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Telas, telas, telas em todos os lugares. Telas ubíquas. Telas onipresentes.

“Mas na minha casa só tenho um aparelho de TV”, pode pensar o leitor. Ledo engano. O leitor pode ter apenas um televisor na sala de estar — mas também tem um telefone celular (que tem uma tela), um iPod (outra tela), um iPhone, etc.

A multiplicação das telas se soma à multiplicação dos canais e dos conteúdos.

Há nessa tendência um pouco de 1984 de George Orwell e também algo de Blade Runner de Philip K. Dick. Essas obras de ficção abordam a presença das telas na vida das pessoas como uma tecnologia sempre presente. Inescapável em muitos casos, pervasiva e invasiva.

Em 1984, Orwell imaginou a “teletela” como um televisor obrigatório, presente em todos os espaços públicos e privados. A teletela era versão totalitária da interatividade — o conteúdo era compulsório, e o espectador poderia ser advertido por não assistir ou não participar.

A teletela nunca podia ser desligada pelo cidadão/usuário/consumidor. No máximo, ele poderia abaixar o volume, mas não totalmente. Como “plot device” de um romance sobre o totalitarismo, é triste reconhecer que esse pesadelo é o sonho dourado (inconfesso) de muitos publicitários e anunciantes. Já repararam que o áudio dos comerciais é sempre mais alto que o dos programas?

No filme Blade Runner, dirigido por Riddley Scott em 1982, as telas são parte importante da paisagem urbana. O filme mostra imensas TVs cobrindo prédios inteiros, com gueixas sorridentes anunciando guloseimas, Coca-Cola e viagens interplanetárias. Um ícone do movimento cyberpunk, essa ideia de TVs gigantes foi realmente uma moda na Ásia durante algum tempo (gueixas sorridentes vendem qualquer coisa). Até São Paulo teve suas mega-TVs em grandes avenidas.

Nem 1984, nem Blade Runner. Mas muitas previsões feitas há 30 ou 40 anos sobre o futuro da TV (como aparelho, não como mídia) se tornaram realidade. Televisores tão finos que podem ser pendurados como quadros, com som e imagem em alta definição. O preço continua em queda acentuada, com ou sem crise. A indústria decretou a morte do tubo de imagem, que descanse em paz. As telas de plasma ou cristal líquido podem ser compradas nas casas Bahia ou nos canais de televendas, em até 20 parcelas.

E assim temos a atual explosão das telas. Se os painéis gigantes nas avenidas e prédios ficaram fora de moda ou foram banidos por força de lei, agora temos TVs em trens, ônibus, táxis, terminais de transporte, shopping centers, postos de gasolina, hospitais, etc, etc. Pipocaram empresas especializadas em “mídia indoor” que usam TVs como cartazes animados — uma programação de notícias curtas, previsão do tempo, resultados esportivos e fofocas intercalados por anúncios. E mais opções estão surgindo a cada dia, para atender a demanda de anunciantes, agências, empresas de tecnologia, produtores de conteúdo, etc, etc.

O curioso é que esse cenário está em total contraste com as políticas de televisão tanto públicas como privadas, neste e em outros países. O atual projeto orquestrado pelo Ministério das Comunicações, Anatel e grandes empresas de mídia e tecnologia já está obsoleto antes mesmo de nascer. São políticas tradicionais: grandes esquemas, grandes negócios, e padrões tecnológicos criados por consórcios de rivais, e aprovados em cinco vias com carimbos e firma reconhecida em cartório.

Esse modelo Big Business já funcionou antes, e bem. Mas os tempos são outros. As vacas não estão gordas. Mas não estão esqueléticas, tampouco. Pesquisas confiáveis indicam que a TV continua a imperatriz de todas as mídias — e pode manter a coroa por muito tempo ainda.

Mas a TV não cabe mais nas mãos de poucos. Uma complexa convergência de fatores tornou a televisão fluida demais para ser controlada por oligarcas e agências reguladoras. A multiplicação exuberante de plataformas de hoje é só um sintoma, a ponta do iceberg.

Como ocorre com várias outras tecnologias neste século, a TV está sendo “horizontalizada” (ou democratizada) pelo barateamento dos equipamentos e ferramentas. e pela explosão dos canais de exibição. Acima de tudo, o conhecimento que a população leiga tem sobre a mídia televisão cresceu enormemente. Há 40 anos, a produção de TV era uma atividade de elite, praticada por especialistas em pouquíssimos mercados. Hoje qualquer pessoa capaz de operar uma câmera pode ser um sucesso mundial.

Em uma metáfora rasteira mas razoável, o modelo oficial é como um shopping center de luxo, enquanto o que está fora dele é como a 25 de Março, o Saara, um mercadão ou feira livre. O shopping é refinado, confortável, seguro. O mercadão popular é o óbvio oposto.

Em tempos de crise, quem vende mais? [Webinsider]

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Avatar de Sergio Kulpas

Sergio Kulpas (sergiokulpas@gmail.com) é jornalista e escritor.

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Uma resposta

  1. Sobre a Multiplicação das Telas…

    A muito tempo a TV deixou de ser um simples aparelho para se transformar em equipamento de grande valor. Não é atoa que o desenvolvimento de novas tecnologia estão em grande processo, apesar de serem lentos. O que acho é que deveria haver um modo mais avançado no meio de transmissão, pois ainda é primitivo a velha e quase boa antena. Pode parecer que esteja eu fugindo do assunto mais com tanta tecnologia, ainda tenho que colocar lá no talhado da minha casa varios ferros para que eu posso assistir o bom e velho Jornal do Dia ou da noite. Ipod, Iphone, S.O., Notebook, netbook e assim vai. Entendeu…? Pois nem todos tem condições de pagar por uma assinatura ou colocar uma parabólica. Para a TV ser uma aparelho de mídia de verdade teremos que mudar esses conceitos…

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