Whisky ou água de coco pra mim tanto faz
Eu já tô cheio de tesão
E cada vez eu quero mais
Cada vez eu quero mais
Naldo
Este primor, não tanto musical quanto radiográfico do status quo cultural de uma sociedade hiperexcitada, é o retrato fiel do último homem nietzschiano: aquele que não vê valor, não tem valor e não propõe valor, sendo, portanto, paisagem indefinida, marionete dos sentidos e intenções alheios, tais como viciados.
Não há aqui a intenção de uma moral no sentido mais tradicional de seu entendimento, mas uma moral relativa ao poder constituído através da potencialização do instante. Me explico: tanto whisky quanto água de coco tem seu valor referente à maior adequação, principalmente ao momento – na praia, pós-esporte, o valor da água de coco é inegável, enquanto em um happy hour o whisky cumpre seu papel com louvor.
Mas então, qual o ponto aqui?
Exatamente o da interrogação, da busca, do questionamento, da escolha. Contudo, como escolher em meio a hiperexcitação, onde, desgastados pelo prazer, já não mais o sentimos, somos antes por ele consumidos? Se não há abertura para as nuances e diferenças que enriquecem a experiência e nos conduzem a uma elevação do ânimo através do jogo interno de nossas faculdades, se tudo deve ser entretenimento, espetáculo, diversão, dinheiro e gozo, essa constância vicia e debilita o aprimoramento do gosto e, consequentemente, do refinamento da escolha.
Se passamos a conhecer apenas “Alto, em cima! Alto, em cima! Alto, em cima! Em cima! Em cima! Em cima! Em cima!”, como Naldo ‘denuncia’ com propriedade no intuito de “jogar o clima lá no alto”, como poderemos almejar superação ou qualificação de algo, se por falta de contraste e reflexão geramos uma zona de conforto que nos prende a nós mesmos sequestrando a vontade para voos mais altos e acomodando-nos com o que há de mais rasteiro dentro do espectro humano – a animalidade corpórea cuja reprodutibilidade se prolifera aos montes nas academias, farmácias e clínicas cirúrgicas Brasil e mundo afora.
A beleza da sensualidade, próprio da unicidade da alma em sua materialização corpórea, hábitos, gestos e jeito, tudo isto se alisa como chapinha para homogeneizar aquilo que nos distingue e no máximo se infla como bíceps para alentar a todos da perda de si mesmos para um sistema que é opressor na justa medida de nosso comodismo – é cômodo ser menor, como diria Kant em seu artigo “O que é esclarecimento”, desnudando no crepúsculo do século XVIII a verdade oculta na aurora deste novo milênio que se inicia.
A sadia alternância entre opostos complementares é salutar à educação estética do homem à sua interdependência, alimentando seu ânimo a ter coragem de comprovar seus valores de forma independente, na consciência de sua ação dependente, respeitosa quanto aos valores alheios, zeloso quanto ao valor do Todo.
E é este processo de escolha que precisa ser resguardado, incentivado e incrementado na rede: ao optar por ler ou não algo inicia-se também o processo de escolha da fonte; devemos nos estimular à conveniência do confrontamento entre versões para criar nossas próprias verdades, quebrando assim o paradigma tradicional de ter alguém responsável por nossa segurança e opinião (liberdade).
Quem seguimos, deixamos de seguir, bloqueamos, indicamos; o que criamos, consumimos e compartilhamos, tudo isto é de inteira e exclusiva responsabilidade nossa – e faz diferença sim o tempo que empenhamos em cada interação, sendo o valor determinado pela natureza e intenção da interação, bem como com seu fim, propósito; vale o questionamento constante: afinal, qual minha meta e como ela se manifesta nesta minha ação, que é livre e oriunda de minha escolha?
E não adianta esconder-se por trás do comodismo tecnológico que nos seduz oferecendo mais do mesmo.
Uma revolução está em curso – a revolução do comportamento: a revelação da excelência interior que molda seu mundo a sua imagem e semelhança.
No entanto, ainda somos reféns de nossa própria mediocridade. Subutilizamos o poder da rede; não por muito tempo. Afinal, a “lei” do “mercado” é implacável: quando alguém descobrir que a rede converge potências ao poder, todos seguirão esta “nova onda”.
Responsabilize-se por sua realidade a cada escolha – Altiora Semper Petens (latim: buscando sempre o mais elevado) – ou, como diria o Naldo, “Em cima! Em cima! Em cima!”; só que não: é pra cima! pra cima! pra cima!, porquanto não podemos nos acomodar no topo – até por ser algo ilusório e arbitário, sempre em constante expansão, e enquanto zona de conforto representar o princípio do fim, pois após o topo, vem a queda.
Espero que você pense sobre o acima comentado, assine embaixo e reflita que tens total liberdade de dar às coisas ao seu redor o valor que sua atenção, recurso finito compreendido entre seu nascimento e sua morte, merece. Vivemos a realidade com a qual nos conectamos e que compartilhamos. E, se tempo é dinheiro, em que andas investindo?
Escolhe, pois, a vida – sempre em frente, um passo a cada escolha. [Webinsider]
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Klaus Denecke-Rabello
Klaus Denecke-Rabello (twitter.com/klaus2tag ) é consultor da 2tag.net, diretor de comunicação da AMIpanema, professor de comunicação digital da ESPM-Rio e consultor da campanha nacional de acessibilidade. Escreve blogs sobre desenvolvimento sustentável e filosofia e acredita no papel transformador das marcas.