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O som absoluto, aquele que só encontra paralelo na reprodução ao vivo dos instrumentos musicais, é a busca obsessiva daqueles que se dedicam, profissionalmente ou não, à pesquisa do áudio. E tal pesquisa passa por fontes de reprodução (aparelhos usados como “front-end” na cadeia de áudio), pré-amplificadores, amplificadores, processadores e, principalmente, sonofletores. Ao que tudo indica, o tempo passa e a busca nunca termina.

A apreciação do que se chama de som de boa qualidade é subjetiva, e varia de pessoa para pessoa. No entanto, existe um fator, aparentemente inconteste: a qualidade do som que se ouve começa, e muita das vezes termina, na qualidade da gravação.

A eterna busca pelos audiófilos do som absoluto nunca terá fim, porque ele é virtualmente impossível de ser alcançado.

A maioria dos audiófilos e amantes de música estão sendo bombardeados por uma miríade de métodos, codecs, processadores, reprodutores e outros equipamentos, sem que haja nenhuma trégua no que concerne à obtenção do som de alta qualidade. Mas em nenhum momento se leva em consideração o elo mais fraco da cadeia de reprodução: o som gravado.

Os primeiros pesquisadores e engenheiros, que se dedicaram ao aprimoramento da captura e reprodução do som, rapidamente perceberam que se trata de uma tecnologia de enorme complexidade e quase impossível de dominar. Na primeira parte do século 20, engenheiros da Bell presumiam que seriam necessários cerca de 100 microfones e 100 alto-falantes para reproduzir corretamente uma gravação orquestral. E esta noção está aí até hoje, endossada por gente como Tom Holman, conhecido dos cinéfilos como o idealizador do sistema de reprodução THX. Mas, a idéia inicial da Bell foi abandonada por não ter nenhum sentido prático.

Se as pesquisas em torno da capacidade humana de percepção do som não tivessem evoluído, muito do que se seguiu depois não teria chegado a lugar algum. Mas, foi por culpa de Alan Dower Blumlein, engenheiro eletrônico inglês, que os primeiros conceitos práticos de gravação de alta qualidade foram desenvolvidos.

Antes dele, sabia-se que a percepção espacial do som (a base do som estereofônico) poderia ser alcançada, desde que se implementassem fones de ouvido para a audição do som capturado. Isto, entretanto, tornava a audição intra-aural, ou seja, a sensação psicoacústica do espaço elimina o espaço externo ao ouvinte. Blumlein mudou isso, patenteando a captura do som por dois microfones, a 90º um do outro, e a 45º da fonte, e da reprodução por dois alto falantes.

Arranjo_de_microfones,_pelo_método_proposto_por_Blumlein

A colocação desses microfones foi proposta por Blumlein, para ficar na mesma posição do ouvinte, e embora ele próprio não tenha se referido a isso como ?som estereofônico? na época da patente (1933), a verdade é que a maioria desses fundamentos se aplicou, e ainda se aplica, àquilo que a gente ouve hoje em dia.

O método de gravação proposto por Blumlein faz parte de uma filosofia de gravação, adotada por selos de audiófilos, chamada genericamente de técnica minimalista. A idéia é que, quantos menos microfones forem usados, menores serão os erros de fase, que produzem falta de acuidade na captura e reprodução do som de um ou mais instrumentos, num determinado ambiente. Entretanto, se isso fosse aplicado de forma draconiana, em qualquer circunstância onde uma gravação de boa qualidade seja o objetivo final do trabalho de gravação, então qualquer método que usasse mais de dois microfones seria automaticamente incorreto, e potencialmente indutor de erros de reprodução.

Na prática, porém, se mostra conclusivamente que isso não é verdade, e por isso métodos de gravação, que envolvem três microfones em arco, ou até ?arrays? de um monte de microfones, podem, e de fato são, usados com total sucesso.

O cerne da questão é, novamente, muito mais complexo do que se imagina. Por isso, um amigo meu, que é audiófilo com grande experiência, me diz, com razão, que uma gravação bem feita, e que soa bem em qualquer equipamento com um nível razoável de qualidade, é o resultado de uma série de circunstâncias felizes, que incluem os tipos de microfone usados, o equipamento de gravação, o local e a acústica do mesmo, onde a gravação é feita, entre outros fatores.

Em outras palavras, é muito difícil antecipar resultados, ou presumir que uma gravação tecnicamente bem feita é aquela que é feita por um estúdio de ilibada reputação técnica, porque nem sempre os objetivos de captura acabam resultando em alguma coisa sonicamente convincente.

De qualquer maneira, manda o bom senso que, antes de se faça um julgamento drástico da performance de um sistema ou equipamento, é necessário lançar mão de um sinal de referência, e, no caso, a maneira mais fácil de fazer isso é usar uma gravação de grande precisão de captura.

Por outro lado, não se deve ignorar a fragilidade relativa de cada um dos componentes de uma cadeia de reprodução, a começar pelo chamado “front-end”, que é o reprodutor usado para tocar a mídia, e indo parar no tipo de alto falante ou caixas usadas.

Resguardadas as diferenças mais radicais entre os vários sistemas de reprodução, a escolha da fonte (disco, fita etc.) contendo a gravação é de suma importância e por isso ela é constantemente escrutinizada pelas revistas e publicações especializadas.

A maioria dos estúdios que exploram gravações comerciais não dá a menor bola para qualidade sonora. É comum, e chega a ser irritante, o uso abusivo de compressores e limitadores, cujo único objetivo é fazer a música tocar mais alto. A colocação imprecisa de microfones, a mixagem desleixada, e os níveis altos de distorção de captura, no fim das contas, acabam não fazendo nenhuma diferença. Usar isso como desculpa para condenar CD, Dolby Digital, MP3, ou seja lá o que for, é, na minha opinião, imprudente.

Remasterizações feitas com critério devem ter sempre a presença de alguém que tenha gravado, ou assistido na gravação original, como foi o caso da série Living Presence, com a presença da viúva do engenheiro Bob Fine. Entre a chamada “fita master” e um CD, a perda pode ser muito grande se o sinal for manipulado indevidamente.

Recentemente, eu mesmo tive a chance de comprovar isso, uma vez suprido com a cópia “raw” da master, em CD, e depois comparando a mesma, com a versão final, colocada à venda. No caso do ambiente digital, esta perda nunca é devida à passagem de uma geração para outra, como no analógico. Por tudo isso, exposto acima, deixo uma sugestão a quem ainda quer ouvir um bom som dentro de casa: um bom som começa com a gravação certa! [Webinsider]

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Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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14 respostas

  1. Oi, Vanessa,

    Eu sei que é áspera a interface da tecnologia com o usuário doméstico que não teve chance de ser informado pela indústria sobre o equipamento que está comprando. Aqui na coluna eu tento ajudar a quem me pede ajuda, mas nem sempre é possível conseguir fazer isso com o sucesso desejado.

    Em primeiro lugar, eu não disse a você que as suas caixas que estão sobrando não servem para nada. Mas, se você desconhece as características físicas e acústicas das mesmas fica difícil (não impossível) aproveitá-las em outro equipamento.

    Os fabricantes historicamente tiveram interesse em oferecer equipamentos integrados, ao lado de componentes separados, com o objetivo de facilitar a montagem e o uso. Assim nasceram os receivers (receptores), que integraram um amplificador de áudio estéreo (2 canais) com um sintonizador AM/FM.

    Os A/V receivers são uma evolução do receiver convencional. Eles integram processadores de áudio e de vídeo, junto com múltiplos amplificadores, entradas e saídas para equipamentos geradores de sinal (o seu DVD/Blu-Ray player, por exemplo) e receptores de sinal (a sua TV ou projetor).

    E existem os chamados “home theater in a box”, que são vendidos com todos os equipamentos que o usuário precisa, mas em um conjunto pré-planejado, para o qual o usuário não precisará se preocupar com o tipo de caixa acústica, por exemplo. A ideia é montar tudo como manda o manual, e conectar o equipamento à TV.

    Usuários avançados ou entusiastas preferirão equipamentos separados, e escolhidos a partir de um critério pessoal. Se a pessoa não sabe com o quê está lidando, a montagem só poderia ser feita com a ajuda de um técnico ou instalador especializado.

    Pelo exposto acima, é óbvio que eu estou lhe aconselhando a investir em um home theater in a box, do modelo e custo que melhor lhe convém. Alguns deles já vêm inclusive com um Blu-Ray player. O custo final é bem menor do que comprando equipamentos separados.

    Sobre subwoofers:

    O subwoofer é uma caixa acústica desenhada para reproduzir sinais de baixa frequência (sons graves), normalmente em uma faixa de 25 a 150 Hz. Existem subwoofers de vários tipos e modelos, alguns com custo bem acima de mil dólares.

    O subwoofer demanda uma potência de amplificação alta. Por causa disso, os fabricantes oferecem modelos com amplificação própria. Os modelos atuais oferecem a opção de aplicação de filtro de frequência calibrável e/ou bypass deste filtro, para conexão do subwoofer a um A/V receiver que tenha uma saída para subwoofer.

    Com a introdução do Dolby Digital 5.1 (o .1 é o canal de efeitos de sons graves, chamado de LFE), os home theaters passaram a usar o subwoofer não só para os programas com som normal (estéreo, por exemplo), como para o LFE.

    É preciso estabelecer um ponto de corte de frequência, abaixo do qual todo e qualquer sinal de áudio passa a ser reproduzido pelo subwoofer. A THX recomenda 80 Hz, mas as demais caixas instaladas podem exigir um corte diferente deste. Além disso, o usuário deve estabelecer um ponto de corte para o LFE, normalmente em torno de 120 Hz. Na prática, quer dizer que de 120 Hz para baixo o LFE (.1) será reproduzido pelo subwoofer.

    Fico por aqui, mas sugiro a você um pouco mais de leitura. A Internet tem muito site para informações as quais você poderá precisar em algum momento do futuro. No momento, espero poder ter lhe ajudado um pouco.

  2. Bom dia Professor
    Poderia ser mais espeçifico , sou completamente leiga se tratando do assunto som , quer dizer que estas caixas de som não servem para nada …O que e um A/V receiver, subwoofer tem amplificador próprio,corte de frequência, aquisição de componentes separados?
    Perdão pela minha ignorância…pode me dar o passo a passo….grato

  3. Olá, Vanessa,

    Se você quer aproveitar este conjunto de caixas, tome o cuidado de adquirir um A/V receiver que seja compatível com impedância baixa (4 ohms). Além disso, verifique se o subwoofer tem amplificador próprio, caso contrário você terá problemas na sua instalação.

    Além disso, note que este conjunto pressupõe um corte de frequência em 150 Hz, que é muito alto. Seria interessante verificar com o fabricante se é possível usar um corte mais baixo.

    Pessoalmente, eu não recomendaria usar um conjunto de caixas deste tipo com outros equipamentos. Se o seu orçamento lhe permitir, considere a aquisição de componentes separados.

  4. Bom dia,
    Tinha um home theater, o mesmo queimou, me sobrando 2 caixas acústicas frontais e 2 traseiras impedançia 4 150Hz- 20kHz,uma caixa central impedância 8 150Hz- 20kHz,um subwoofer impedância 8 40Hz – 150 Hz….Gostaria de saber o que fazer para aproveitar estas caixas….me ajude obrigada

  5. O mais importante equipamento para deixar o som mais fidedigno ao som original, tem sido esquecido nos melhores sistemas de audio atuais: EQUALIZADOR! Um bom equalzador, com muitas bandas de frequencia e ajustado por quem tem ouvido absoluto, faz milagres nessas gravaçoes mediocres que se ouve por ai.

  6. Olá outra vez!

    A impressão que me passa é que nós concordamos muito mais do que discordamos nas nossas opiniões. Eu acredito, pelo que foi exposto na sua dissertação, de que você tem vivência ou trabalha em estúdio. Eu, por outro lado, encaro isso como hobby, as minhas visitas a estúdios sempre foram esporádicas. Na minha vida pregressa, eu tive a ambição de fazer corte de acetato, mas foi um projeto que eu desisti, e depois agradeci a Deus por isso, já que o Lp morreu, e muitos estúdios vivem hoje na penúria. Aliás, a toda hora eu fico sabendo de executivos que antes ocupavam cargos de altos salários, dentro de estúdios (incluindo selos multinacionais), e que estão sendo demitidos, por causa da contenção de custos.

    Eu acho uma pena que os grandes estúdios estejam acabando, mas isso é assunto para outra discussão. Além do mais, quando tudo andava bem, nenhuma gravadora se prontificou a explorar menos o consumidor. A mídia em CD continua cara, alguns selos encarecem o produto com pseudo-métodos de proteção, e isso só vem incentivar a pirataria, virando um círculo vicioso.

    Pessoalmente, eu evito entrar em debates em assuntos como o áudio. Já vi muito audiófilo preconceituoso, esnobe, e paranóide com esta coisa de trocar componentes.

    Por outro lado, conheço gente muito séria e competente (se um amigo meu estiver lendo isso, vai morrer de rir… mas é verdade). Sistemas para playback que um deles tem só mesmo sendo rico! Então, a gente tem que viver na nossa realidade, e neste ponto, das duas uma: se você tem um disco bem gravado, ele vai tocar razoavelmente bem no teu sistema, e se tiver um disco ruim, não há sistema que resolva isso!

    E dentro dos estúdios é a mesma coisa: tem gente séria e competente, no meio, infelizmente, daqueles que se estabeleceram no mercado e estão, aparentemente, pouco se lixando com o material de trabalho.

    Num mundo de recursos onde até idiotas como eu poderiam ousar fazer bem feito, como é que se admite que você compre um DVD de um show, por exemplo, e depois de tocar aquilo ali, nota, sem muito esforço, que o sujeito que mixou o disco não tomou cuidados primários, como dispersar instrumentos em mais de um canal? O que é que adianta, eu lhe pergunto, você ter trezentos canais para mixar uma gravação, seis canais para reproduzir, e compra um disco MONO? Mas é isso que a gente acha no mercado, aqui em casa eu tenho uns dois desses!

    Neste ponto, viva os minimalistas, porque ali não tem como errar, a não ser que os caras sejam muito incompetentes, o que raramente é o caso, concorda? Você pode até não gostar muito do áudio, mas no geral, a coerência de fase é exemplar, dentro de limites!

  7. Realmente professor, o assunto áudio é sujeito a chuvas e trovoadas. É por isso que eu acho o assunto belo e complexo. Eu aprendi que quando se fala em áudio, só existe uma verdade: ?Não existe certo ou errado, não existe verdade absoluta?. Não entenda meu post como uma afronta, e sim como um debate, e o debate é sempre prazeroso e enriquecedor, onde todos ganham.

    Gostaria de fazer uma breve réplica do seu post.

    As caixas de som de referência usadas em estúdio como Yamaha NS10, KRK, Tanoy ou as grandes Genelec?s , realmente não são pra usar em casa. Mas todo engenheiro de som que se preza, tira uma cópia da mixagem ou da master e ouve em locais diferentes(no carro, em casa,etc). Desta forma temos uma outra referência, mais real e mais clara e verdadeira.

    Na década de 50 ou 60, com gravações diretas no acetato, realmente existia uma preocupação enorme com primeiro, segundo e terceiro plano, também com a ambiência, acústica e com o volume. Sim, com o volume, pois era tudo gravado em um take só, o volume do instrumento na música era calculado pela distância do instrumento até o único microfone (omnicardióide) que ficava geralmente no meio da sala, por exemplo: Louis Armstrong tocava seu poderoso trompete à sete metros de distância do microfone. Todos andavam só de meias no estúdio de gravação, para poderem andar sem fazer barulho, principalmente quando tinha que se aproximar do microfone para realizar um solo ou algum elemento que precisava ficar mais alto na música. As pessoas envolvidas ensaiavam até a perfeição, pois nenhum músico podia errar, sob pena de ficar um longo ano sem ser convidado para gravações.
    Depois que surgiu o gravador multi-pistas, começou-se a perder esta disciplina e perfeccionismo em estúdio e chegamos aos dias de hoje gravando instrumento por instrumento, fabricando cantores no computador.

    Quanto ao abuso de compressores e outros, isso é típico de alguns pseudo-engenheiros de som e pseudo-produtores, que aprenderam a profissão batendo a cabeça por 15 anos em algum estúdio, sem técnica ou teoria básica. É preciso saber quando e porque usar o equipo. Talvez, eu não colocaria compressores em Jazz, no entanto não imagino uma mixagem de Rock ao estilo de Nova York sem uma dúzia de compressores.
    Estes equipamentos são necessários e devem ser bem utilizados. É como remédio, na dose certa cura, na dose errada mata. O problema, é que não existe uma faculdade de engenharia de som no Brasil, aliás, esta categoria nem existe no Ministério do Trabalho.

    Não vou discordar do professor quanto ao 16, 24 ou 48 bits, mas vou lembrar que em se tratando de áudio digital, quanto maior o número, maior será a qualidade final, melhor será a faixa dinâmica e menores serão os erros de quantização.

    Um abraço.

    Paulinho Uda

  8. Caro Paulinho,

    Eu não tenho a menor dúvida de que existem profissionais competentes, dentro dos estúdios brasileiros. Sobre a sua pergunta se eu já ouvi um som reproduzido dentro de um estúdio, a resposta é sim, tanto para analógico (multicanal em sincronismo) como digital (tipo ProTools, por exemplo), masters em formato DA, etc. Mas, para não deixar passar isso em branco, eu acrescento o seguinte: todo e qualquer estúdio usa para o seu trabalho caixas de referência, e sinceramente nem sempre as caixas que eu ouvi são as que usaria na minha casa!

    A propósito, eu passei recentemente por vários estúdios de referência aqui do Rio, entre eles o Doublesound (que tem certificado THX), o Nova Onda e o Wanmacker, onde pude conversar com um dos donos sobre remasterização, mixagem, trocar opiniões, etc. Infelizmente, muitos dos estúdios maiores por aqui estão fechando um a um, por motivos da crise das gravadoras, que é um fenômeno que ultrapassa as nossas fronteiras.

    Mas a minha opinião sobre a má qualidade do áudio não é baseada em visitas locais. Este é um problema recorrente e antigo. Se o assunto lhe interessa (eu espero que sim), e se você ainda, por acaso, não tem vivência nisso, eu lhe sugeriria dar uma ouvida em gravações mais antigas, tipo final de década de 1950, e início de 1960, de selos comerciais como Command Records, Mercury, e até mesmo RCA, se você driblar as distorções de algumas das gravações da série Living Stereo. Ouvindo estas gravações com atenção, você nota uma preocupação com primeiro, segundo, e terceiro planos, ambiência, e outros detalhes que aumentam significativamente a qualidade de qualquer gravação decente. Com o passar do tempo, apenas os selos de audiófilos retiveram esta preocupação, e isso ficou bastante evidente na época dos Lp?s de corte direto, vindo das Sheffield Lab e Crystal Clear da vida. Depois, na era digital, e diga-se de passagem até hoje, este cenário não mudou em nada.

    Muitos estúdios, na ânsia de satisfazer o público consumidor de obras populares, abusam de compressores e outras engenhocas, que destroem a dinâmica da música, e eu já ouvi, no passado remoto, comentários sobre ?não adianta melhorar a qualidade, porque o consumidor não tem equipamento para notar isso!? Se compressores não fossem usados abusivamente, até rádio FM seria capaz de entregar um som bastante decente! Você mesmo afirma, e com razão, que o público em geral quer grave, agudo, e volume. Mas, eu também tenho certeza de o público que está ligado em música, não aceita muito bem este tipo de abuso, e sim por falta de opção.

    Eu concordo contigo em duas coisas: uma, que os estúdios se esforçam para competir e produzir boa qualidade, sob pena de não sobreviver no mercado, e dois, que a mídia pode influenciar no resultado da reprodução, e eu sou um que nunca fui muito fã de MP3 e outros codecs.

    Por outro lado, eu discordo, se você me permite, que o CD, por ainda ter resolução de 16 bits, não tem qualidade suficiente para alimentar um sistema de reprodução de alta definição, e nem que a redução de 24 bits para 16 bits vá acarretar esta perda enorme que você está dizendo. Os estúdios adotaram o padrão 96 KHz/24 bits por uma série de motivos, entre os quais, que se você estiver fazendo um trabalho de preservação (tipo analógico para digital), a amostragem mais alta facilita o trabalho de aplicação de filtros ou qualquer outro tipo de computação nesta direção. É evidente que eu sou 100% a favor de se manter este padrão, e se reduzir a amostragem, para compatibilização no uso doméstico. Um CD bem gravado, reproduzido num sistema de referência, com upsampling, tem um som bem próximo do estúdio, eu diria até, me arriscando à heresia, bem melhor do que o som que se monitora em alguns deles. O erro, na maioria dos casos, onde eu tive a chance de ouvir a gravação em CD, sem ser mexida, e o produto final, para venda, está na maneira como o áudio é tratado para o consumo, e não na mídia (CD) propriamente dita. E esta observação não é só minha, alguns amigos meus notaram a mesma coisa. Eu creio que você deve saber que os estúdios entregam as masters para as salas de autoração e o resultado depois foge ao controle de quem gravou aquele material, ao contrário de antigamente, onde o engenheiro de gravação (mesmo os daqui) mandavam cortar o Lp e depois de comparado com a master, mandavam fazer tudo de novo!

    No mais, meu amigo, o áudio é um assunto sujeito a chuvas e trovoadas, e eu estou aberto a qualquer opinião que discorde das minhas. Eu estou, neste momento, escrevendo sobre o início da estereofonia, para postar na minha página pessoal, porque muito do que a gente ouve hoje, dentro de casa ou nas salas de cinema, tem explicação na maneira como o áudio era tratado antes e como foi tratado depois, e portanto eu acredito que qualquer pesquisa nesta direção, vai ter, de alguma forma, a sua utilidade.

  9. ERRATA: No primeiro post eu escrevi descordando é discordando, e escrevi também 24 bits/ 196 Khz,o sample-rate correto é 24 bits/ 192 Khz. a taxa de amostragem é sempre o dobro: 48k, 96k, 192k.

  10. Só pra completar professor. O senhor disse que A maioria dos estúdios que exploram gravações comerciais não dá a menor bola para qualidade sonora. Pelo contrário professor, o estúdio é uma empresa, e como tal, precisa entregar um produto ou serviço com o melhor preço e melhor qualidade possível para o cliente ou não sobrevive.
    Não sei que estúdio o senhor andou visitando pra escrever isso. Visite o Mosh em São Paulo ou o Estúdio Mega no Rio, estes são estúdios de verdade.

  11. Desculpe professor, mas começo descordando a partir do titulo. Pois a qualidade da gravação está relacionada ao trabalho de músicos, técnicos, equipe em geral, acústica do ambiente e equipamentos (que aliás, nós aqui no Brasil usamos o mesmo equipamento que se usa em qualquer lugar do mundo). Existem bons e mal profissionais, bom e mal equipamento, mas será que o senhor já ouviu o som gravado e reproduzido dentro do estúdio???? Já ouviu o som gravado em uma fita magnética de 2 polegadas? Não existe ainda equipamento digital que se compare em qualidade.
    O problema está na mídia utilizada sim! Nós usamos em nossas casas uma tecnologia desenvolvida no final dos anos 70 que registra o som em uma taxa de 16 bits/ 44.1 Khz, mais conhecido como CD, mesmo em DVD a taxa é de 16 bits/48 Khz, o pior de todos é o MP3 que durante o processo de compressão acaba com a dinâmica do som e elimina qualquer resto de harmônico que já se perde durante o processo de digitalização do sinal de áudio. Enquanto no estúdio usamos hoje (e já a um bom tempo) tecnologia de gravação que registra o som a 24 bits/ 196 khz durante a gravação e a mixagem. Mas quando chega na masterização, o áudio precisa ser convertido para 16 bits/ 44.1 Khz (formato do CD), e finalmente alguém compra o CD ou adquiri um ?genérico? e passa para seu MP3 player. O que chega ao seus ouvidos neste momento é um fragmento do som original.
    A pergunta que deve ser feita é, por que não temos esta qualidade de som em casa? Primeiro nossos aparelhos domésticos não são compatíveis, segundo uma melhor qualidade de som é proporcional ao espaço que ocuparia na mídia ou hardisc, ficaria inviável fazer download de músicas com a conexão que temos hoje e um CD normal teria só cinco faixas ou menos. Terceiro, com exceção dos audiófilos e profissionais do meio, o público em geral não distingue uma reprodução em MP3, CD, analógica, vinil, etc.. O que interessa pra eles é grave, agudo, volume e bom preço. As gravadoras atendem ao público com boa música e com música de gosto duvidoso, tudo isso com um orçamento de produção bem apertado para ambos, o que interessa é vender o produto final. A qualidade não faz aumentar as vendas e o público, leigo, não reclama. Continua tudo como está!
    A qualidade do som em casa só vai melhorar com o desenvolvimento de novas mídias, que sejam viáveis e baratas e que mantenham a qualidade do som do começo ao fim da cadeia.
    Até lá, a culpa é da mídia sim.

  12. Muito Bom o artigo professor!

    Mas só pra dar uma outra visão da mesma história, e muito longe de ficar defendendo tendências mercadológicas, existe também visão artística, além da cientifica, e as pessoas ouvem música pela sensação que ela causa, não pelo fato dela estar dentro das CNTP. Por exemplo isso já havia sido discutido em outras formas de arte como pintura, e os empiristas durante anos condenaram Van Gogh e os imprecionistas, em detrimento da visão da realidade de Da Vinci, Quem estava certo e quem estava errado? Não é a pergunta a se fazer, e sim qual a intenção do artista ao retratar o som ou uma imagem daquela forma? O senhor como médico também sabe das relativisações do ouvido humano, e das diferenças das perdas auditivas de um invíduo à outro, eu mesmo fiz uma audiometria pra poder calibrar o meu equipamento de forma mais linear possível, mas o meu equipamento só responde a mim e termos de linearidade auditiva, concordo com senhor em quase tudo do que disse, e vou além no que diz respeito de gravação e reprodução, as variáveis são tão grandes como sala, tanto a da gravação original como a da reprodução, que para fidelidade sonora deveriam ser as mesmas, e eu não vou nem entrar em equipamento, que senão meu texto que já está imenso viraria um livro.

    Valeu pela dica professor, e estou aberto à troca de informações sobre palestras cursos e afins, principalmente no que se refere a área científica das pesquisas de som e áudio.

  13. Muito legal ver um artigo sobre som aqui no webinsider. Sempre vejo o pessoal confuso com essas coisas e quem conhece um pouquinho a mais geralmente tem uma preguiça danada de explicar algumas coisas mais tecnicas, mas que são fundamentais, pros leigos. E aí é todo mundo sendo enganado o tempo todo comprando equipamento de som, tv, home theater etc…

  14. É, Raw Power do Iggy Pop não seria o mesmo se gravado em mil kpbs, ele é o que é por sua gravação em LP com som horrivelmente digitalizado para MP3.

    É tipo meu LP do LAMF (johnny thunders), seria uma droga se gravado hoje em dia a mol kbps.

    Apesar que ambos se aproveitam do stereo, pelo menos nas compilações que eu ouço.

    agora, falando serio, nada como um show, de qualquer banda, de qualquer album. é sempre f*da;.

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