Com Luciene Santos
O tabuleiro já está quase pronto e só falta o mais importante: a adesão participativa dos chamados jogadores sociais em ações governamentais. São Paulo sai na frente ao disponibilizar um mapa interativo que permite às pessoas opinarem sobre a qualidade do serviço de limpeza pública nas cidades da região metropolitana. Usando tecnologia de realidade aumentada, o sistema convida a população para participar de um grande infográfico colaborativo de forma transparente e democrática.
Para colaborar, cada usuário deve adicionar um novo ponto, indicando o local onde mora no espaço de busca do mapa. Ao clicar na seta verde que aparece na tela surge um formulário, no qual o contribuinte preenche o seu nome e comenta sobre a qualidade do serviço na sua região. O sistema oferece três possibilidades de classificação da quantidade de lixo encontrado pelas ruas da vizinhança: pouco (ponto azul), médio (ponto amarelo) e muito (ponto vermelho).
Jogabilidade dos games
Embora siga a mesma dinâmica dos visualizadores de dados, o mapa interativo não oferece ainda uma jogabilidade encontrada em jogos profissionais. Contudo, a ideia de convidar a população para participar de ações governamentais abre uma excelente perspectiva para o futuro dos games como informação e notícia. Afinal, o sistema cria uma parceria entre os cidadãos e a cidade onde moram, ao permitir que postem comentários sobre a qualidade de um serviço oferecido pelo poder público.
Para atrair um número maior de pessoas, o mapa deveria ter aquilo que só os jogos ainda conseguem oferecer: entreter e informar ao mesmo tempo através de multinarrativas. Do ponto de vista cognitivo, os games não podem ser alcançados por nenhum outro formato de mídia. Então, inserir uma jogabilidade social e amigável facilitaria ainda mais a relação entre a população e os gestores das cidades. Não se trata de tornar algo sério em um mero passatempo. Afinal, os jogos são os melhores agentes cognitivos que já alimentaram o nosso cérebro até hoje.
Newsgamificando ações e serviços sociais
Além de uma jogabilidade amigável, jogos criados como adesão social devem oferecer uma contrapartida social e econômica às pessoas que participam ativamente de ações governamentais. Não se trata de um novo balcão de negócios com ares do velho assistencialismo piegas. Nada disso! Mas nos parece justo empresas privadas e poder público atuarem juntos em ações sociais que premiem o cidadão comum por sua iniciativa em prol da cidade onde mora.
Mas como colocar isso em prática sem parecer assistencialismo barato? Em primeiro lugar, o processo de newsgamificação não deve envolver dinheiro em espécie, mas formas diferentes de premiar as pessoas por participarem de forma pacífica das transformações das cidades em que vivem. A premiação pode ser uma redução gradativa das alíquotas do IPTU, uma bolsa de estudo em uma escola privada, ou mesmo descontos em produtos das empresas participantes da iniciativa.
Começando pela coleta seletiva de lixo
Embora a coleta seletiva de lixo no Rio de Janeiro ainda esteja longe da realidade de quase todos os moradores, cerca de 40 bairros da cidade são atendidos parcialmente pelo serviço. De todo material que pode ser reciclado, apenas 1,4% é recolhido. E só 70% disso é realmente reciclado. A meta é aumentar a reciclagem para 5% até o fim de 2013, e para 25% até 2016. Na Europa, a coleta seletiva já é uma realidade há décadas, mas existem lacunas no sistema. Na Itália, o lixo é separado em cinco categorias, sendo a sexta destinada à doação de vestuário (roupas e sapatos).
- Alimento.
- Papel.
- Vidro, metal e plástico.
- Vegetal.
- Seco.
- Vestuário.
Mas como fazer isso no Brasil sem uma participação ativa da população? Como criar estratégias para gerar uma maior adesão, principalmente nas áreas mais pobres? Que tal newsgamificar a coleta seletiva de lixo a partir da criação de um newsgame para gerar maior engajamento social dos moradores ao projeto? Não basta apenas a prefeitura disponibilizar locais e horários da coleta seletiva de lixo na cidade. O poder público deve criar ações lúdicas de adesão da população, porém sem cair na tentação de querer adotar métodos com tons de infantilização.
Sistema de adesão da população
O sistema de adesão deve conter três componentes básicos lúdicos: jogabilidade dos games, tecnologia de realidade aumentada e um bom sistema de gamificação. Tal iniciativa atende a quaisquer ações governamentais. No caso da coleta seletiva de lixo, uma boa estratégia seria criar uma espécie de newgame-gincana disputado entre bairros com a participação proativa de associações de moradores. Desta forma cria-se o engajamento desejado dentro de um clima de rivalidade saudável entre as regiões mais e menos participativas no projeto.
Muito distante dos confrontos verificados nos recentes protestos pelo Brasil, newsgamificar ações governamentais não elimina o caráter político de qualquer projeto social, mas cria um ambiente mais lúdico a fim de tentar ‘pacificar’ a relação muitas vezes pouco amistosa entre cidadãos e poder público. Além do mais, este tipo de iniciativa possibilita uma maior transparência das ações governamentais, ao recolocar o cidadão no centro das discussões sociais, deixando para trás o uso de antigos métodos de controle e submissão, dos quais Zygmunt Bauman nos apresenta em ‘Vigiar e Punir’.
Reciclagem
Pontos de coleta de lixo eletrônico em são Paulo – http://g1.globo.com/sao-paulo/sao-paulo-mais-limpa/noticia/2012/04/saiba-onde-descartar-lixo-eletronico-na-grande-sao-paulo.html
Pontos de aquisição de contêineres de lixo no Rio de Janeiro – http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/1017211/DLFE-230231.pdf/Listasdelocaisondepodemseradquiridosconteinerespadrao.pdf [Webinsider]
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Geraldo Seabra
Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.