Com Carlos Augusto Hentges*
Aumento de público. Aumento de velocidade de conexão. Aumento de demanda. Os três fatores ? unidos não necessariamente nessa ordem ? são os principais impulsionadores do que se convencionou chamar de revolução dos vídeos online. Nesse contexto, o papel da publicidade é descobrir como entregar mensagens que sejam recebidas por um público altamente resistente ao conteúdo não solicitado.
Maior portal de vídeos da internet, o YouTube fez em agosto de 2007 a primeira investida para que os mais de 100 mil vídeos assistidos diariamente possam embarcar publicidade. Ao invés de acrescentar um comercial no começo de cada clipe, o YouTube usou uma animação sobreposta na parte inferior da tela. Caso o usuário não clique sobre o anúncio, ele desaparece em 10 segundos.
Até o momento, não foram divulgados números que permitam uma análise da efetividade dessa proposta. Entretanto, pesquisas realizadas com usuários da internet visando compreender a dinâmica de uso dos vídeos on-line apontam para uma certeza: a tarefa dos publicitários não é nada fácil.
Os números
Estudo conduzido pela IBM concluiu que 40% dos entrevistados não gostam de assistir publicidade muito longa em vídeo online. E a consideram mais irritante do que em qualquer outro formato, inclusive nos cinemas. Batizada de ?The End of Advertising as We Know It?, a pesquisa ouviu 80 executivos de propaganda e 2.400 consumidores. O máximo que o usuário da internet suportaria são mensagens comerciais de 10 segundos.
Levantamento produzido em novembro de 2006 pela Piper Jaffray afirma que apenas 7% dos pesquisados paga pelo conteúdo em vídeo que consome na internet. Entre os adultos dos EUA, apenas 2% afirmam que pagariam por vídeos online (programas de TV e filmes) e 79% dizem que jamais investiriam no serviço.
O relatório ?Online Video Advertising?, da Burst Media, aponta que 77,5% consideram anúncios em vídeo invasivos, enquanto 66,2% revelam que as propagandas interrompem sua experiência online.
Apesar dessa resistência, o público cativo dos vídeos online vem aumentando rapidamente. Resultado de um estudo levado a cabo pela Magid Media Futures nos Estados Unidos mostra que, em 2006, 9% dos norte-americanos entre os 12 e os 64 anos que afirmavam recorrer diariamente aos vídeos online. Esse número subiu para perto de 15% em 2007. Atualmente, a maioria dos americanos entre os 12 e 64 anos (52%) afirma recorrer ao vídeo online pelo menos uma vez por semana, enquanto que em 2006 a percentagem era de 44%, conforme matéria da revista eletrônica Meios e Publicidade.
Outros dados interessantes apontados no texto:
- Dois terços do conteúdo consumido é noticioso ou jornalístico. Em segundo lugar estão os vídeos de humor e previews de filmes. Clipes de músicas e vídeos amadores aparecem apenas em terceiro lugar.
- Quase dois terços dos usuários da internet já assistiram vídeos publicitários online. 46% dizem preferir anúncios de até 10 segundos. 26% prefere anúncios de até 15 segundos.
- 17% preferem assistir aos vídeos publicitários antes do conteúdo solicitado. A resposta ?entre vídeos, se vou ver mais do que um? obteve 9% das preferências. Apenas 8% dizem gostar de ver os anúncios depois do vídeo que querem ver, enquanto que ?durante o vídeo que quero ver? alcançou 7%.
- 21% dos consumidores afirmaram ir ao respectivo site após assistir a um anúncio em vídeo ou em banner. Entre 8 e 9% pediram mais informação sobre o produto ou serviço. Apenas 5 e 6% foram a uma loja para conhecer melhor o produto e somente 4% realizaram efetivamente a compra. A grande maioria (69%) nunca deu qualquer resposta a um anúncio online.
O papel da tecnologia no acesso aos vídeos online é essencial. Segundo relatório da Pew Internet & American Life Project, o consumo de vídeo entre quem possui conexão discada é de 39%, enquanto a audiência de quem possui banda larga é de 66%. Os usuários que possuem conexão de banda larga tanto no trabalho quanto em casa são o maior público de vídeos online: 74%, ou três em cada quatro adultos dos Estados Unidos. Do contingente pesquisado, 62% prefere assistir vídeos profissionais a produções amadoras.
No Brasil
A realidade do Brasil não torna possível a comparação direta com os números dos Estados Unidos. Apesar disso, os dados apontam uma curva ascendente no que diz respeito à quantidade e qualidade do acesso à internet.
O país é o sexto do mundo em acesso à internet em termos do total de população que conecta a rede. São 39 milhões de usuários em todo o Brasil (210 milhões nos Estados Unidos). Em pesquisa realizada em setembro de 2007, o Ibope apontou que 20,1 milhões de brasileiros têm acesso em casa ? número 47% superior ao mesmo mês de 2006. Levantamento da empresa de pesquisa IDC apontou o crescimento de 36% nas conexões de banda larga no país no terceiro trimestre de 2007 em relação ao mesmo período de 2006, para 7,1 milhões de acessos.
Os motivos da expansão seriam dois: a queda do preço das conexões e o aumento das vendas de computadores. Ainda que venha trabalhando para tornar o hardware mais acessível à população de baixa renda, o governo federal pouco tem conseguido realizar no que diz respeito ao acesso de alta velocidade.
Segundo Carlos Seabra, diretor de tecnologia e projetos do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos (Ipso), paga-se 1.300% mais caro por uma conexão de mesma velocidade no Brasil em relação ao preço praticado na Europa. Isso aconteceria porque as empresas que fornecem o serviço cobram da população todo o investimento feito para o desenvolvimento do setor.
A publicidade e o vídeo online, afinal
Em um cenário de expansão do uso da internet e de ampliação de possibilidades graças ao advento da tecnologia de TV digital e da recepção móvel, torna-se uma tarefa elementar projetar alguns usos possíveis do vídeo online como ferramenta publicitária.
Uma das possibilidades é a criação de alternativas diante do enfraquecimento das mídias de massa. Declaração de Ricardo Monteiro, presidente do Comitê de Gestão de Negócios de Mídia da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) à Folha de São Paulo, publicada em 6 de janeiro, aponta esse cenário. Segundo ele, em 1999 a marca era lembrada por 65% das pessoas que viam um comercial na televisão. Em 2006 o número caiu para 19%.
Fruto da generalização de conteúdo própria da TV, essa pouca penetração da mensagem publicitária pode ser contornada por uma das características marcantes da mídia online: a segmentação. Em outras palavras, o anunciante deve procurar seu público nos locais que ele freqüenta, consome e publica conteúdo de seu interesse. Blogs, portais de informação e sites de relacionamento são alguns desses locais.
O vídeo online produzido para esse tipo de ambiente, e visando um público específico, leva uma série de informações cuja oferta nas mídias tradicionais é impossível. Ele pode remeter a um site, indicar uma empresa, ter dados adicionais, permitir o teste online do produto etc. A mensagem se torna mais persuasiva porque mais completa e dirigida. Sabendo com quem o vídeo deve falar, e como deve falar, é mais provável que o público considere a mensagem como conteúdo de interesse, e não simplesmente publicidade invasiva.
Com o intervalo de tempo entre o desejo e sua realização anulados pela possibilidade de compra imediata no ambiente online, o vídeo se transforma na forma mais sedutora de conquista de novos clientes. [Webinsider]
* Carlos Hentges é redator web da e21 Digital, jornalista e publicitário.
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Uma resposta
Gosto muito da forma com que vocês analisam cada segmento publicitário. Infelizmente, ainda não vi nada a respeito da publicidade no interior de elevadores. Acho esse tipo de mídia expetacular. Literalmente, todos os ocupantes(inclusive eu), sempre que entramos dentro de um elevador, sempre prestamos atenção no que rola no monitor. Ainda por cima, sempre no roda pé, vem as notícias de última hora, o que nos prende ainda mais a atenção. O que você teria para falar sobre este meio novo de fazer publicidade? Aguardo