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m-boss1“O poder muda as pessoas”.

É muito provável que você já ouviu ou disse a frase acima para qualificar a mudança no comportamento de um amigo após promoção no emprego. A este respeito, permita-lhes contar uma breve história…

Há mais de uma década eu estava como diretor de uma empresa para a qual contratei um representante comercial. Em tal posição, o rapaz não tinha vínculo empregatício, ou seja, não precisava cumprir horários ou mesmo comparecer regularmente à companhia. Cabia-lhe apenas visitar clientes para gerar negócios, estando subordinado a mim e ao gerente comercial.

Entretanto, aquele profissional se destacava em relação aos demais em igual função. Ele fazia questão de ir à fábrica, conhecer em profundidade nossos produtos, processos e sistema de gestão. E, diante deste envolvimento, sempre que possível trazia-nos sugestões diversas para melhoria, de forma realmente despretensiosa.

O cargo de gerente…

Após um ou dois meses, notei que estava diante de uma pessoa singular, muito acima da média dos demais funcionários. Alguém que não se reduzia aos limites de seu papel, que apresentava admirável visão sistêmica e nítida capacidade de gerenciamento e inovação. Refleti e tomei a decisão de promovê-lo.

Para encaixá-lo no organograma, criei o cargo, até então inexistente, de gerente administrativo. Era o que melhor se enquadrava em seu perfil, posto que transitava com fluidez do departamento de vendas à produção, passando pelo atendimento e suprimentos. Todavia, algo inusitado aconteceu.

… subiu à cabeça

Em menos de uma semana no cargo, sua relação com os colegas mudou diametralmente. Ele passou a tratá-los com soberba, em especial a equipe da área comercial, com a qual interagia anteriormente. Até mesmo sua postura física ao caminhar alterou-se! As reclamações começaram a chegar à minha sala até que, menos de um mês depois, não tive opção, demitindo-o.

A grande lição que extraí deste episódio foi de que, em muitos casos, subir na hierarquia faz o poder subir à cabeça. E isso ocorre porque o poder, tal qual o dinheiro, são excepcionais matérias-primas para a vaidade. Porém, diferentemente do que se possa parecer, eles não mudam as pessoas, mas apenas as desmascaram, porque se a arrogância e a prepotência as visitam, é porque sempre estiveram ali presentes, na essência.

“Contrate e promova primeiro com base na integridade; segundo, na motivação;
terceiro, na capacidade; quarto, na compreensão; quinto, no conhecimento;
e, por último, como fator menos importante, na experiência.

Sem integridade, a motivação é perigosa; sem motivação, a capacidade é impotente; sem capacidade, a compreensão é limitada; sem compreensão,
o conhecimento é insignificante; sem conhecimento, a experiência é cega.”

(Dee Hock, fundador da Visa)

Assim, para evitar infortúnio similar, considere três aspectos essenciais antes de promover alguém em sua organização.

Conheça bem o profissional

Primeiro, conheça o profissional. A rigor este cuidado deve ser tomado já por ocasião da admissão. Ou, como gosto de dizer, contrate devagar, mas demita rápido. Analise criteriosamente o perfil do executivo, considerando sua personalidade, comportamentos, motivadores e competências. Há instrumentos poderosos para este tipo de avaliação que, quando bem utilizados, permitem colocar a pessoa certa no lugar certo.

Diga o que oferece e o que espera dele

Segundo, explicite suas expectativas. Antes mesmo de formalizar a promoção, tornando-a pública, convide o profissional antecipadamente para uma conversa com portas fechadas. Neste momento, informe-o dos motivos que levaram você ou sua equipe a escolhê-lo, cite os desafios e responsabilidades do cargo, as metas que se espera atingir e qual a autonomia, infraestrutura e equipe que lhe serão disponibilizadas. Apresente também o plano de remuneração e os benefícios inerentes à função.

Escute

Por fim, pare e escute. Após o passo anterior, deixe que o profissional relate suas próprias expectativas acerca da nova colocação e se a mesma está alinhada aos seus propósitos pessoais. É neste momento que a promoção pode ser recusada em virtude de uma decisão consciente.

A experiência que relatei confirma a tese de que nem todas as pessoas são indicadas para cargos de liderança. Embora esta seja uma competência possível de ser desenvolvida, há aqueles que não se adequam ao papel de líder. E isso pode ocorrer por dois motivos.

Há profissionais que se sentem deslocados em seu ambiente de trabalho por ter seus pares, antes meros colegas, agora como seus subordinados diretos, impactando o relacionamento interpessoal e gerando uma sensação de desconforto e angústia. Isso é muito recorrente em funções operacionais, em especial com líderes oriundos do chão de fábrica.

Porém, o mais comum são aqueles que, a exemplo do meu antigo representante comercial, não enxergam que liderança é uma posição transitória que não se impõe, mas se conquista, e que precisa ser respaldada por competência, legitimidade, sensibilidade, carisma, persuasão e outros fatores. Contudo, assumem a alcunha de “chefes”, com presunção e orgulho, menosprezando colegas e fornecedores, e desperdiçando uma grande oportunidade. [Webinsider]

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Avatar de Tom Coelho

Tom Coelho é educador, palestrante em gestão de pessoas e negócios, escritor com artigos publicados em 17 países e autor de oito livros. Visite www.tomcoelho.com e www.setevidas.com.br.

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3 respostas

  1. Ricardo Semler explica uma forma excepcional de como contratar um gerente.
    O diretor comercial também não soube instruir o novo gerente. Faz parte do trabalho do diretor se comunicar e extrair o melhor de cada pessoa e não apenas trocar, pois pode ter perdido uma pessoa excepcional que só faltava de ajustes.
    87% das empresas se mantem na mediocridade pois no topo estão pessoas medíocres.
    Cenário econômico, dizer que falta mão de obra ou crédito são apenas desculpas para os reais problemas que geram endividamentos e falência de empresas.

  2. A narrativa deixa clara a incompetência do líder que o promoveu sem ao menos prepará-lo para a posição. Assim, “fritou” um profissional que apresentava características interessantes e promissoras.
    Sabe-se que toda a responsabilidade sobre o sucesso dos liderados recai sobre o líder.
    É o líder quem tem que colocar o liderado em posição que possa apresentar melhor rendimento, bem como prepará-lo para assumir funções às quais deseja-se que exerça. Eu demitiria o líder que mal soube se comportar para orientar o liderado, principalmente por esperar o assunto chegar a nível tão crítico que a demissão tenha sido a única saída.

  3. Algumas vezes, um ótimo colaborador acaba não sendo um bom gestor..
    Essa é a dúvida que sempre vamos ter em relação aos colaboradores, mas alguns já dão sinal disso antes mesmo da promoção.

    Belo artigo, parabéns!

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