Bacana o novo leitor de e-books da Amazon (foto). Lançado no início do ano, o Kindle 2 é bem melhor do que a primeira versão, mas… ainda não o quero, muito obrigado.
Prefiro o leitor da Plastic Logic, pois é touchscreen. Como os livros sempre foram, percebem?
E com méritos: aguentam tombos, torções e até água ou café. Fica o borrão, o engilhado, mas isto tem lá o seu charme, não é? São marcas de uma relação íntima, privada, pessoal.
Usar teclado para folhear, anotar e apontar texto não me proporciona a mesma experiência de ler um livro. Pelo contrário, me lembra trabalho. Talvez funcione para livros técnicos (= trabalho), mas não me imagino lendo “O Livro das Ignorãças” numa geringonça dessas. Para começar, pela textura. A capa do volume é rugosa e macia, num tom pastel. Lembra o toque de uma pele, ou de folha, ou de flor. Tem uma presença corpórea própria.
Ao tocá-lo, é como se eu estivesse na presença do autor ou de uma criatura dele, viva. Quase ouço a sua voz nos versos. Ainda na capa tem uma gravura colada, como uma foto num álbum impresso. Parece que foi ele mesmo que grudou a coisa. É um artesanato.
Isso para não falar nas “Memórias Inventadas”, do mesmo Manoel de Barros, que vem numa caixa, as folhas soltas mantidas juntas por uma fita com laço, ilustradas por desenhos da filha dele. É um troço muito pessoal, um tête-a-tête, uma sensação que não consigo imaginar nem no produto da Plastic Logic.
E como todos nós sabemos (ou deveríamos saber), o marketing é mais uma batalha de percepções contextualmente dependentes do que de produtos.
Vamos fazer assim. Posso até ler matérias curtas de revistas, jornais e blogs nos novos gadgets. Livros técnicos e apostilas também (será muito produtivo armazenar anotações, referências cruzadas e poder buscá-las rapidamente).
Mas o Manoel de Barros, o João Cabral de Melo Neto, o Machado de Assis e os outros da turma, eu vou encontrá-los em livros de papel bem desenhados, na sombra, com água fresca, talvez uma lápis para marcar frases geniais, e uma rede para me balançar. Estamos combinados? [Webinsider]
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Héber Sales
Héber Sales (hebersales@gmail.com) é profissional de webmarketing, marketing de busca e webanalytics. Atua na Agência Quanta e mantém o Blog da Quanta e o Twitter @hebersales.
4 respostas
Realmente, alguns livros são obras de arte. Temos que aceitar que algumas coisas melhoram com os livros eletrônicos. Nem por isso deixamos de admirar o trabalho em papel, a pintura, as texturas…
Parabéns pelo artigo.
Concordo com o Rodrigo .
Livros, num futuro que espero próximo, serão tratados como artigos de luxo – eu vejo por mim: hoje, compro livros apenas que gostei de ler e gostaria de ter numa estante.
Acho ebook-readers muito mais práticos :são leves e se quiser posso levar dezenas de livros carregados neles; como qualquer leitor compulsivo sempre tenho 2 ou 3 no criado-mudo, em diversos estágios de leitura; imagina levar esses mesmos liros em papel pra lá e pra cá.
Mais uma coisa que hoje ninguém parece pensar : DISTRIBUIR livros fica muito mais fácil com um e-book reader – livros didáticos , por exemplo, seriam facilmente atualizados.
Admito que aguardo ,com ansiedade, finalmente disponibilizarem os aparelhos nacionalizados nos próximos meses a um preço mais compatível com a nossa realidade ,porque afinal R$ 2500 num Kindle no Mercado Livre beira a insanidade.
[s]
É só uma questão de tempo, na verdade. E de idade. Não, os livros não vão sumir, mas eles vão ser itens de classe. Não haverá mais livros de bolso, os livros serão só aqueles bem encapados para edição de colecionador.
Porque a leitura mesmo, mais cedo ou mais tarde, será feita em telas. Talvez não por nós, mas não sei se as gerações seguintes terão esse mesmo apego ao papel destruidor de árvores.
Matou a charada.
Eu também concordo que há livros e livros, alguns ficarão bem num leitor, ainda que eu jamais deseje um leitor dedicado, meu tablet dá conta disto enquanto eu ouço meus mp3…
E há livros que requerem o contato físico com a obra, se é que podemos dizer assim.
abs