Como o digital pode reduzir a pirataria

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Quanto mais se puder digitalizar conteúdos, alguns bens – antes ‘produtos’ – passam a ser vistos como serviços sob demanda. Músicas, filmes, jogos eletrônicos, o mercado de entretenimento como um todo foi um dos mais impactados por esta nova ordem digital.

Da mesma maneira, por mais que se tente coibir o compartilhamento de conteúdos digitais, sempre haverá contornos tecnológicos ou sociais que impedirão o total controle sobre a distribuição destes conteúdos. Com isto, no futuro, o direito autoral em sua essência, antiga fonte direta de renda será, em pouco tempo, não o principal gerador de receita, mas complementar, onde a distribuição de conteúdo será utilizada para angariar consumidores de outros produtos e serviços que não possam ser facilmente compartilhados, de forma gratuita, em redes digitais.

Aliado a esta questão, ainda sob a ótica legal, está o fato de que não há a percepção, por parte das pessoas que compartilham bens digitais, da irregularidade do ato, ou melhor, ainda que cientes da contravenção, há um consenso de que tal atitude é justificada por questões sociais – como o alto preço destes bens, quando adquiridos legalmente, em muito ligados aos altos impostos incidentes sobre o preço final dos produtos – e a falta de ciência de quem seria prejudicado com isso.

Concomitantemente, a magistratura brasileira ainda não consegue enxergar e entender certas peculiaridades do meio digital, sobretudo da Internet, e tende a julgar os casos por analogia, incorrendo em excesso ou ausência de punição em função de cada ato ilícito.

Enquanto alguns lutam para repreender a livre distribuição de conteúdos, seja através de manobras jurídicas, tecnológicas ou de comunicação/conscientização – ganhando algumas batalhas, mas claramente, perdendo a guerra – outros tentam encontrar formas de se aproveitar deste meio ou, ao menos, sobreviver financeiramente alterando em partes seu modelo comercial.

A questão então não está em como cercear a possibilidade da troca de arquivos (conteúdos digitais), mas sim em como se adaptar a uma realidade irremediável.

O mercado fonográfico não reagiu a tempo; sucumbiu aos Napsters, Kazaas e Limewires da vida. O mercado áudio-visual, antevendo o mesmo destino, tratou de apurar-se em oferecer alternativas legítimas de consumo de seu conteúdo e, neste momento, transformou o conteúdo em serviço.

O serviço é entregar o conteúdo

Já havia argumentado que serviços como o Netflix e iTunes não vendem propriamente o conteúdo, mas sim o valor agregado de tê-lo facilmente disponível, em boa qualidade, com o áudio e legendas próprias, pagando, por isso, um valor acessível e, digamos, “justo”.

Tudo depende do valor percebido por este serviço versus o esforço em buscar a alternativa gratuita (e, usualmente, ilegal, embora isso possa não ser, neste julgamento, tão relevante).

Claro que podemos explorar a web para encontrarmos a versão completa daquele filme, fazer o download dos ~5Gb de dados e torcer para ele estar legendado; ou, caso não esteja, buscar entre arquivos .SRT a legenda do filme e sincronizá-los em algum outro software para, ufa, finalmente, tirar a pipoca do microondas e assistir com o laptop no colo (com cabo HDMI, Apple TV, etc).

E, neste momento, serviços de curadoria de conteúdo digital oferecidos a preços acessíveis (ou subsidiados por anúncios publicitários) ajudam a inibir a posse destes arquivos áudio-visuais à medida que tornam facilmente acessíveis (disponibilidade, usabilidade, qualidade) aquele conteúdo.

Posse dos conteúdos ou nuvem

No caso de músicas, a alternância entre “posse-descentralização” continua quando músicas em MP3 dão lugar a serviços online como o TuneIn, Pandora e Jango, entre outros; mesmo serviços on-demand, como a compra via iTunes, tem como benefício a transferência facilitada do arquivo entre todos seus dispositivos, do que a música em si. A questão sobre linearidade controlável e descoberta de novos conteúdos poderá ser tratada em um novo texto.

No caso de vídeos, serviços como Telecine Play, Netflix e Netmovies tratam de tornar disponíveis filmes recém-lançados. Neste caso, claro que podemos discutir sobre as janelas de lançamento (período de liberação) entre os diferentes meios, do cinema para serviços on-demand (aluguel pontual de um titulo), para TV a cabo, para serviços abertos (tipo Netflix), para TV aberta.

Todo esse ciclo pode levar até cinco anos, mas tem sido continuamente reduzido justamente para equilibrar o anseio da população e o combate antecipado da pirataria.

Se chegará o momento em que o conteúdo será gratuito e outras fontes de receita (licenciamento?) tentarão compensar esta perda, é discutível.

Parece estar claro, entretanto, que a facilidade de acesso a estes filmes e músicas, principalmente entre a parcela economicamente ativa da população, através de serviços de distribuição digital volta a atribuir valor ao comoditizado mundo dos conteúdos de entretenimento. [Webinsider]

…………………………

Leia também:

…………………………

Conheça os cursos patrocinadores do Webinsider

Avatar de JC Rodrigues

JC Rodrigues (@jcrodrigues) é publicitário pela ESPM, pós-graduado pela UFRJ, MBA pela ESPM. Foi professor da ESPM, da Miami Ad School e diretor da Disney Interactive, na The Walt Disney Company.

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on pocket

Uma resposta

  1. JC,

    Sou consultor em propriedade intelectual (marcas, patentes, direito autoral, etc…) e compartilho a percepção de que deve haver uma adaptação, a internet não pode ser vista como um inimigo, até porque se for assim a guerra já está perdida para quem se opor à ela.

    A internet é um organismo vivo, com milhões de células, a questão é que todas elas pensam, se uma descobre uma rota alternativa, um atalho que contorne um problema ou censura as outras rapidamente aprendem e compartilham essa solução, é o caso do Pirate Bay.

    Não adianta bloquear o domínio, eles mudam para outro e em poucas horas todo mundo já está sabendo a nova URL.

    Alguns artistas já entenderam e estão aprendendo (rapidamente) como usar a internet à seu favor, acredito que os grandes estúdios em breve começarão a fazer algo similar, afinal, não vamos esquecer a origem de Hollywood.

    Pra quem não sabe, Hollywood foi criada por alguns cineastas que não queriam pagar royalties para Thomas Edison, que tinha a patente do “cinematógrafo”, a Califórnia tinha uma lei mais branda e todos foram pra lá, em resumo: Hollywood foi fundada por piratas!

    Mas não se iluda, acho que quem cria algo deve ser remunerado, só penso que o modelo atual precisa de ajustes.

    A internet tem disso desde sempre, por exemplo: conteúdo básico grátis, conteúdo premium é pago.

    Let´s think!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *