Não faz muito tempo, uma renomada instituição de ensino brasileira lançou um concurso para responsabilidade social, no qual foram inscritos os mais diversos trabalhos. Ocorre que tal instituição desconhecia a diferença entre ?responsabilidade social? e ?assistencialismo?.
Compreende-se por um trabalho com responsabilidade social aquele que se presta a trazer benefícios à sociedade, sejam eles a curto ou longo prazo; mas, principalmente, que melhorem as condições de relacionamento das classes diversas, estimulem a cidadania, a igualdade e possibilitem ao seu público alvo a integração.
Projetos culturais, ou todo aquele que estimule a aquisição de conhecimento, o desenvolvimento de uma cultura própria ou mesmo o resgate da auto-estima do indivíduo, podem ser considerados de responsabilidade social.
Já o assistencialismo é uma posição imediatista diante de um problema. Entregue ao necessitado aquilo que ele precisa de pronto, sem se preocupar em ensiná-lo a conseguir futuramente o que pode vir a precisar. Aos famintos, entregue cestas básicas, aos doentes entregue remédios, aos desabrigados entregue um teto provisório, um albergue.
Responsabilidade social consiste em investir no aperfeiçoamento profissional de pessoas menos privilegiadas para que estas possam competir e conquistar seu lugar. Mas afinal, que tipo de preconceito leva as pessoas a negar o valor dos games como responsabilidade social?
Analisando historicamente, podemos compreender melhor o porquê de os games serem vistos de maneira tão pejorativa: desde a revolução industrial, jogos passaram a ser vistos como perda de tempo. Alguns teóricos mais radicais chegaram a afirmar que as crianças encontrariam suficiente diversão realizando suas tarefas (ou até mesmo trabalhos pesados destinados aos adultos) e que os jogos não proporcionavam nada de positivo para seu desenvolvimento, apenas ócio.
Sobrevivendo a este pensamento, temos o xadrez. Considerado no Brasil como um jogo da elite, o xadrez guarda o seu valor por ser visto como um exercício de lógica. Desta forma, compreendemos como ele não foi atingido pelo pensamento de que os jogos são fruto do ócio ? afinal, ele mostra sua pronta utilidade prática.
Retornando um pouco mais no tempo, percebemos que as mais diversas culturas dedicaram boa parte de seu tempo aos jogos e os consideraram elementos de grande valor. Excetuando o pensamento medieval que, provavelmente, poderia ser comparado a esse mesmo pensamento pós-Revolução Industrial, com o adicional de que os jogos, além de não servirem de nada, seriam prejudiciais inclusive à alma!
Vejamos, então, as civilizações que se dedicaram aos jogos e os tornaram uma expressão de sua cultura:
- os gregos com as Olimpíadas e tudo o que elas representaram e representam até hoje: do culto ao corpo perfeito à preocupação com uma mente e um corpo sãos;
- os jogos de roda e os ritos aborígines, que através do Ilinx fazem o corpo se desprender do espírito, transportando seus participantes para outras realidades;
- os jogos de carta e o tarot de Marsella, duas maneiras de se representar o jogo de azar através do Allea, um decidindo os ganhos ou as perdas monetárias de seu participante e outro guiando o rumo da vida daquele que procura uma direção.
Os exemplos poderiam continuar, mas basta por enquanto. Os jogos representaram e representam, ainda hoje, a cultura dos povos. E esta representação se dá de uma maneira pura, despreocupada, que nos garante maior veracidade do que fontes históricas que possam ter sofrido influências religiosas ou políticas.
Os jogos nasceram para, além de nos trazer alívio para a mente e o corpo, nos integrar ao nosso meio. Nos mostrar como fazer parte de algo maior. E isto, certamente, é demonstrar uma grande, senão a maior de todas, preocupação social.
Pois, sem a aceitação do indivíduo e depois do coletivo, nem sequer somos o que nos torna humanos: animais sociais, que dependem uns dos outros mutuamente seja tanto para crescer, desenvolver, quanto para conhecer os sentimentos mais límpidos e também os mais terríveis.
Atualmente, games constroem comunidades, vendem conceitos, transmitem valores. Talvez sejam as ferramentas mais poderosas de comunicação com os jovens de todas as classes. Afinal, se há algo que caracterize jovens de qualquer classe social é a necessidade que eles têm de se divertir, de serem aceitos num grupo e de se aceitarem – o que talvez seja o mais complexo.
Esta ferramenta, pode e deve ser utilizada com os melhores fins, sempre respeitando a diversão em primeiro lugar: é o que caracteriza um game propriamente dito. A falta de obrigação do jogar, a liberdade que há neste ato, o fato de encontrar algo no qual você realmente seja bom e se integre. É disso que o jogo trata.
Transformar um game em jogo educativo seria destituí-lo de sua função e torná-lo meramente um paliativo assistencialista.
Nós, assim como as instituições (principalmente as de comunicação), devemos tomar muito cuidado ao julgar um veículo pelo que ele aparenta ser. Se um jogo sem diversão não funciona, logo um jogo educativo chato jamais foi um jogo. Muitas vezes, basta criarmos o interesse, engatilharmos a vontade, a procura do aprendizado, o maior passo de todos estará dado e o que vier daí por diante será lucro. [Webinsider]
Julia Stateri
<strong>Julia Stateri</strong> (panaceadesign@gmail.com) é designer e artista gráfica, mestranda do Programa de Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Mackenzie de São Paulo. É colaboradora do <a href="http://www.gamecultura.com.br" rel="externo">Gamecultura</a>.
26 respostas
Eu queria uma informção onde tem este curso de web game?
Por favor manda onde tem que eu quero muito fazer,que eu estou tentando muito encontrar mas eu não estou achando.
Obrigado.
Fiquei um pouco confusa com essa observações:
Compreende-se por um trabalho com responsabilidade social aquele que se presta a trazer benefícios à sociedade
Enquanto,Já o assistencialismo é uma posição imediatista diante de um problema
Ao que me parece um completa o outro Acredito que na elaboração de um jogo existe a necessidade de fazer um análise semiótico , mas jogo tipo Second Life tem um objetivo mesmo de diversão e construção ,o que leva a possiblidade ,de exerce a criatividade no anbiente virtual.Utilizar as ferramentas necesse processo….blablbla.
Uma pessoa que não conseque visionar a possiblilidade de melhorias e associar a cultura é o mesmo de dizer que a literatura – ler se cultura – tem que ser rasteira superficial e sem proposito!
É o mesmo que dizer:- somos incapazes de criar algo criativo, inovador , divertido e com conteúdo ducativo e com responsabilidade social?
NÀO Acredito nessa premissia!
NÃO acredito que um protuto já cresça estério e incapaz de mostrar algo de significativo para o mundo! Mesmo que seja apenas aprender melhorar a cordenação motora ( o que é educativo funcional)
Não irei dar opinião sobre o trabalho da Julia acima, darei somente a minha opinião sobre jogos violentos e sua influencia no comportamento da criança.
No meu ponto de vista, é de nociso ao comportamento da criança/adolescente, o contato constante de jogos violentos, pois nesta idade é que acontecem as influencias.
A falta de limites pelos pais ou responsaveis acarreta serios problemas, além de comportamento agressivo, o social da criança fica fragilizado, pois não terá contato com outras crianças na maioria do tempo, ficando somente ele e a máquina, tornando uma criança sem laços sociais.
Para que as crianças não fiquem prejudicadas, o correto seria os pais colocar limites, não permitir jogos violentos e trabalhar com afinco do social deste jovem. Para que na adolescencia não tenham problemas da ordem de rebeldia e agressividade de seu filho.
Existem casos que a situação fica tão seria que os pais perdem o controle sobre seu filho, acarretando em desastre ou até mesmo em situações com quadro irreversível.
III SEMINARIO JOGOS ELETRONICOS, EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO
A realização do III Seminário Jogos eletrônicos, Educação e Comunicação – construindo novas trilhas dá continuidade e fortalece as discussões iniciadas em 2005 e que tiveram continuidade em 2006 na cidade de Salvador sediado pela Universidade do Estado da Bahia ? UNEB.
Nessa perspectiva e fortalecendo cada vez mais as ações da Rede Brasileira de Jogos e Educação, o Seminário Jogos eletrônicos, educação e comunicação – construindo novas trilhas, passará a ser itinerante.
Um ano em Salvador/BA e outro em João Pessoa/PB estreitando cada vez mais as relações e discussões que subsidiarão novas maneiras de se compreender os jogos eletrônicos e articulando diferentes pesquisadores de diversos estados e até do exterior de diversas áreas do saber que discutem aspectos relacionados a comunicação, arte, design, psicologia, educação, semiótica e desenvolvimento de games.
Organização:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA – UEPB
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA – PRPGP
COORDENAÇÃO INSTITUCIONAL DE PROJETOS ESPECIAIS – CIPE
PARCERIA:
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA ? UNEB
Na verdade, André, por mais que o Second Life pareça não ter objetivos o que leva o jogador a participar dele é a realização de um desejo. Assim funcionam os jogos de simulação. Você pode replicar da maneira mais fiel possível uma situação ou pode agir de uma maneira que jamais faria em sua vida real. O Second Life pode servir de facilitador de relacionamentos ou de válvula de escape. Talvez o próprio jogador não saiba porque busca este tipo de jogo, mas o objetivo está lá, embora não esteja claro.
O mesmo vale para o cooper. Sempre se começa por algum motivo: manter a saúde? Distrair-se da vida cotidiana estressante?
Enfim…os jogos são buscados por conta de nossa necessidade em conseguirmos prazer. Se jogos não fossem agradáveis não os jogariamos. E antes que alguém questione sobre o caso dos jogos de horror, eles fazem parte disso. Estão presentes como os filmes de horror, como a montanha russa. Algumas pessoas buscam esse gênero porque, de certo modo, elas gostam de tomar sustos. rs Tal qual os praticantes de esportes radicais (há quem diga que a adrenalina seja viciante).
Resumindo: por essa razão que digo, a grosso modo, que o objetivo dos jogos é a diversão. Existem diversos gêneros de jogos e diversas maneiras de se divertir. Não somos ingênuos a ponto de achar que o que é diversão para um o será para todos.
Mitani,
> Andre Furtado, existe algum esporte ou jogo sem objetivo?
Alguns exemplos por alto:
– Jogo: Second Life. Faça o que quiser, não se preocupe em atingir pontos, metas, conquistar achievements, etc. Você está livre de objetivos.
– Esporte: cooper. Não se obrigue a completar a corrida em um certo tempo pré-determinado. Tampouco completar um certo trecho. Corra, se der vontade, corra mais. Se der vontade, mais rápido. Ou mais devagar. Ou alterne a corrida com pequenas caminhadas. Deixe o prazer da corrida lhe levar (seja ela causada pela endorfina ou o vento no rosto). Você está livre de objetivos.
[]s
— AFurtado
Games educativos podem ser divertidos sim. As questões que devem ser colocadas são: O que queremos transmitir? Como transmitiremos?
Jogos podem funcionar melhor para treinar habilidades do que para transmitir informações de modo formal como na escola. É ai que surge outra pergunta: são os jogos que não podem ser educativos, ou as formas de ensinar de hoje em dia que não podem ser divertidas?
Para tornar um game educativo divertido precisamos avaliar qual o público que queremos atingir. Devemos medir bem quantas e quais habilidades e conhecimentos serão trabalhados para manter um bom nível de ação/diversão.
Nossos sistemas de ensino ainda não estão prontos para utilizar todo o potencial da informática e de outras tecnologias. Temos um longo caminho pela frente.
Bom…
Vi que muitas pessoas interpretaram do seu jeito e esqueceram o sentido da matéria.
Existe sim e muito o preconceito contra games de ação ou violência, mas o preconceito geralmente vem de pessoas que não jogam videogames, e quando jogam ficam horrorizadas. É como se uma senhora de idade assistisse um filme do John Woo e ficasse horrorizada com aquelas explosões e tiros.
Essas senhoras de 80 anos geralmente preferem ver um romance ou uma comédia light.
Com os games é a mesma história.
Desde que o mundo é mundo todos os jogos e esportes se resume em 2 palavras: Desafio e competição (tanto fisco quanto mental).
Nos esportes sempre existe um perdedor, já nos esportes radicais o principal fator é o desafio.
Agora me respondam, como um game educativo pode ter competição e desafio?
Um exemplo legal que foi citado foi o MMO, ou o Massive Multiplayer Online, onde se tem um estímulo coletivo, trabalho em grupo, desde que haja desafio, competição, diversão e claro OBJETIVO, do contrário, que sentido seria jogar um game sem objetivo?
Andre Furtado, existe algum esporte ou jogo sem objetivo?
Manuel Bertelli, diversão é mesmo relativo? Então por que a indústria de games/filmes de ação movimentam bilhões?
Me parece que a diversão é apenas relativa para a exceção.
Acredito que só do fato de um game estimular reflexos, raciocínio e a superação de limites, ja o torna um game educativo. Mas isso é uma opinião pessoal, ou relativa, como dizem.
Li o texto e achei bastante interessante a contextualização que a Julia faz da presença dos jogos nas diferentes sociedades. Outro aspecto importante do artigo é a discussão sobre as práticas assistencialistas e as que implicam em responsabilidade social.
Compreendo e compartilho do que Julia diz no que se refere aos jogos educativos. Acredito que pensar em desenvolvimento de jogos com essa ênfase é engessar os conteúdos, empobrecer a mídia e tornar uma interação rica e prazerosa em algo enfadonho e desestimulante.
Penso que nós educadores devemos atentar para o que Johnson coloca, isto é, estar atentos para aprendizagem colateral que emerge na interação com os games e não buscar desenvolver conteúdos específicos dentro do ambiente do jogo.
Tal postura não desqualifica a presença dos jogos eletrônicos nos cenários pedagógicos, mas implica em nós educadores construirmos diferentes significados pedagógicos ou não para esta mídia nos aproximando dos sujeitos que vivem imersos nesse âmbito semiótico.
Assim, penso que o artigo de Julia nos instigar a pensar os jogos sob diferentes perspectivas sem descaracterizar o aspecto lúdico e prazeroso que mobiliza os gamers.
Então, penso que temos que atentar para o que nos diz a Julia ?Muitas vezes, basta criarmos o interesse, engatilharmos a vontade, a procura do aprendizado, o maior passo de todos estará dado e o que vier daí por diante será lucro?.
Quando jogava Counter Strike e disputava pequenos torneios, percebi que tática, disciplina, interação, cooperação e até mesmo saber improvisar nos momentos de pressão, vale mais do que simplesmente ter habilidade e confiar na sorte.
Aprendi também que atrair o inimigo para um terreno ou campo onde vc tem vantagem é melhor do que meter a cara, e isso pode ser interpretado e utilizado em divérsos casos na sua vida, não só em combates reais ou virtuais.
mas é claro que se vc mantiver sua mente fechada, poderá jogar qualquer jogo o quanto quizer que nunca irá aprender nada.
PS: de fato, a chamada do artigo está muito confusa, um grande vai-e-vem!
Mas games não podem realmente se transformar em instrumentos educativos.
Jogo não é jogo sem um objetivo.
Poucas vezes discordei com tanta convicção de alguma coisa.
Sugiro um maior inteiramento na área antes de rotular negativamente jogos educativos com tanta veemência ou aplicar defnições nesse domínio.
[]s
— AFurtado
Algumas considerações sobre o artigo de:
Julia Stateri
Polêmica: preconceito contra jogos é inaceitável, pois eles exercem um papel fundamental no desenvolvimento dos jovens e na integração social. Mas games não podem realmente se transformar em instrumentos educativos.
Compartilho do ponto de vista de Julia. Acredito que foi o título e a frase Mas games não podem realmente se transformar em instrumentos educativos, que levaram a diversas interpretações.
Um texto interessante que apresenta a forma como os jogos foram vistos ao longo da história em diferentes sociedades.
Com a evolução da tecnologia os games tornaram-se uma realidade na vida de todos nós mesmo que os mais céticos não queiram ver e acreditar eles vieram para ficar e estão ocupando um espaço cada vez maior no cotidiano de todos mas principalmente na vida dos jovens que Feixa denomina de Geração @.
Nessa perspectiva os games considerados educativos perdem o interesse perante toda a dinamicidade, interatividade, criatividade, enfim que os games comerciais permitem e que se constituem em um contexto cultural curricular juvenil.
Ignorar essas evidências não é a melhor forma de encarar a realidade. Acredito que devemos ficar atentos enquanto educadores e educadoras para as afirmações de Steven Johnson no livro que denominou de: TUDO O QUE É MAU FAZ BEM. De acordo com o autor até aqueles games que são considerados por alguns ramos da sociedade prejudiciais até esses contribuem com algo positivo para os jovens jogadores.
Reconhecer o potencial desses elementos tecnológicos para o processo de ensinar e aprender é viver um mundo contemporâneo com suas mudanças, aceitando mudar para colaborar com a educação das novas gerações.
Não entendi as verdadeiras intenções desse artigo.
Quando ela afirma:
Transformar um game em jogo educativo seria destituí-lo de sua função e torná-lo meramente um paliativo assistencialista. fiquei pensando sobre os fundamentos dessa afirmação. Entendi que ela afirma que quem não aprende é preguiçoso. Quem conhece um pouco da realidade da educação, sabe que faltam elementos atrativos e desafiadores na maioria das salas de aula do mundo inteiro. Assim, um jogo que diverte e ao mesmo tempo oferece a possibilidade ao aluno de aprender algo chato ou difícil para ele, deveria ser considerado uma ótima possibilidade. O jogo educativo muitas vezes não funciona quando programadores e designers resolvem ganhar um dinheirinho criando software que ensina do jeito que eles aprenderam. Para fazer um jogo educativo divertido e eficaz é preciso comer muito feijão.
Mitani: Pergunte pra essas pessoas se elas gostariam de ver um filme de ação, morte, explosão, ou um filme educativo no estilo tv cultura?
Eu adoro TV Cultura, adoro Film&Arts, Eurochannel e vou a espetáculos de dança, teatro e exposições. E adoro filme de suspense, de terror, mas detesto filmes fracos, tipo Velozes e Furiosos e series como Lost e 24hs. Pra mim, não tem nada de divertido.
Do mesmo jeito que o Fred não curte The Sims, tem gente que gosta. Não quer dizer que é chato.
Divertido é relativo. Tem gente que se diverte depredando coisas, tem gente que se diverte fazendo mal pros outros, tem gente que se diverte fazendo nada, tem gente que se diverte rodeado de amigos.
Isso não justifica um jogo educativo ser ruim. Diversão é relativo.
Quanto ao comentário do Paulo:
Os jogos comerciais podem e devem ser usados no contexto educacional. O único problema é que algumas vezes faltam educadores com o preparo necessário para trabalhar com os jogos como uma ferramenta de aprendizado.
Existem excelentes exemplos de trabalhos feitos com o RPG na sala de aula. O RPG foi criado com o intúito de divertir em primeiro lugar, mas suas aplicações educacionais são muitíssimas e, nas mãos certas, podem gerar grandes resultados: ensino de história, conscientização e socialização, desenvolvimento da criatividade, etc.
Infelizmente na realidade atual quando falamos de jogos educativos parece que obrigatóriamente temos de nos associar aos jogos chamados de placebo que são os que estou me referindo como chatos.
caras, a boa Tudo isso pode ser tema de jogo, mas qual seria escolhido por uma produtora? me fez dar uma pequena dica (ou sugestão) de fazer jogos que valem a pena serem jogados: RPG de mesa.
além de ter livre interpreção e criação do enredo, tudo pode ser facilmente moldado.
além disso, existem ferramentas bacanas que nos permitem criar jogos interessantes.
então, enquanto grandes produtoras não acordam apra este tema, caras como nós vão usando outros jeitos para educar e concientizar algumas pessoas por ae.
depois é só viralizar um pouco, rs..
Julia, ótimo texto, parabéns.
Concordo em todos os aspectos com você.
um jogo só é jogo se houver objetivo, estimulo e o mais importante, diversão.
Algumas pessoas julgam os jogos de tiro e defendem os jogos educativos, mas isso é só hipocrisia e moralismo barato. Pergunte pra essas pessoas se elas gostariam de ver um filme de ação, morte, explosão, ou um filme educativo no estilo tv cultura…
Entendi que a autora está analisando o carater educativo de jogos comerciais, cujo maior interesse é gerar lucro, e não educar. Concordo com o Manuel Bertelli.
Transformar um game em jogo educativo seria destituí-lo de sua função e torná-lo meramente um paliativo assistencialista.
Com alguma criatividade, mesmo jogos desse tipo podem ser usados num contexto educativo, mostrando através dele, por exemplo, lugares do mundo, ou simulando situações. Imagine a curiosidade que os alunos terão ao ver que seu professor irá substituir o giz e o quadro negro por um jogo para falar sobre a segunda guerra; ou usar um simulador de corrida para falar sobre física (força cinética). As possibilidades são muitas.
Além disso, existem os jogos educacionais (falo jogos, e não questionários animados), alguns gratuitos. A maioria estão em inglês, assim como o counter-strike que a garotada domina e não se queixa. A tradução do soft também pode tornar-se tema de pesquisa.
Cabe à instituição e ao educador buscarem a melhor opção, sempre visando facilitar o aprendizado, já que a maioria das escolas insiste em fechar-se um mundo arcaico à parte que raras vezes se integra ao dia-a-dia repleto de tecnologia dos alunos.
O Manuel levantou alguns questionamentos interessantes. Segue abaixo a resposta que foi enviada préviamente por e-mail a ele:
Esse título Games educativos não têm responsabilidade social, assim como a chamada, não foram escritos por mim e acho que eles não condizem com o conteúdo do artigo própriamente dito por serem um tanto enfáticos demais. O que eu escrevo seria mais um questionamento, uma preocupação que os estudiosos de jogos deveriam ter, assim como os educadores que pretendem trabalhar com jogos. O título original era Mas afinal, o Jogo tem Responsabilidade Social?
Quanto à diversão ela varia em função do gosto de quem joga, ou não existiriam tantos gêneros de jogos diferentes no mercado. Claro que, assim como a música e qualquer outra mídia que envolva dinheiro e investimento de mercado, os jogos estão sujeitos a ser modificados em função da venda, do que é mais polêmico e chame mais a atenção. Assim é com os filmes também, mas quando um filme trata da miséria humana ele se torna uma forma de protesto, de documentação do que ocorre, de retratação da realidade. Já os jogos são vistos como sensacionalistas sendo que ambos são mídias híbridas. A diferença é que o cinema possui mais tempo de estrada e mais respeito, embora ainda existam péssimos filmes no mercado.
Um jogo violento pode ser tratado de maneira educativa também. Se um jovem se dedica exclusivamente a esse gênero cabe a sua família e aos educadores, que estão envolvidos no seu processo de aprendizagem, descobrirem uma maneira de se comunicar com ele e talvez até mesmo identificar seus dilemas para que se possa abrir com ele um canal de discussão.
Creio que alguns educadores temam os jogos por achar que serão substitituídos por eles, assim como algumas famílias temem perder espaço para a televisão. Sabemos, entretanto, que os jogos não substituem as pessoas, a experiência social, a família e tampouco os educadores. Os jogos e filmes são mídias, meios de se comunicar algo, o ser humano é e sempre será o elemento transformador.
Atenciosamente,
Julia
Fiquei um pouco confusa com seu texto, especialmente por essas frases:
Transformar um game em jogo educativo seria destituí-lo de sua função e torná-lo meramente um paliativo assistencialista. (…) Se um jogo sem diversão não funciona, logo um jogo educativo chato jamais foi um jogo.
Entendo o seu ponto sobre os games terem valor cultural, mesmo quando são apenas ferramenta de entretenimento, e concordo totalmente.
Mas por que você acha que todo jogo educativo é necessariamente chato? Logo no começo você fala sobre o preconceito ser inaceitável, mas será que essa linha pensamento não é uma forma de preconceito? Acredito que todo pesquisador e desenvolvedor de jogos educativos concordam com você sobre ?sempre respeitar a diversão em primeiro lugar?. Tive experiência em um projeto de iniciação científica na área e esse era o principal objetivo do projeto: criar um jogo tão divertido quanto educativo.
Acho que o papel do jogo educativo é levar para o aprendizado as características lúdicas dos jogos, e não levar para os jogos a ?chatice?* do aprendizado. E, pessoalmente, acredito que qualquer ferramenta que contribua para a melhora na educação só ira trazer benefícios à sociedade, e, como você colocou, será uma ferramenta de responsabilidade social.
*Particularmente, não acho chato aprender 😛
(Para Fred Banionis: Você pode achar o jogo Sim City chato, também não é meu tipo de jogo, mas conheço algumas pessoas que não só gostam, mas acham ele extremamente divertido. :))
Manoel, ainda concordo com a Júlia no fato de que, o objetivo em um jogo de tiro ou velocidade por exemplo, trata-se de aliviar o estresse, sem esquecer também de que esses jogos vem com faixas etárias definidas, e muitos deles, como já vi na série Need for Speed, por exemplo, tem na abertura do jogo um video do tipo Não façam isso em casa explicando os perigos de imitar o jogo na vida real. A idéia é justamente não tornar esses jogos um mal exemplo, e deixar que as pessoas se divirtam com eles.
Quanto ao seu exemplo no estilo The Sims Favela, podemos usar algo mais próximo do já existente: Sim City. Na minha opinião, um jogo chato. No fim das contas, não sei se esse tipo de jogos realmente funcionaria.
Apenas para constar, tenho 24 anos, trabalho com informática, gosto de jogos eletrônicos e estudo PNL por hobby.
Esta ferramenta, pode e deve ser utilizada com os melhores fins, sempre respeitando a diversão em primeiro lugar: é o que caracteriza um game propriamente dito. A falta de obrigação do jogar, a liberdade que há neste ato, o fato de encontrar algo no qual você realmente seja bom e se integre. É disso que o jogo trata.
Transformar um game em jogo educativo seria destituí-lo de sua função e torná-lo meramente um paliativo assistencialista.
O que vc acha mais divertido? Construir impérios, escolher armas, conquistar terrenos, guerrear e destruir? Ou construir uma favela, selecionar qual sistema educacional usar, escolher ferramentas de melhoria de renda e como objetivo do jogo aumentar o padrão de vida das pessoas? Tudo isso pode ser tema de jogo, mas qual seria escolhido por uma produtora?
Então, não é respeitar a diversão que está em jogo e sim a mentalidade dos jovens de acharem careta ações boas e construtivas. O que é um jogo divertido? O que todos jogam ou o que te dá prazer jogando?
Entendi o ponto de vista, mas não concordo com algumas coisas:
1) Games educativos não têm responsabilidade social
– isso é generalizar. Não dá pra colocar tudo num saco e rotular. Se games educativos não tem, os de outros gêneros tem menos ainda.
2) Transformar um game em jogo educativo seria destituí-lo de sua função e torná-lo meramente um paliativo assistencialista.
– A grande sacada com jogos educativos é ter um ponto de equilibrio com a avassaladora maioria de jogos violentos. Qual jogo atual estimula, por mais toscamente que seja, ações boas ao invés de destrutivas?
Não dá pra comparar jogos que estimulam o raciocínio abstrato e a lógica com jogos populares de tiro, crime e velocidade, usando como argumento que os jogos educativos destituem-se de sua função (diversão), e por isso não atingem benefício social. Jogo educativo não precisa ser chato. The Sims não é chato e emula relações sociais. Cadê o The Sims Favela ou o The Sims ONG??
Não dá pra comparar xadrez com Counter Strike.