Faz pouco mais de um mês que Juliano Spyer fez aqui mesmo no Webinsider um artigo sobre o Twitter. Muito tenho a concordar com ele, mas acredito que posso complementar alguns pontos que observei e tornar a discussão um pouco mais rica.
O Twitter é uma ferramenta de microblog, ou seja, de blogs cujos posts são em formato reduzido de 140 caracteres. Tudo bem, mas isso não explica o serviço. O Twitter é algo tão difícil de entender para quem está de fora, e ao mesmo tempo tão difícil de explicar.
Talvez o maior engano das pessoas, quando se fala de (micro)blog, é pensar que vai entrar em uma página do Twitter e encontrar um assunto. Assim como há blogs sobre tecnologia de automóveis, há microblogs de carros no Twitter. Mas não é o uso mais comum e o visitante fica sem entender o que é aquele tanto de arrobas seguidos de nomes entre outras coisas.
Abaixo divido em categorias alguns aspectos do Twitter para ficar de compreensão mais fácil.
Conteúdo
É importante entender que o Twitter em si não é a mensagem, é o meio. Ou melhor, não é conteúdo, é uma ferramenta. O conteúdo é o contexto que estamos vivendo, mas com a diferença que os posts são altamente subjetivos e assim refletem a vida de quem escreve.
Se seguirmos alguém que estuda redes sociais, teremos a observação da realidade sob o filtro de um pesquisador do assunto, que vai fazer posts diferentes de um jornalista.
Muita gente não entrou no Twitter por um certo preconceito com a proposta inicial do serviço, que é responder a frase ?O que você está fazendo??. Em tese, seria um serviço fútil, uma perda de tempo entre outras coisas. Acontece que as pessoas fazem o uso da ferramenta da forma que acham melhor – e já fazem isso.
Ao invés de ?o que estou fazendo?, percebo que as pessoas respondem ?o que estou pensando?. Algo mais profundo que permite conhecer a pessoa por um prisma mais rico.
Imediatismo
Acho que atualmente nada pode representar melhor que o Twitter a cultura do imediatismo. Os posts são na linguagem mais informal e enxuta possível e não há a preocupação em desenvolver uma linha de raciocínio complexa. São drops de pensamento soltos por aí. Às vezes vemos um pouco a relação blog com microblog – quando o que se quer mostrar ao mundo é algo simples, mas relevante, é melhor lançar o material logo no Twitter e depois, se preciso, desenvolver um raciocínio no seu blog.
O conteúdo é momentâneo e reflete o período que estamos passando. Isso justifica a possibilidade de postar do celular e a cobertura de eventos com as hashtags (#). Olhar os posts do Twitter do ano passado só é válido para fins históricos, como olhar o primeiro e-mail recebido na caixa de entrada; a relevância é quase nula.
Cultura
Acredito que o Twitter deu certo pois foi lançado na época certa. No início da internet, por exemplo, suas chances de sucesso seriam mínimas.
Quem acompanha o Twitter já tem os olhos treinados para várias mensagens curtas de fontes diferentes. É provavelmente a pessoa que lê títulos de outdoors e placas de rua rapidamente sem bater o carro, um reflexo de nossa adaptação ao excesso de informação que vivemos.
Sociabilidade
Eu costumo dizer que só participando por um tempo é que o novato irá sentir o espírito do Twitter e desenvolver conversações.
Antes de entrar no serviço, olhava as páginas individuais e pensava que se quisesse acompanhar, era só pegar o feed RSS da página da pessoa. Estava enganado.
Embora seja possível acompanhar por feeds, você não está naquela rede, não pode receber respostas (o arroba antes do nome). Com o tempo, interagindo, é que se começa a ver um sentido naquilo tudo.
O Twitter é a ferramenta e o conteúdo é o resultado do conjunto diferente de personas (os perfis podem ser personagens) que você segue. Logo, a experiência com o Twitter será única. É uma experiência individual, ainda que de caráter coletivo.
Normalmente, quem entra no Twitter é porque conhece alguém e só segue essa pessoa. Aí fica chato. É praticamente como ler o RSS. É preciso seguir mais pessoas, mesmo que não conheça, para sentir uma conversação entre as pessoas ocorrendo.
No Twitter você não pode só ouvir, você tem que dizer, acrescentar à conversação global.
Principais usos do Twitter
Como dito, cada um faz do Twitter o uso que desejar, mas é possível distinguir alguns usos comuns:
- Mensageiro instantâneo coletivo. Com o recurso de resposta, muita gente tem se comunicado pelo Twitter, mas com mensagens que também são relevantes para o resto de sua rede de amigos;
- O que estou fazendo ou pensando. É o uso mais comum. É bacana ver as atualizações, mesmo as reclamações e compartilhar alegrias e frustrações. Descobrir que outro colega também tem problemas com telemarketing ou odeia as reuniões mensais.
- Agregador de notícias. Com a popularidade, muitas empresas já foram para o Twitter, muitas delas agências e sites de notícias como CNET e até o HowStuffWorks. Há quem siga vários desses perfis de notícias para se manter informado. Eu acho que um agregador de feeds RSS faz um serviço melhor.
- Divulgador de notícias e links interessantes. Descobriu algo novo e interessante, seja uma novidade ou um site bacana, lá vem um twitt com o link. Acho que nunca as tiny URLs foram tão usadas como no Twitter.
- Cobertura de eventos. Quando se usa uma mesma tag convencionada é possível agrupar essas mensagens. Em eventos com muitos acontecimentos simultâneos, como a Campus Party, é uma mão na roda. Em uma só tela você evita ficar zanzando no grande pavilhão para descobrir o que há de novo.
- Oráculo. Se você já cultivou relacionamentos no Twitter, mande uma pergunta de vez em quando ou faça uma enquete, e verá como as pessoas terão prazer em responder.
O Twitter é definitivo?
Difícil dizer. O conceito tende a se popularizar e possivelmente vamos utilizar cada vez frases mais curtas como forma de expressão. Mas quanto aos concorrentes, o Twitter teve muitos problemas de estabilidade e os participantes até começaram a procurar alternativas, como o Jaiku e o Plurk, que ainda não vingaram.
Primeiro pela massa crítica. É muito difícil acontecer de todos os seus contatos do Twitter decidirem migrar para a mesma plataforma alternativa na mesma época.
Em segundo lugar, também surgiram muitos serviços e mashups usando a API do Twitter – e migrar para um serviço que ainda não tem essas possibilidades é perder boa parte da graça do serviço.
E finalmente, Twitter já virou sinônimo do tipo de serviço de microblog, assim como Bic para caneta e Gilette para lâmina de barbear.
Espero que com esse artigo o espírito que tornou o Twitter popular tenha ficado mais claro – e que você dê uma chance a ele, se ainda não deu. [Webinsider]
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Edison Morais
<strong>Edison Morais</strong> (contato@edisonmorais.com) é um entusiasta da internet. Pesquisador de SEO, mídias sociais e também do impacto que a internet e a tecnologia têm nas vidas das pessoas, mantém o blog <strong><a href="http://conexoes.edisonmorais.com/" rel="externo">Conexões</a></strong>
20 respostas
Paulo,
Ao meu ver, quando o assunto é comunicação, e tratamos da relação meio/mensagem, o meio é a ferramenta para conseguir o objetivo de comunicar a mensagem. Daí o uso dos dois termos. Isto posto, você pode perceber que uma definição complementa a outra.
Quanto à sua visão quanto ao Twitter, reflete a parcela de pessoas que me inspiraram a escrever o artigo, que já vêm classificando o serviço sem ao menos experimentá-lo.
Se ajudar, gostaria de lhe lembrar do começo da ferramenta Blog, foi o mesmo papo: o pessoal já taxava de coisa de desocupado, ficar escrevendo Querido diário… e tal.
Mais uma vez, é apenas uma ferramenta, é utilidade depende do uso que você faz dela. Temos hoje importantes blogs de jornalistas, de humor enquanto ainda temos o blog querido diário.
O Twitter serve e muito para aumentar a sua rede de amigos, além de criar discussões produtivas e que pode render ótimos debates fora da Internet.
Parece-me que o próprio articulista não se entende muito bem ao tentar definir esta droga chamada twitter:
Primeiro ele diz:
É importante entender que o Twitter em si não é a mensagem, é o meio. Ou melhor, não é conteúdo, é uma ferramenta.
Depois…
O Twitter é a ferramenta e o conteúdo é o resultado do conjunto diferente de personas (os perfis podem ser personagens) que você segue. Logo, a experiência com o Twitter será única. É uma experiência individual, ainda que de caráter coletivo.
Afinal, é o conteúdo, o meio, a ferramenta, ou que outra coisa?
Sempre achei coisa de miguxo o tal de twitter. Algo dispensável e completamente inútil sob todos os pontos de vista relativos a conteúdo, ferramenta ou meio.
Restando, portanto, a prática corriqueira entre as primuxas ou miguxas: o ando fazendo agora. Algo meio EMO.
Por favor, não é nada pessoal ou ofensivo, apenas minha visão sobre o…sei lá o que poderia ser.
Olá,
Acredito que o Twitter é uma ótima ferramenta para indicar para os amigos e seguidores sites relevantes, comunicar novos posts e solicitar informações. É uma ferramenta excelente para os blogueiros e também para divulgar notícias interessantes.
Mas tem gente achando que o Twitter é um diário, e considero que utilizar essa rede social como diário é a pior maneira de se posicionar para o mercado.
Abs,
Bom, em primeiro lugar, acho a definição de microblog um tanto inadequada. Porque o twitter não funciona do mesmo modo, o sistema é diferente, o propósito é diferente.
O twitter é antes de mais nada uma rede social. Por isso ele não é ruim nem bom. Ele é basicamente a suma da sua rede de contatos. Ou seja, se os seus amigos falam o que fazem no banheiro, o problema é seu.
Se eu tenho uma rede de contatos com conteúdo interessante, ela agrega. Se eu tenho uma rede de contatos que só atiram pensamentos e besteiras ao limbo, é provavelmente perda de tempo.
Imaginem um bar lotado, isso é o twitter. Só fica divertido depois que você começa a interagir, antes disso não faz muito sentido mesmo.
A propósito, escrevi um artigo dando umas dicas de como usar o twitter de um modo corporativo lá no http://www.peixefresco.net.
Abraços!
Excelente texto Edison, e olha que vínhamos amadurecendo a idéia a tempos. Faltou citar que o Twitter é tão padrão que virou verbo no Brasil. Eu tuito, tu tuitas, ele tuita… 😀
@leonardo mateus:
Olá Leonardo,
Valeu pela resposta. Pensando por este lado até que é útil mesmo, mas aí você tiraria o telefone ou o rádio do seu técnico?
Eu até admito que quem trabalha com/na web e fica pelo menos 10 horas por dia conectado (como é o meu caso e o de muitos, sem comtar os exagerados que quando saem do micro ligam o palm ou o vídeo-game par navegar) podemos nos dar o luxo de usar recursos online para (quase) tudo, mas será que não é exagero não?
Usar o twiter para dizer se uma visita a um cliente foi boa ou ruim ou se foi ao banheiro, não é um absurdo do exagero?
Que web semântica é esta que estamos constuíndo? Uma web que mostra às pessoas que música eu estou ouvindo e que a informação tem uma validade mais efêmera que o próprio tempo que dura para ouvir a música?
No meu ponto de vista, simplicidade é a alma do negócio e entupir a web com pensamentos efêmeros e extremamente voláteis não contribui em nada com ninguém!
Um blog, vá lá, é um texto, tem começo, meio e fim, mas uma frase momentânea?
Ou estou ficando velho demais ou minha alma se recusa a ver algo estúpido e inútil sendo elevado a invenção do século (como bem citou Juan em respeito ao Second Life (alguém ainda entra ali?!?)) dessa maneira.
Bora voltar pro trampo que eu ganho mais…
Obrigado pelos vossos valiosos tempos e não visitem meu twitter, não há nada nele! @;]
Eu concordo com o artigo anterior do Juliano que fala que a principal função do Twitter é semear. Você joga um pensamento ali para que alguém interaja.
Nada mais chato do que as pessoas que falam o que estão fazendo no momento o dia todo – infelizmente, elas ainda são maioria no Twitter. Elas me lembram os primeiros blogs – que também ainda existem – de pessoas que não queriam discutir ou pensar sobre nada, apenas relatando faltos cotidianos chatos e dispensáveis.
Eu ainda prefiro blogs, mas ainda vou persistir um pco mais no Twitter.
Nooossa…
Preciso de muita ajuda para utilzar esse twitter, como sou leigo!!!
Que absurdo!!!
Nelson!
@fzarpa, eu pensei em fazer do Twitter mais para esclarecer o conceito, pois se tem gente que não entende ele, imagine o Blip.fm. Pretendo escrever sobre outras abordagens de microblog em breve.
Também acho o Blip.fm bacana, e descobri recentemente o Utterz (http://www.utterz.com/), que permite gravar um som, um vídeo e mandar via microblog. Ele também organiza as discussões, só precisa ver se vai ser adotado em massa.
Falou, falou e continuou a não dizer nada.
Até agora este tal de twitter não tem serventia nenhuma.
Isto deve ser mais um modismo como foi o second life. Badalado no inicio, mas aos poucos as pessoas vão se esquecendo porque vai perdendo o sentido/objetivo de pra que que serve?.
Aliás, alguém aqui soube pra quê servia o second life? Era um game? Uma rede social? Um aplicativo para desocupados?
Eu até entrei e fiz cadastro neste tal de twitter porque foi comentado na info exame.
Entrei na tela inicial, sai, e não vou voltar nunca mais.
@luiz gustavo: Bem, em resposta ao seu comentário tenho uma ideia que pode dar utilidade ao twitter, conforme você mesmo disse. Sabe aqueles quadros de aviso de setor, do tipo fui almoçar, volto às…, ou estou no setor de compras fazendo manutenção … muito comum no setor de TI? Poisé, agente usa isso no setor onde eu trabalho pra ficar fácil saber onde os técnicos estão e uma previsão pra saber que horas ele retornará ao setor. E isso está ajudando muito. Já é possível um técnico ir fazer uma manutenção em determinado setor e saber se aquela manutenção foi bem sucedida ou não, ou ainda um pedido de ajuda através do twitter sem precisar que ele retorne ao setor para isso.
@Edison Morais: Quanto ao post, foi muito bem citado suas caraterísticas. Não sou um twitter-maníaco, mas é possível enxergar utilidades na ferramenta que vão muito além do que um simples indo tomar café, Parabéns pela iniciativa. ;D
Adorei o texto.
Só achei que faltou falar um pouco sobre os novos microblogs que já agregam mais funcionalidades.
Acho, por exemplo, sensacional o blip.fm, que (além de ser integrado ao twitter) é específico para músicas. Não vejo a hora de ver aparecerem novos twitters onde se possa postar imagens (para colegas designers), ou então uma espécie de twitter/youtube, com vídeos disponíveis para micropostagens.
A grande dificuldade, ao meu ver, é encontrar pessoas que microblogam coisas relevantes para os outros. Não existe um bom perfil de usuário disponível no twitter para que se procure pessoas com interesses comuns; fazendo-se necessário um bom número de conhecidos reais, para que se torne interessante o ambiente virtual.
Ao contrário do que aconteceu no orkut (onde cada um microbloga recados num painel disponível para cada usuário), no twitter os pensamentos se perdem nas páginas passadas, como vc bem colocou.
Abs,
Nossa, acho que eu sou o único aqui que acha o twiter uma bela porcaria inútil.
Ficar falando para os outros o que estou pensando no momento é no mínimo perda de tempo, mesmo porque, enquanto escrevo uma frase, já pensei em mais de 3…
Sinceramente, até tentei usar a ferramenta, mas não vi utilidade alguma nela, pelo menos pra mim… @:S
Que twitem os que gostam dele! @:D
Bem desenvolvido o texto, bem coeso, conciso e informativo, adorei, parabéns!
Valeu pelo ótimo artigo!
Conheço várias pessoas que usam o Twitter, mas nunca entendi direito a finalidade do site.
Agora tudo está mais claro!
é tão mais fácil colocar um lik legal no twitter do que mandar por e-mail ou postar no blog. É ágil, e mil vezes mais eficiente na disseminação.
ps: cheguei aqui através da tuitada da Vivi aqui de cima! 🙂
Adorei o artigo! Entrei há pouco tempo no Twitter (http://twitter.com/cristianasoares), mas já posso constatar tudo o que vc diz aqui. Venho refletindo muito sobre o uso dessa ferramenta…
Só para fazer um pouco a vez do advogado do diabo e estimular a conversação:
http://oavodoantonio.blogspot.com/2008/07/o-que-o-twitter-no.html
beijo
Cris
Edison,
Gostei muito do seu artigo. Já tive muita dificuldade para explicar pra que serve o twitter.
Agora é só linkar pro seu artigo 🙂
Aliás, já estou twitando ele!
Um abraço,
Viviane