Sergio Carvalho é formado em Desenho Industrial e Comunicação visual pela PUC-RJ e co-fundador em 1994 da Sirius Interativa, agência de soluções digitais, onde atua como coordenador da área de experiência do usuário. É também presidente da Abradi-RJ (Associação Brasileira das Agências Digitais ? seção RJ).
Sergio trabalha em projetos de consultoria para a área pública e privada para clientes como Banco Central do Brasil, Petrobras, Embratel, Fundação Getúlio Vargas, Ministério da Saúde, Governo do Estado de São Paulo e Eletrobrás.
– Por que você escolheu a carreira de designer e como nasceu a Sirius?
A atividade de design tem uma natureza multidisciplinar que sempre me interessou. É desafiador trabalhar com diferentes referências e profissionais de outras disciplinas na construção de um produto. O designer acaba sendo o sujeito que vai traduzir esses conhecimentos e requerimentos para a linguagem visual.
Isso fica nítido no ambiente digital, onde o designer tem que interagir com diferentes perfis de profissionais para propor uma solução que contemple todos os requerimentos técnicos, criativos e de conteúdo previstos; reflita os objetivos estratégicos do projeto; atenda o modelo mental dos usuários e seja consistente em cada detalhe para oferecer uma experiência de interação que seja adequada e efetiva.
E foi este novo universo digital que nos atraiu para criar a Sirius, que nasceu multimídia em 1994 para se tornar, hoje, interativa.
A empresa nasceu da visão do Eduardo Lima e da Adriana Menescal que viram um mundo digital se formando e criaram uma empresa para exercitar e experimentar estas novas possibilidades. E a gente começou a trabalhar inserido em um ambiente propício a esta experimentação, que era o estúdio de música do pai da Adriana, o compositor de bossa nova Roberto Menescal.
Era um ambiente criativo e que na época gerou alguns interessantes projetos digitais conjuntos, como o CD-ROM ?Songbook da Bossa Nova? ou o CD infantil do Mico Maneco baseado na obra da Ana Maria Machado. Pouco depois, a internet começou o seu processo veloz de consolidação e, para nós, virou um feliz caminho sem volta.
– Que conselho daria a quem pretende seguir a carreira de designer?
Como um gestor de projetos que trabalha cotidianamente com designers para projetos digitais, eu percebo que alguns atributos são condutores de boas soluções em design.
Um deles é o interesse em absorver diferentes conhecimentos e incorporá-los ao seu arsenal de trabalho. Essa curiosidade por outras disciplinas pode ser inata, mas pode ser igualmente exercitada no dia a dia. Os profissionais com este perfil acabam se destacando por conseguirem estabelecer um diálogo rico com arquitetos, programadores e conteudistas sobre qual seria a melhor solução para um dado aspecto da interface.
Eles não enxergam requerimentos técnicos como barreiras e sim como referências que devem ser levadas em conta no desenho da solução e que estimulam a sua criatividade na busca por novas e melhores alternativas.
– A Sirius trabalha com importantes empresas e instituições do Brasil como Embratel, Souza Cruz, Odebrecht, Esso, GlaxoSmithKline, Petrobras, Banco Central e Ministério da Saúde. Comente um pouco sobre clientes grandes e o que tem desenvolvido para eles atualmente?
Acabamos construindo a nossa trajetória através de parcerias que têm se mostrado duradouras e bem sucedidas com grandes empresas. O que não é fácil, porque exige esforço constante para se manter alinhado com as expectativas do cliente e antenado com as novas tecnologias para poder sempre entregar produtos de qualidade nos prazos acordados.
Como somos uma agência full service, trabalhamos com projetos de campanhas que têm uma curta meia-vida, projetos de portais e intranets corporativas que exigem meses apenas para realizar o seu planejamento e projetos de consultoria em SEO, monitoramento em mídias sociais, usabilidade e arquitetura de informação.
E é dentro deste universo sempre crescente de atividades que temos contribuído com o sucesso dos projetos de nossos clientes no Rio, São Paulo e Brasília. Um dos projetos mais interessantes que temos atualmente na carteira é o desenvolvimento do site global, em sete idiomas, de uma importante empresa nacional com presença em dezenas de países.
– Você acha que o Estado do Rio de Janeiro avançou na preocupação com a inclusão digital?
A questão da inclusão digital é central para aumentar o sucesso das iniciativas digitais tanto do governo quanto de empresas privadas e a internet ainda é um ambiente que oferece uma experiência de interação aquém do ideal para boa parte de sua população de usuários.
Muitos projetos nascem desequilibrados ao relegar para um segundo plano aspectos fundamentais para o seu sucesso como a arquitetura de informação, usabilidade, acessibilidade e a gestão de conteúdo.
Não importa a natureza do projeto, se o seu desenho não conseguir incorporar boas práticas de navegação e de organização, o seu potencial de sucesso será certamente comprometido.
Como exemplo, podemos citar o resultado do INAF, que é um indicador do nível de alfabetização da população brasileira, que mostra que apenas 26% da população é alfabetizada de forma plena. Ainda assim, percebemos uma baixa atenção por parte dos gestores dos projetos para adequar o conteúdo a esta realidade.
Os textos são muitas vezes redigidos em linguagem técnica, que recorre a expressões estrangeiras ou utilizam vocabulário específico. Fizemos certa vez um teste de usabilidade para um site nacional de venda de passagens aéreas que tinha a expressão timetable como categoria principal.
A maioria dos usuários que participaram do teste, todos da classe AB com formação universitária, não compreenderam que este conteúdo apresentaria a lista de vôos previstos. Compreensivelmente, fizeram uma tradução literal da expressão como ?tempo de mesa? e acreditavam que o conteúdo estaria relacionado com a alimentação. Um ruído como esse pode interferir no sucesso da ação de navegação dos usuários e comprometer a conversão.
Uma outra referência interessante para reforçar a importância desta estratégia são os estudos realizados pelo laboratório da tecnologia de persuasão de Stanford que aponta que um dos aspectos que mais reforça a credibilidade de um projeto é a sua usabilidade.
Ou seja, o investimento em usabilidade e acessibilidade potencializa a conversão, diminui os erros de navegação, o contato com o suporte do site e ainda agrega credibilidade ao projeto.
– O que você diria para as marcas que ainda não estão na internet?
Que este é um movimento que vai acontecer de forma inevitável, mas que deve ser realizado de forma natural e precedido de um cuidadoso e consistente planejamento.
Movimentos bruscos podem comprometer o posicionamento da marca e a efetividade da operação. Neste sentido fica a constatação de que cada vez mais as empresas têm adotado a correta estratégia de separar a projeto em dois momentos: o planejamento e a implementação. São etapas e custos separados.
Deve-se primeiro contratar a etapa de planejamento que pode incluir, entre outras atividades, entrevistas estruturadas, aplicação de métodos de design centrado no usuário, conceito gráfico e a definição dos requerimentos de infra-estrutura do projeto. Ao final, todos os requerimentos criativos, técnicos e de conteúdo necessários para uma precisa mensuração do esforço de implementação estarão disponíveis. O resultado será um projeto mais adequado ao público-alvo e aderente aos objetivos estratégicos estabelecidos.
– Qual o futuro das mídias sociais? O Twitter seria uma febre passageira como foi Second Life ou veio pra ficar?
Estas novas plataformas de comunicação tendem a achar seu ponto de equilíbrio ao longo do tempo através de um processo de construção coletiva. Os usuários do Twitter certamente propuseram cenários de uso que não tinham sido antecipados por seus criadores e aqui reside uma das razões do seu sucesso.
Conheço, por exemplo, alguns profissionais que foram contratados através do Twitter. Ao mesmo tempo, os mundos alternativos, como o Second Life, se mantém ativos com uma população de usuários fiéis mesmo que em um número bem menor do que em seu ápice, o que é natural. Uma nova plataforma quando é lançada vai experimentar um período de degustação onde os usuários vão exercitar o seu uso e estabelecer como, e se, vão permanecer presentes.
De qualquer forma, as mídias sociais são uma importante forma de expressão na web e o seu monitoramento ativo passa a fazer parte do arsenal de atividades de todas as empresas que buscam ter uma atuação consistente no mundo digital.
– Na relação com o cliente é mais importante ouvir ou falar?
O melhor projeto sempre vai ser aquele onde se estabelece um diálogo ativo entre todos os atores envolvidos no processo ? usuários, cliente, agência. Um ambiente onde o papel de cada um é claramente determinado e onde o peso de cada voz seja proporcional a sua importância e competência em uma dada atividade. Ou seja, o diálogo (ouvir e falar) deve ser baseado em um relacionamento de respeito e confiança entre as partes.
A agência sabe que o cliente detém conhecimento único sobre o negócio da empresa e sobre a visão do projeto, mas o cliente deve compreender que a agência foi contratada por sua competência específica e deve confiar que as suas recomendações são as mais apropriadas para o projeto. Este entendimento quando não está presente na relação pode gerar ruídos e levar a decisões que interferem na qualidade do projeto final.
Um ruído comum nos projetos é quando uma escolha é feita tendo como base preferências pessoais e não os atributos e necessidades do projeto. Ter o contexto, conteúdo e públicos-alvo do projeto como referência central do processo decisório é um aspecto que deve ser constantemente reforçado a todos os envolvidos tanto na agência quanto no cliente.
– O que é um expert review? E quem deveria usar esse serviço?
Durante o ciclo de desenvolvimento de um projeto digital, temos vários momentos onde se pode aplicar métodos de usabilidade para verificar a sua qualidade de interação. Pode-se realizar um teste de usabilidade, aplicar sessões de card sorting, benchmarks comparativos e expert review entre outros. O expert review é um método onde analistas de usabilidade julgam um determinado sistema interativo de acordo com um conjunto de boas práticas estabelecidas.Esta avaliação é feita segundo aspectos que são selecionados de acordo com o projeto como sistema de informação, titulação, busca, navegação, design, acessibilidade e arquitetura de conteúdo. O resultado desta investigação é compilado em um relatório de recomendações que lista os pontos de melhoria identificados e propõem correções.
Este é um método que pode ser aplicado em qualquer projeto digital seja ele informacional ou transacional. O grande benefício é o permitir o desenho de uma solução que ofereça aos seus usuários uma experiência de navegação mais efetiva, que agregue valor ao projeto e potencialize a conversão.
– Como surgiu a Abradi e qual a sua finalidade?
A Associação nasceu do entendimento de que não havia uma entidade que representasse adequadamente a diversidade de atividades que são desempenhadas pelas agências digitais full service e especializadas no mercado digital.
É uma associação de abrangência nacional que possui grande força regional. No momento temos oito regionais que congregam mais de 100 agências digitais associadas. A regional do Rio de Janeiro, a Abradi-RJ, que iniciou a sua operação em 2009, já tem como associadas as principais agências do mercado local e tem trabalhado pelo amadurecimento e aculturamento do mercado digital através do diálogo com empresas, associações de classe e o poder público.
– A Abradi-RJ pretende mudar a mentalidade daqueles que ainda insistem somente em mídia offline
Os 66 milhões de brasileiros que usam a internet para navegar, escolher e comprar produtos e serviços formam um argumento bastante persuasivo. Junte-se a isso a capacidade de acompanhar e medir os fluxos de interação e estabelecer pontes de relacionamento com os usuários e temos um ambiente altamente propício à conversão. Ao mesmo tempo, ainda existe alguma incompreensão por parte de muitas empresas sobre como atuar e investir no mercado digital. A Abradi-RJ pretende atuar com todos os atores do mercado para disseminar informações qualificadas e contribuir ativamente para o seu amadurecimento.
– Qual o futuro da Abradi-RJ?
O futuro da Associação está ligado à evolução do mercado digital no Brasil e o nosso fortalecimento vai se dar através de uma capilaridade e representatividade cada vez maiores. Um diferencial que vale ressaltar é que a associação tende a se tornar o veículo natural de integração de todos os agentes digitais.
Neste modelo proposto, estamos falando de empresas de um amplo leque de atividades como games, webwriting, tecnologia, e-mail marketing, SEO, consultoria e tantas outras que tenham como foco prioritário o ambiente digital. Estas empresas atuam de forma naturalmente complementar e o estabelecimento de um canal de comunicação entre elas vai permitir a adoção de estratégias concentradas que vão colaborar com o amadurecimento do mercado digital. [Webinsider]
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4 respostas
Parabéns pela entrevista, Adriana.
Conheço o Sérgio há algum tempo e seria capaz de morrer hoje sem saber que ele tem formação de design. Profissional criativo, competente e um grande catequista da mídia digital.
Um abraço e dê lembranças minhas a todos da Sirius.
Boa entrevista!!!
Não sabia que a Sirius prestava consultoria em SEO. Trabalhei lá até Fev/09 e, pelo que me consta, a empresa não tinha know-how nenhum na área. Começaram a quanto tempo com o serviço? Estão terceirizando ou fizeram parceria com alguma agência/profissional especializada(o) em Search Marketing?
De qualquer modo, os projetos são sempre de alto nível no que diz respeito a Design. Não é a toa que possui grandes clientes e uma história de 15 anos! 🙂
Legal a entrevista!
Grande Sergio, vida longa à Abradi-RJ! Entrevista nota 11.