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Os jornais do mundo seguem hoje por dois trilhos paralelos em termos tecnológicos.

Um dos caminhos é a evolução contínua do modelo centenário, de uma publicação impressa diariamente, envolvendo tinta e rolos de papel. Mas é evidente que um jornalista do século 18 ou 19 ficaria assombrado com um jornal de hoje, com as máquinas, a qualidade e a velocidade da impressão, o design, os tipos de conteúdos.

No outro trilho, estão as tecnologias digitais, em particular os aparelhos móveis como tablets e e-readers. Com menos de uma década de existência, esses aparelhos se tornaram cada vez mais leves, poderosos e acessíveis.

kindlePor exemplo, o recém-lançado e-reader Kindle Paperwhite da Amazon tem uma série de características impressionantes: o aparelho de 213 gramas tem tela de altíssima resolução (com o “look and feel” do papel tradicional), bateria com autonomia para oito semanas, conexão wi-fi, uma nova tecnologia de iluminação que facilita a leitura em qualquer ambiente, acesso a uma livraria com um milhão de títulos por menos de US$ 10 cada, além de uma biblioteca gratuita com 180.000 títulos.

E custa menos de US$ 120 nos Estados Unidos.

Na semana passada, o USA Today, o jornal impresso mais moderno dos EUA completou 30 anos de existência.

Esnobado pela indústria e pelos assim chamados experts na época do lançamento (foi apelidado de “McPaper”: uma versão fast-food de um jornal “sério”). O USA Today foi o destemido pioneiro de muitas tendências importantes: inovou na forma, no conteúdo, nas estratégias de produção e distribuição. Se tornou o jornal de maior circulação no principal mercado editorial do mundo. Seus críticos se calaram, seus opositores acabaram copiando a maior parte de suas boas ideias, na esperança de replicar uma parcela desse sucesso.

Trinta anos depois, o USA Today tem que equilibrar sua glória com os terríveis abalos sofridos pelo setor de jornais nos últimos tempos. O jornal comemorou a maturidade balzaquiana anunciando sua primeira grande reforma gráfica e estratégica desde a criação. O designer jornalístico Mario García dedicou uma série de artigos muito informativos sobre o aniversário do jornal.

Ao mesmo tempos, nos dois trilhos paralelos, chegam notícias preocupantes, intrigantes, dissonantes.

Nos Estados Unidos e Europa, o jornalismo impresso vive um caos devastador, que não consegue ser contido ou sequer desacelerado pelos publishers e executivos da empresas, que são trocados freneticamente, como técnicos de times de futebol.

Cada vez mais títulos são fechados, editoras decretam concordata, jornais tradicionais (muitos deles centenários) anunciam que vão reduzir o número de edições impressas na semana – ou simplesmente optam por publicar apenas a edição digital. As demissões do setor só tem aumentado nos últimos anos, afetando gravemente a qualidade e a diversidade do jornalismo praticado em mercados maduros como os EUA e a Europa Ocidental.

Os investimentos (e investidas) dos jornais no mundo digital parecem ter vindo tarde demais, e tímidos demais. Em 2011, estimava-se que para cada 10 dólares perdidos em publicidade pelos jornais impressos, apenas US$ 1 era ganho nas versões digitais. Agora, essa relação mais do que dobrou, na proporção de 25 para 1.

A internet reduziu, ocupou ou simplesmente engoliu muitas das principais fontes de faturamento dos jornais. A web fez brotar centenas, milhares de concorrentes em cada área de ganho monetário das publicações, expandindo exponencialmente o chamado inventário de espaços de anúncios e depreciando seu valor. Operações que antes eram exclusivas dos jornais, como anúncios classificados, foram inundadas por diversas ondas de novos concorrentes. Outros negócios, como listas e páginas amarelas, estão praticamente extintos.

Mas há alertas de outra espécie. Organizações como a World Association of Newspapers relatam que há lugares do mundo onde o jornal impresso floresce e se fortalece. Não são lugares insignificantes: a China, a Índia, o Brasil e outros países do antigo Terceiro Mundo estão vivendo uma “Primavera do Papel”.

Países onde há poucas décadas as condições educacionais e econômicas eram barreiras para a circulação de publicações. São países onde cresce o número de pessoas alfabetizadas com dinheiro suficiente para comprar jornais e revistas impressas. Ao mesmo tempo, nesses países ainda não há um volume suficiente de compradores de computadores, tablets ou smartphones. Ainda não existe uma economia de escala, ou acesso a tecnologias e infraestrutura comercial das publicações digitais.

São realidades paralelas. São dois hemisférios, que se espelham. As linhas paralelas da evolução da indústria jornalística devem e precisam se encontrar no Equador que divide os hemisférios, linha imaginária que representa o futuro do nosso negócio. [Webinsider]

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Na imagem uma página do jornal sueco Post-och Inrikes Tidningar, criado em 1645 pela Rainha Cristina.

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Sergio Kulpas (sergiokulpas@gmail.com) é jornalista e escritor.

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