que vencer suas barreiras culturais, além da organização da rede. Temos a habilidade de trabalhar em rede e de interagir. Reforço, isto é um ponto muito positivo. Basta agora aprimorarmos o uso das comunidades em rede.
– De que formas funcionariam estas relações?
Nepomuceno: – Método é a palavra chave. Esta é a proposta. Primeiro deve ser feito um rascunho para identificar como esta metodologia deve ser construída para depois evoluir e implementá-la. Como? Através do que denominamos apicultores. Ou seja, pessoas que serviriam como multiplicadores e organizadores de uma dada comunidade.
Assim, eles compartilhariam pesquisas, dados importantes para aquela comunidade. A comunicação se dá mais rapidamente e é direcionada para um público específico. Imagine o quanto uma empresa pouparia ao reduzir anúncios em jornais e focar nestas comunidades? É fantástico. Ele atinge certeiramente seu público e consumidor real. É a melhor maneira, hoje, de ter retorno.
– Dê um exemplo de conhecimento em rede.
Nepomuceno: – Digamos que temos mil criadores de coelhos, cada um com uma tática e sua experiência. Se eles estivessem em rede, estruturadamente, poderiam negociar a compra de ração em conjunto, descobrir os melhores fornecedores, compartilhar técnicas de criação, oferecer cursos a distância, encontrar novos parceiros, descobrir novas técnicas, inclusive em outros países. O ideal é interagir dentro de uma comunidade eficiente na internet. É uma forma de enriquecer a comunidade com conhecimento, sem falar do baixo custo, da rapidez e do retorno.
– A inclusão digital é uma alternativa para aumentar o conhecimento do seu funcionamento?
Cavalcanti: – Sim, mas ainda é um ponto a ser trabalhado. O fundamental é estimular a criação de comunidades, e não se limitar apenas à doação de computadores, com vemos na Índia. Desta forma não se qualificará. A internet precisa deixar de ser meio de comunicação (com a troca de e-mails, dados pouco confiáveis) e passar para meio de interação, com resultados positivos para as comunidades, voltados para a produção. É uma ação que precisa ser trabalhada em conjunto, e não isoladamente como um pato feio que não consegue se fazer escutar.
– Como vocês vêem o governo e a iniciativa privada neste aspecto?
Cavalcanti: – O papel do governo é contribuir, acelerar o que chamamos de ambiente propício. Ou seja, oferecer uma relação horizontal com tecnologia, dinamismo, conhecimento entre usuários e empresas ativas. Além, é claro, dos investimentos em acesso à internet, financiamento de cursos.
Já a iniciativa privada precisa mudar para sobreviver. Os projetos de internet e intranet vão mudar, terão de ganhar mais funcionalidade e interatividade. E hoje existe uma tendência dos participantes das comunidades confiarem mais nas opiniões de seus colegas do que nas propagandas institucionais.
Se a Globo não investir no conhecimento em rede, como ficarão seus jornais e programas de TV sem patrocinadores, leitores e telespectadores, uma vez que a audiência está pulverizada? No livro A Cauda Longa, Chris Anderson fala desta comunidade, que não apenas recebe informação, mas troca informações entre si e quer influenciar no resultado. São as comunidades pequenas que passam a ter voz e vez. Os grandes bancos, por exemplo, estão acompanhando de perto as comunidades em rede. Durante o Congresso Internacional de Tecnologia Bancária, deste ano, foram relatadas experiências envolvendo comunidades de pessoas prontas a emprestar dinheiro diretamente, sem intermediação das instituições financeiras.
– Emprestar dinheiro sem passar por financeiras?
Cavalcanti: – Você só vai compartilhar informações com quem confia. Não fazemos isso quando vamos ao cinema? É comum perguntar para um amigo o que achou do filme antes de comprar a entrada. Acontece em todas as relações e é uma coisa natural.
Nepomuceno: Quantos profissionais olham para as comunidades de forma séria? É preciso considerar que é necessário encarar um processo de educação para rede. Aí entra o apicultor, figura que ajudará a enfrentar as dificuldades e organizará as relações.
– Vocês têm participado concretamente deste processo de mudança que valide a análise?
Nepomuceno: – Prestamos consultoria e estamos com alguns projetos piloto em empresas de comunicação e ONGs. Apesar de estarem no início, apostamos muito na idéia. Um exemplo que sustenta os nossos argumentos é a compra do YouTube pelo Google, por US$ 1,4 bilhão. Este gigante da internet não está comprando tecnologia, mas sim uma comunidade em rede com mais de 14 milhões de pessoas! Sabe que através dela pode conseguir novos patrocínios e ganhar mais dinheiro e colocará mais inteligência no processo. É um amplo leque de possibilidades. Está aí, acontecendo. Só não vê quem não quer.
– Explorar o conhecimento em rede é uma vantagem competitiva?
Cavalcanti: – Sem dúvida. Imagine hoje a quantidade de profissionais qualificados que existem no mercado. Todo mundo quer ter a chance de mostrar o seu potencial. E temos de explorar isso. Quantos pesquisadores estão em comunidade, trocando informações e conhecimento? A comunidade médica, por exemplo, está em rede? Pois deveria. Precisamos aproveitar este potencial. Estamos oferecendo aos leitores um prato farto e encorpado de oportunidades a serem exploradas. Basta não ignorar as mudanças e dedicar-se a este novo cenário, que tudo indica ser muito próspero. [Webinsider]
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Vicente Tardin
Vicente Tardin (vtardin@webinsider.com.br) é jornalista e criador do Webinsider. É editor experiente, consultor de conteúdo e especialista em gestão de conteúdo para portais e projetos online.
8 respostas
kkkkkkkkkkkkkkkk
…*Te adoro Te Qerooo…*
huahahaua…
Muito boa a matéria.
Excelente matéria!
Tenho certeza tmb de que as comunidades estarão cada vez mais organizadas e gerarão cada vez mais conhecimento.
Devemos aproveitar ao máximo a existência e desenvolvimento delas.
Excelente artigo, pois acredito muito que a internet será o meio para nosso país tomar o rumo do crescimento. A nossa facilidade em nos relacionar será o nosso diferencial perante outros países mais avançados tecnologicamente, por isso é importante incentivarmos toda atividade que fomente a educação, em especial ONGs que promovam cursos de informática e internet.
Oi Simone,
Veja que legal essa reportagem…
[]´s
Silvana Martinski
Gostaria de parabenizar os autores do livro, sobretudo devido à sagacidade da colocação que fizeram aos brasileiros… e gostaria de deixar uma crítica ao Sr. Parulla, sobretudo devido ao espirito que muitos de nós nutrimos dentro deste país.
– É hora de deixar esta carência de lado.
Temos a capacidade de comunicação e relacionamento que nenhum outro povo tem.
Sabendo que o Sr. Cavalcanti fez a declaração acima pensando exatamente neste perfil psicológico nojento de quem compra a versão em português do livro publicado, deveriamos nos ufanar menos e pensar um pouco mais.
Sejamos razoáveis, vivemos num país com sérias dificuldades de coletivização da internet, nos comunicamos mal pois temos muitos analfabetos, e no final das contas, temos de adminir que países como os EUA estão bilhões de anos luz na frente de nós quando conversamos sobre comunicação e relacionamento. Pois só pra começar (pois pra terminar me tomaria toda a noite) o mundo inteiro fala a lingua deles.
É hora de crescer, para nossa profissão crescer e para nosso país crescer.
Abraço!
Pela primeira vez em 30 anos de vida senti feliz em ser brasileiro. É uma grande verdade que temos um dom naturalpara nos relacionarmos, agora imagine a comunicação pessoal utilizando-se de componentes eletronicos poderosos para transmitir e receber dados, voz e imagem. Isso é fantastico, estamos amadurecendo e com materias maravilhosas como estas, que enriquecem mais ainda nosso pensamento, que projeta coisas a partir de outras coisas. Sem dúvida alguma, o conhecimento em Rede é a libertação podemos assim dizer do espiritouma vez que agora ele pode possuir o universo.