Com Geraldo Seabra.
Uma recente pesquisa publicada pelo jornal italiano La Stampa expôs a decadência do mercado jornalístico nos Estados Unidos. Baixa moral entre os jornalistas cada vez mais insatisfeitos com os rumos tomados pela profissão. É o resultado do estudo ‘O jornalista norte-americano na era digital’, produzido pela Universidade de Indiana. O levantamento, que é feito a cada dez anos, traz números decepcionantes. Para quase 60% dos jornalistas americanos, o mercado nos Estados Unidos está indo de mal a pior, mesmo após a adoção do modelo paypal de cobrança pelos principais jornais.
Por outro lado, essa atmosfera de ruptura abre um horizonte favorável para formatos emergentes, como os NewsGames, por exemplo. Apesar da crise, o mercado de games continua a faturar somas bilionárias. Só no segmento de jogos para PC’s, o Brasil movimenta mais de US$ 2 bilhões/ano. Para se ter uma ideia da força desse mercado, o universo de jogadores já ultrapassou a casa dos 47 milhões. São números impressionantes que podem ajudar a reerguer o mercado jornalístico.
Um bom termômetro para promover mudanças na redação é o humor dos jornalistas. Segundo a pesquisa, apenas 24% dos entrevistados disseram estar muito satisfeitos com o trabalho que desenvolvem, uma queda de 10% em comparação com o levantamento realizado em 2002. Esse retrato desolador da profissão vem tirando do mercado muitos profissionais de qualidade, que acabam migrando para outras atividades por receio das empresas de apostar em formatos alternativos.
Estranhos no ninho
Hoje em dia, os jornalistas nos Estados Unidos são um pouco mais preparados que há 10 anos. O número de profissionais com diploma aumentou para 92%, mas apenas 37,4 % são provenientes de escolas especializadas na atividade em que atuam. Ou seja, a maioria esmagadora é oriunda de outras áreas do conhecimento, como tecnologias da informação, visualização de dados, web design e sistemas de verificação de dados.
Para 62,6 % dos jornalistas a sua redação foi reduzida no ano passado, enquanto apenas 13,2% admitem que foi contratado recentemente. Isto significa que os próprios jornalistas estão ficando mais velhos e que há pouca renovação no setor. De fato, a idade média dos empregados em tempo integral aumentou de 41 a 47 anos. Com a crise financeira na Itália, muitos jornalistas italianos estão migrando para a área editorial.
Independência versus autonomia
A saída tem sido a publicação de livros como fonte de renda alternativa. Nos Estados Unidos, os jornalistas se dizem mais independentes. Cerca de 50% afirmaram que se afastaram de partidos políticos. Essa independência política nem de longe coincide com a autonomia profissional, que está em franco declínio. Em 1982, 60% dos entrevistados afirmavam ser completamente livre na escolha das matérias. Mas agora menos de 34% dos entrevistados mantêm essa mesma percepção.
De lá para cá, a confiança nas instituições também diminuiu. Quase 80% dos jornalistas disseram que o controle das atividades do governo é o objetivo mais importante do jornalismo, ainda mais do que os 76% que pensavam assim nos anos do Watergate. Esse dado é interessante quando encaramos o jornalismo como último baluarte do espaço público, cujo resgate está atrelado à narrativa dos NewsGames por meio da participação popular.
Banalização das breaking news
Na terra do Tio Sam, quase 70% dos jornalistas ainda gostaria de ‘analisar problemas complexos’, mesmo que essa tarefa seja cada vez mais difícil. Isso é reflexo da banalização da chamada breaking news (notícias rápidas). Aliás, a internet e a TV estão inundadas com informações 24 horas com pouco aprofundamento. Portanto, há um grande mercado para edição de notícias com qualidade superior. O teor da teoria aplicada dos NewsGames já relativizava o poder da notícia apenas como novidade.
Para piorar ainda mais o cenário, há ainda menos consenso sobre o uso de técnicas controversas, como a publicação de documentos do governo sem permissão, escutas clandestinas e ações inadvertidas de paparazzi inescrupulosos. Cerca de 40% jornalistas americanos disseram que as Redes sociais são importantes, e que usam microblogs (53,8%) como o Twitter para reunir informações e acompanhar a concorrência.
Jogadores são fontes sociais
Quase 80% disseram que de fato usam as redes sociais para receber imediatamente as notícias urgentes. A mídia social também é um bom suporte para identificar as histórias a seguir e interagir com os leitores. Essa tendência alimenta também a narrativa dos NewsGames, pois as breaking news servem de conteúdo narrativo para dar início ao jogo. Por outro lado, apenas 20% pensam que as redes sociais são úteis para entrevistar fontes ou verificar a notícia.
Mas, no novo modelo de jornalismo baseado em games, recorre-se a sistemas acoplados a data journalism, que permitem efetuar cruzamentos de dados realizados dentro de um simulador de jogo. A velha fonte de informação tem voz apenas nas breaking news, porque nos NewsGames as fontes sociais da notícia (NewNews) são os próprios jogadores. Em geral, cerca de 80% dos jornalistas americanos pensam que estas novas redes podem ajudar a promover melhor o seu trabalho. Bingo!
Campo de ação para jornalistas
Pela pesquisa americana, a cobertura jornalística das minorias voltou a cair de 9,5% em 2012 para 8,5 % hoje. Quando você considera que as minorias constituem quase 40% do total da população americana, torna-se claro que elas estão sub-representadas no campo da informação. Tal lacuna pode ser preenchida pelos games emuladores de notícias, cuja narrativa busca estimular o engajamento cultural, social e político do cidadão comum.
Eis um enorme campo de ação para jornalistas que passaram a trabalhar no mercado paralelo. Quando paramos para pensar que apenas 1% da população detém todo o controle político e econômico de um país, a questão que está em jogo aqui não é apenas a sub-representação das minorias, mas, sobretudo, a hegemonia de uma maioria que quando encara o espelho percebe que sempre foi órfã de uma representação real e digna. [Webinsider]
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Luciene Santos
Luciene Santos, jornalista e especialista em games como informação e notícia. É co-autora do e-book “Do Odyssey 100 aos NewsGames – uma Genealogia dos Games como Informação”. Nascida em BH, está radicada atualmente em Treviso (Itália), onde atua como apresentadora da WebTV do Blog dos NewsGames.
Uma resposta
Muito importante essa tecnológica forma de se fazer a informação jornalística chegar até as pessoas de maneira diferente e criativa, pois realmente existe uma ausência de informação e infelizmente deixa uma lacuna causando uma série de insatisfação nas pessoas, que sentem necessidade de conhecimento para questionarem ou opinarem em diversos assuntos que as enriquecem como cidadãos que muitas vezes escondidos no anonimato precisam de se pronunciarem e demostrar seus valores e com certeza essa lacuna por falta de informação , pode ser preenchida pelos games de notícias que oferecem estimular o engajamento cultural, social e político desse cidadão comum .