foto: Henri Cartier-Bresson — Nova York — 1947
Não se sabe quem inventou a janela mas tinha algo a ver com os olhos, com alguma forma de olhar. Sempre havia algo para vigiar ou observar. Haviam horizontes, cenários e gente.
Mas um dia algumas pessoas foram um pouco além da janela, e além de olhar começaram a comentar e depois relatar, já que tanta coisa acontecia lá fora.
Alguns fatos e pessoas eram conhecidos, outros não. Sendo eventos engraçados e tristes se tentou várias maneiras de registrar e guardar isso.
Acabou que um contava para outro, e outra, e este para outros, e assim indefinidamente. Então surgiram mitos, contos, lendas, lembranças.
Ninguém fazia questão de ser autor de nada e as primeiras histórias facilmente passaram de uma geração para outra, mesmo que só na forma oral.
Em diferentes lugares surgiam versões com pequenas variações. O que realmente valia era que ninguém cansava de ouvir e recontar. As pessoas sempre riam, choravam. E se emocionavam de novo.
Alguns achavam que ainda haviam mais coisas a contar sobre o mundo e a vida. Então certas pessoas começaram não só a narrar e lembrar suas versões das histórias como também a inventar outras. E mais: decidiram escrevê-las e assiná-las com um nome.
Assim surgiram os primeiros escritores. Ainda havia uma janela e alguém que contava algum tipo de história. Só que a importância do que estava escrito de certa forma foi aumentando.
E algumas delas acabaram por fazer mais sucesso, pareciam melhores em alguns aspectos ou então atendiam ao que as pessoas queriam ler e ouvir naquele momento.
Então criou-se essa aura do escritor, do criador solitário e de certa forma, imortal. Pois suas palavras pareciam ter algum tipo de poder.
E também começaram aí os interesses, a inveja, surgiram os editores, os contratos, os direitos. Com a imprensa e o crescimento das cidades, formou-se um público para consumir estas produções, as livrarias, os críticos e os fãs.
De certa forma a janela do escritor foi se tornando algo cada vez mais instável e frágil.
Alguns acabam por se trancar e isolar dentro de torres, castelos, propriedades e outras realidades, longe de suas antigas janelas e de seus leitores, de suas origens.
Correm o risco de perder sua inspiração ou não sabem mais o que escrever, ou o que produzem já não tem a mesma qualidade. Como um sinal de que algo de errado aconteceu.
O fato é que esse tipo de janela nunca foi uma coisa comum. Foi sempre um espaço especial, de ver e presenciar, algo mágico que se abre.
Lá, na origem de todas as histórias, quem escreve e quem lê, personagens, escritores, leitores, todos são iguais.
Descobrir a Janela do Escritor é um caminho diferente para cada um, não existe uma igual. Não é algo que se encontra por acaso.
A única indicação que temos é que tem algo a ver com os olhos, com nossa forma de decifrar o universo.
Se encontrarmos de alguma forma esta janela, poderemos sim, ser tudo e ser nada.
Ali se vive e se morre, tanto se voa quanto se afoga, não importa qual seja a história. [Webinsider]
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Roberto Tostes
Roberto Tostes (@robertotostes) é profissional de comunicação e web na área de marketing digital e design gráfico. Publicitário e escritor. Possui o blog robertotostes.com/.